Você está aqui: Página Inicial / Enciclopédia / Verbetes / América do Sul / Teixeirinha

Teixeirinha

Por Fátima Feliciano

Teixeirinha:

O alegre coração de luto do rei do disco no Brasil

Em uma de suas músicas mais famosas Teixeirinha cantava: “Quem quiser saber quem sou, olha para o céu azul, e grita junto comigo: Viva o Rio Grande do Sul!”. Mais à frente, na mesma música, ele dizia: “O lenço me identifica. Qual a minha procedência?!

Ao final da mesma ‘Querência Amada’, ele proclamava, sem pudor: “Deus é gaúcho. De espora e mango. Foi maragato ou foi chimango. Querência amada. Meu céu de anil. Este Rio Grande gigante. Mais uma estrela brilhante. Na bandeira do Brasil”. (Querência amada, TEIXEIRINHA)

Nada mais Teixeirinha que isso. Teixeirinha era o Rio Grande do Sul.  Ou, pelo menos,  um tipo do Rio Grande do Sul.

Em outra de suas obras primas, ele recordava: “Velho casarão já quase tapera. Da grande figueira sombreando o telhado. Se ela falasse contava a história. De quem te plantou há um século passado. Mas como eu sou neto de quem lhe plantou. Eu conto a história, casarão amado.” (Velho casarão, TEIXEIRINHA)

Foi assim: o gaúcho Teixeirinha nasceu em Rolante (RS). Mas muita gente acha que ele era de Passo Fundo. A dúvida procede. Coisas de Teixeirinha.

Dele a Wikipédia diz que foi Vítor Mateus Teixeira, mais conhecido pelo seu nome artístico de Teixeirinha ou o "Rei do Disco". Um cantor, compositor e ator brasileiro.

‘O Rei do Disco’. Sim. Não tenham dúvida. Teixeirinha já foi um dia ‘O Rei do Disco’ no Brasil. Ou pelo menos, disso se fez fama.

Ele escreveu um dos versos mais cantados de todos os tempos: “O maior golpe do mundo, que eu tive na minha vida, foi quando com nove anos, perdi minha mãe querida”.  (Coração de luto, TEIXEIRINHA).

Foi o suficiente para o compositor ficar conhecido Brasil afora por ‘Coração de Luto’, também conhecida, aqui entre nós, por ‘Churrasquinho de Mãe’. Brasileiro é meio cruel mesmo. A gente sabe. Não perdoou o pobre do Teixeirinha.

E como assim é, se lhe parece, como já dizia o Pirandello, ele ficou mais conhecido pelo sinistro de sua canção mais famosa, do que pelas outras belas canções que compôs. E foram dezenas. Creiam!

Mas, não pensem que ele ficou chateado não. Ele transformou em ouro aquilo que queriam que ele fosse. Tornou-se o cara do ‘Coração de Luto’.

O texto publicado sobre ele pela ‘Fundação Teixeirinha’ diz que ele:

Filho de Saturno Teixeira e Ledurina Mateus Teixeira, teve um irmão e duas irmãs. Aos seis anos de idade perdeu o pai e aos nove anos a mãe, então, órfão foi morar com parentes, mas, estes como não tinham condições de sustentá-lo, para sobreviver saiu pelo mundo a fora fazendo de tudo um pouco, desde carregar malas em portas de pensões, entregar viandas, até vender jornais e doces como ambulante.Com dezesseis anos de idade fez sua certidão de nascimento. Aos dezoito anos se alistou no Exército, mas não chegou a servir e, nesta ocasião foi trabalhar no DAER (Departamento de Estradas de Rodagem/RS), como operador de máquinas durante seis anos. Dali saiu para tentar a carreira artística cantando nas rádios das cidades do interior, como Lajeado, Estrela, Rio Pardo, Santa Cruz do Sul e, nesta última conheceu sua esposa Zoraida Lima Teixeira, com quem casou em 1957. Inicialmente foram morar em Soledade e, em seguida se mudaram para Passo Fundo, onde compraram um “Tiro ao Alvo”, uma espécie de barraca para sorteio de brindes, que era cuidado por ele e sua esposa. À noite Teixeirinha se apresentava na Rádio Municipal de Passo Fundo, cantando e fazendo seus versos de improviso. Vitor e Zoraida nunca se separaram e desta união nasceram às filhas Nancy Margareth, Gessi Elizabeth, Fátima Lisete e Márcia Bernadeth, com as quais o artistas dividiu toda sua vida pessoal e artística.

Em 1959, foi convidado para lançar o seu primeiro 78 rpm. Um ‘bolachão’ super pesado, com as canções ‘Xote Soledade’ e ‘Briga no batizado’. ‘Coração de luto’ foi apenas o lado B do quarto disco gravado por Teixeirinha. O resultado?! Sucesso estrondoso, não só no Rio Grande do Sul. Teixeirinha passava a ser um nome nacional.

Nesse época, voltou a Passo Fundo, onde morava e vendeu o stand de  ‘Tiro ao alvo’ que possuía por lá. Muda-se para Porto Alegre, onde é contratado pela Chantecler Discos.

