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Linguagem e técnica avançam na TV aberta brasileira, mas conteúdo permanece tradicional

Professores da Metodista e da Cásper Líbero opinam sobre o assunto e a nova lei da TV por assinatura

Por Caio Delcolli

O cinema nunca esteve tão próximo de nossas salas-de-estar. A popularização das TVs em formato retangular, como as de LED e LCD, em decorrência do aumento do poder de compra das classes B e C (dois pilares da audiência televisiva brasileira), refletem bem isso. Os estúdios e emissoras de TV, por sua vez, produzem programas usando técnicas avançadas, de aspecto cinematográfico. A atual novela das nove, “Avenida Brasil”, exibida pela TV Globo, é um bom exemplo disso. Há uso de câmera trêmula, a fotografia e o som são bem trabalhados e por aí vai.

Embora a linguagem e a técnica tenham se modernizado nos últimos anos, há quem diga que as mudanças pararam por aí. “Não vejo uma diferença significativa nas estruturas dos roteiros, ainda se trata da estrutura do folhetim, repetindo clichês e situações comuns, mas com uma roupagem modernizada”, disse o professor Marcelo Briseno, coordenador do curso de Rádio, TV e Internet da Universidade Metodista de São Paulo.

O contrário acontece com as produções brasileiras na TV por assinatura, que apesar de também terem aprimorado tecnicamente, possuem tramas que fogem do costumeiro. Segundo a Ancine, produções independentes como os desenhos animados do Discovery Kids “O Peixonauta” e “Meu Amigãozão”, e a série “Filhos do Carnaval”, da HBO, já têm muitos espectadores e são até exportadas. “As produções nacionais mais sofisticadas e para um público mais qualificado se concentram na TV paga”, comenta Briseno. “A TV aberta de maneira geral ainda continua exibindo programação popular.”

Mauricio Donato, professor mestre do curso de Rádio e TV da Faculdade Cásper Líbero, crê que o Brasil está atrasado na produção televisiva no atual formato.  “No Brasil, o início das pesquisas sobre TV full HD se deram de modo embrionário a partir de 1994 por um grupo de engenheiros. A TV Globo fez seu primeiro teste em full HD com o programa ‘Os Normais’ em 1999. A primeira novela gravada em [formato] 16x9 foi coproduzida pela Casablanca e veiculada na TV Record em 2004”, diz Donato sobre a novela “Metamorphoses”. O professor ainda diz que em 2007 entramos totalmente na era da TV digital. Hoje, os principais nomes de nossa TV produzem em HD.

Enquanto a evolução técnica nem sempre vai ao encontro de conteúdo, paralelamente a essa situação, está a questão do espaço de produções brasileiras em canais fechados. Desde o ano passado está em vigor uma nova lei para a TV paga, cujo objetivo é aumentar a produção e a circulação de produtos audiovisuais nacionais e independentes, determinando que 25% do conteúdo privado deve ser brasileiro. Briseno considera a lei extremamente importante para a propagação de cultura e valores de nosso país. “Também é um incentivo para o mercado de produção audiovisual e valorização do profissional brasileiro.”

A opinião de Donato não está muito distante da do professor da Metodista. “Dessa forma, acredito que melhore a qualidade da produção nacional independente e com isso o telespectador tenha acesso a mais conteúdo qualificado”, opina. A ANATEL (Agência Nacional de Telecomunicações) registrou que 15 milhões de brasileiros têm acesso à TV por assinatura. “As classes menos favorecidas terão acesso a conteúdos mais diversificados e culturalmente mais ricos”, conclui o professor da Cásper.

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