Quem tem medo dos neologismos?
José Marques de Melo
Trata-se o presente “Portal” de aventura intelectual que me tem fascinado desde os tempos de estudante de graduação, quando tive consciência da Babel terminológica em que estava me embrenhando, numa área cognitiva em processo de constituição.
Conclui o bacharelado em Jornalismo atônito e confuso, verificando que o linguajar empregado pelos meus professores das disciplinas “básicas” diferia, quando não divergia, dos significados implícitos no conteúdo das matérias “técnicas”, produzindo calafrios cognitivos.
Minha angústia cresceu durante a pós-graduação, particularmente no doutorado, ao perceber que me deparava com uma esfinge político-ideológica e não com uma simples charada lingüístico-literária. Ingressava, portanto, no território controverso dos Neologismos, cujo equacionamento pressupõe universalizar procedimentos narrativos, para prevenir os ruídos ensurdecedores que tornam impossível a cooperação internacional em campos acadêmicos emergentes.
No caso particular do Brasil, onde as aparências enganam, vigora um aparato de gestão estatal de corte republicano, regulado pela Constituição cidadã, democraticamente aprovado pelo parlamento, mas as relações de poder, no interior da máquina gerencial, permanecem intocadas, favorecendo
Assim sendo, as ciências da comunicação enfrentam poderosa barreira cognitiva. Percorrendo o “calvário” institucional decorrente do “coitadismo” que “castra” a inventividade dos jovens pesquisadores, criam-se conflitos insanáveis, num país como o nosso, onde “manda” quem pode e “obedece” quem tem juízo.
Avaliados no “balcão” das agências de fomento pelos consultores científicos que reproduzem os critérios erigidos por funcionários da geração Sucupira, a nova geração fica manietada, sendo induzida a praticar o mimetismo argumentado como “vacina” preventiva ao cultivo da “endogenia” .
Criadores da “divisão de trabalho” vigente no território soft das Humanidades, tais servidores aceitaram sem pestanejar, a inclusão da nossa área na “vala comum” das “ciências sociais aplicadas”, sem levar em consideração sua natureza acadêmica que mescla ciência, arte e tecnologia.
As normas estabelecidas para avaliar os projetos de pesquisa que demandam recursos públicos “ inviabilizam” os projetos holísticos que procuram sintonia com o referencial cognitivo internacional, mas não aceita ficar manietado ao desprezar o conhecimento plasmado pela tradição nacional.
Desta maneira, em mutirão de voluntários como o que dá sustentação motivacional a este projeto, uma das poucas alternativas existentes para não perder de vista a criatividade, é exploração dos neologismos, como está explícito no glossário seguinte:
-Brasileirismo: Originalmente usada para designar os modismos introduzidos na língua portuguesa vigente no Brasil, a palavra foi legitimada para significar a área de estudos brasileiros no mundo acadêmico.
-Brasileiríssimo: Ícone da sociedade brasileira em conjuntura delimitada pelo tempo; personalidade representativa da identidade brasileira num dado momento histórico.
-Brasilianista: Estrangeiro que se dedica ao estudo do Brasil: povo, sociedade e instituições; especialista em temas brasileiros que atua na universidade, serviço público ou instituições midiáticas.
-Brasílico: Precursor do Brasileirismo Comunicacional. Intelectual visionário, atuante no “adiantado da hora”.
-Brasileirista: “Brasileiro de carteirinha”; portador de documento que atesta a cidadania brasileira do imigrante voluntário; estrangeiro que transfere sua residência para o Brasil, legalizando sua naturalização.
-Brasileiraço: Neo-brasileiro porreta como se diz na linguagem popular da Bahia; estrangeiro que exibe provas constantes da sua aculturação, procurando demonstrar que é mais brasileiro do que os cidadãos nativos.
-Brasileirantes: Brasileiros ou brasileiristas que se tornam arautos do Brasil pelo mundo afora; novos bandeirantes que abrem caminhos para divulgar o Brasil no exterior, ministrando cursos, proferindo palestras ou concedendo entrevistas à mídia.
-Brasilógrafos: Estudiosos dos assuntos brasileiros que colhem dados e produzem narrativas de interesse público.
-Brasiliógrafos: Especialistas em bibliografia de referência para os estudos brasileiros.
-Brasilianautas: Pesquisadores de assuntos brasileiros que assumem posições de vanguarda, pilotando “naus” didáticas ou midiáticas que potencializam a presença brasileira na aldeia global.
-Brasiloníricos: Estudiosos de problemas brasileiros que sonham com as imagens do “Brasil potência”, resgatando a promessa do Brasil como “País do Futuro”.
-Brasiliantes: Jovens que iniciam seu aprendizado em estudos brasileiros, geralmente como bolsistas de iniciação, monitores didáticos ou supervisores de equipes estudantis em laboratórios ou agências experimentais.