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Folhinha 50 anos: Jornalismo Infantil com idade de adulto

Neste ano, a Folhinha, suplemento de jornalismo infantil da Folha de S. Paulo, completa 50 anos

Por Mônica Miliatti

Uma girafa, um garoto e uma régua, essa foi a equação usada para tirar a curiosidade e de maneira didática ensinar as crianças a perceber a diferença entre o alto e o baixo. Nascia a Folhinha, em 8 de setembro de 63, um dos principais nomes do Jornalismo Infantil brasileiro.

Quando o suplemento nasceu, seu foco era chamar a atenção das crianças de maneira mais lúdica. As primeiras publicações sempre traziam um personagem de desenho animado na capa, como é o caso da edição de 11 de setembro de 66, em comemoração aos 3 anos da Folhinha. Às vezes as capas eram desenhadas pelos próprios leitores mirins, como a edição de 3 de outubro de 71, que tratava da proteção aos animais.

Aos poucos a publicação começou a inserir em seu conteúdo matérias com apelos mais factuais e sérias, mas que interessassem aos pequenos. De acordo com a pesquisadora e doutoranda em Ciências da Comunicação da Universidade de Nova Lisboa, Juliana Doretto, que desenvolve estudos sobre Jornalismo Infantil, a publicação vem trazendo, aos poucos, um conteúdo mais informativo para os pequenos.

Juliana diz que os assuntos foram ficando mais complexos. “De um modo geral, tem se tornado cada vez mais jornalístico. O lúdico e o entretenimento sempre estarão lá, mas há uma tentativa evidente de tornar essa realidade complexa em notícias complexas, mas que a criança consiga entender.”

Por exemplo, no mês de fevereiro, a publicação aproveitou a recente renúncia do Papa Bento XVI, para elaborar uma edição temática, mostrando o que um Papa faz, qual a sua importância, e explicando o acontecimento. Ou então, ao tratar de assuntos como a obesidade infantil, toma cuidado para não assustar ou tornar a matéria chata.

Estudar para desenvolver

Mas esse trabalho jornalístico nem sempre acontece. Embora o jornal tenha sempre se preocupado em oferecer conteúdos diversificados, como espaço para tirinhas, resenhas de livros, lançamento de brinquedos, etc, o enfoque jornalístico varia de acordo com as características e peculiaridades de cada editora-chefe.

Além do tratamento jornalístico, há outro problema que na opinião de Juliana precisa ser resolvido: o regionalismo. Isso acontece por causa das limitações da equipe que elabora o suplemento, “o que vai cerceando o trabalho do jornalista. Ainda que, no caso da Folhinha, elas – porque até agora o jornal só teve editoras – consigam fazer um ótimo trabalho”, diz Juliana.

Apesar das tecnologias digitais passarem a ideia que o impresso seja uma plataforma ultrapassada, na visão da pesquisadora, a oferta de um produto de qualidade impresso às crianças, como as publicações infantis, incentivam à leitura e são, no mínimo, uma opção de plataforma possível para a informação e o entretenimento.

O “determinismo tecnológico” presente na visão de donos de veículos de comunicação, profissionais e acadêmicos leva ao pouco investimento no jornalismo infantil na imprensa brasileira e aos raros estudos científicos. A crença nas mídias digitais como única alternativa e fim para o entretenimento e a informação são um engano, analisa Juliana. “As crianças não vão largar o papel, porque elas nasceram na sociedade do impresso”.

Memória

Para comemorar os 50 anos da Folhinha, o jornal Folha de S. Paulo criou um blog para os leitores de 6 a 60 anos, onde convida a todos para enviar desenhos e histórias relacionadas ao suplemento, além de resgatar as antigas edições da publicação, mostrando capas, matérias, brincadeiras, entre outras coisas.

A cinquentenária Mônica, personagem de Maurício de Souza, é uma das convidadas da festa de aniversário da “Folhinha”, afinal ela também esteve presente em grande parte das edições nessas cinco décadas.

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