O projeto original era o de que o artista, mais do que excursionar, morasse em São Paulo. Mas, o coração falou mais alto e ele ficou mesmo no Rio Grande do Sul.

Uma matéria sobre ele na RBS TV contava que ele ...

“Com o dinheiro que ganhou na excursão a São Paulo, comprou uma casa, no bairro da Glória em Porto Alegre, onde viveu toda sua vida, e uma Kombi para excursionar por todo o Brasil. Então, definitivamente Teixeirinha assumiu a carreira artística, passando a trabalhar em circos, parques, teatros, cinemas e demais casas de espetáculos. Como o próprio cantor relatou em uma de suas últimas entrevistas à imprensa: “... onde o povo me pediu para estar, eu fui...” (RBS, 1985).

Em 1963, o ‘Gaúcho Coração do Rio Grande do Sul’, ganhava o Troféu Chico Viola, da TV Record. Troféu super importante mesmo para os padrões da época. O equivalente ao APCA de hoje. Podem acreditar.

Em 1964, escreveu o argumento do filme ‘Coração de Luto’, que seria produzido por Derly Martinez. Recorde de bilheteria. O povo tinha mesmo razão.

Em 1969, foi protagonista no filme “Motorista Sem Limites”, tendo no elenco nomes como Walter D’Avila e Jimmy Pipiolo. O filme foi produzido por Itacir Rossi.

Enquanto isso o cantor continuava a cantar suas canções Brasil afora. Entre elas, ‘Gaúcho de Passo Fundo’, onde ele dizia: “Me perguntaram se eu sou gaúcho. Está na cara,  repare o meu jeito.  Eu sou gaúcho lá de Passo Fundo. Trato todo mundo com muito respeito. Mas se alguém me pisar no pala, meu revolver fala e o bochincho está feito”. (Gaúcho de Passo Fundo, TEIXEIRINHA)

Mas isso era só da boca pra fora. Teixeirinha, pelo que se sabe, era de paz.

Em 1970,  ele criou sua própria produtora, “Teixeirinha Produções Artísticas Ltda. Nela escreveu, produziu e distribuiu dez filmes: “Ela Tornou-se Freira” (1972); “Teixeirinha, 7  Provas” (1973); “Pobre João” (1974); “A Quadrilha do Perna Dura” (1975); “Carmem a Cigana (1976); “O Gaúcho de Passo Fundo”(1978) ; “Meu Pobre Coração de Luto”(1978); Na trilha da Justiça (1978); “Tropeiro Velho” (1980); “A Filha de Iemanjá” (1981).

Durante vinte anos, o artista apresentou programas de rádio diariamente com duas edições: “Teixeirinha Amanhece Cantando” (pela manhã) e “Teixeirinha Comanda o Espetáculo” (à noite). E,  como ninguém é de ferro,  aos domingos pela manhã tinha o programa “Teixeirinha canta para o Brasil”,  com transmissão da capital gaúcha para o interior e outros estados brasileiros.

Recebeu nove discos de ouro, foi cidadão emérito de vários municípios como Passo Fundo, Santo Antônio da Patrulha, Rolante, entre outros.  

Em 1973, foi contratado para fazer quinze apresentações nos Estados Unidos da América. Em 1975, foi para o Canadá, onde realizou dezoito espetáculos. Fez shows na maioria dos países da América do Sul.

Durante vinte e dois anos de carreira Mary Terezinha lhe acompanhou com o acordeom em shows, rádio e cinema.

Gravou 49 LPs inéditos, somando mais de 70 LPs, incluindo regravações, que atualmente estão sendo reeditados em disco laser. Gravou mais de 758 músicas de sua autoria, deixando um acervo superior a 1.200 composições, incluindo algumas inéditas.

Teixeirinha, de outros relacionamentos, ainda teve os filhos: Sirley Marisa; Líria Luisa; Victor Filho; Alexandre e Liane.

Teixeirinha faleceu dia 4 de dezembro de 1985, e está sepultado no Cemitério da Santa Casa, quadra número 4, túmulo número 4, na capital gaúcha.

E também da morte Teixeirinha zombou em uma canção:

“Aos que eu quero bem. Não é preciso choro, sorriam para mim. Responde em meu silêncio, depois o padre vem. Encomendar meu corpo pra Deus lá no infinito. Depois peguem nas alças, carreguem o meu caixão. Me levem por favor pra última morada. Cantando a minha música de gaita e violão.” (A morte não marca hora, TEIXEIRINHA)

E finalizava: “Cantar foi o que eu fiz quando na terra andei. Chame pelo meu nome, quem precisar de mim. Se Deus me der licença, contigo eu estarei.”

Alguém tem dúvida de que ele está por aí, ainda?! Olha o que ele disse em outra canção: “Adeus, amigos companheiros de serestas. Eu me despeço esta noite dos senhores. Levo lembranças, recordações das nossas festas. Das serenatas, noites lindas, tantos amores”

Sim. O homem do coração de luto era, no fundo, um grande romântico.

Comunicar erros