Luiz Amaral
Luiz Amaral, um dos pioneiros dos livros sobre jornalismo
Luiz Artur Ferraretto - Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Sem nunca ter sido professor universitário, o baiano Luiz Amaral formou milhares de jornalistas. Integrante da primeira geração de autores a tratar do tema com uma finalidade quase pedagógica, lançou Jornalismo, matéria de primeira página (1966) e Técnica de jornal e periódico (1968), obras que, nas duas décadas seguintes, fariam parte da bibliografia dos cursos de graduação da área de Comunicação Social. Em ambos, procura levar para o leitor a experiência acumulada por ele em publicações do Rio de Janeiro como O Jornal, Diário da Noite, Última Hora, Revista da Semana e Jornal do Commercio, além do conhecimento obtido como bolsista no Centre de Formation des Journalistes (CFJ), em Paris. Há ainda a experiência, mesmo que efêmera, como repórter da Rádio Quitandinha, de Petrópolis.
De 1970 a 1979, a voz do jornalista baiano vai servir à divulgação cultural e informativa do serviço em português para o Brasil da Société Suisse de Radiodiffusion et Télévision, em Berna. Na Emissora Nacional Suíça, Amaral participa dos programas irradiados às 12h15 e às 20h, horário de Brasília. Aproveitando a estada na Europa, estuda Sociologia da Comunicação no Instituto Superior de Ciências Sociais e Política Ultramarina, em Lisboa, sob a direção do professor-doutor José Júlio Gonçalves. Por sugestão do professor José Marques de Melo e aproveitando a experiência deste período, produz o ensaio Meios de comunicação de massa suíços: quatro línguas pela unidade, publicado em 1977 pela Universidade de São Paulo.
Em 1979, ensaia a troca da Emissora Nacional Suíça pela Voz da América, do governo dos Estados Unidos. No entanto, a situação economicamente desfavorável que encontra em Washington e a vontade de voltar ao Brasil fazem com que aceite um convite para trabalhar na Fundação Nacional do Índio (Funai). Em 1984, novo convite da Voz da América, desta vez em bases mais favoráveis, leva o jornalista de volta ao rádio. Acompanha, assim, os governos de Ronald Reagan, George Bush, Bill Clinton e George W. Bush, tendo por pano de fundo o processo que leva ao término da Guerra Fria e o rearranjo das forças mundiais após a dissolução da União Soviética, razão maior da própria existência dos serviços em outros idiomas mantidos pela emissora do governo dos Estados Unidos. Na época, escreve Esses repórteres..., lançado em 1994, uma coletânea de pequenas histórias – por vezes com tom humorístico – envolvendo jornalistas. Ao lançar o livro em Porto Alegre, Amaral é convidado pelo presidente da Associação Rio-grandense de Imprensa, Antônio Firmo de Oliveira Gonzalez, para que produza uma novo obra. Assim, no ano seguinte, publica A objetividade jornalística:
A questão é saber se é possível, e em que grau, o ser humano descrever as coisas como elas realmente são. Independentemente da relação que temos com elas. É saber se, de fato, a objetividade é um caminho para a verdade e a realidade. (AMARAL, 1996, p. 18).
Em pararelo, segue na Voz da América, produzindo boletins que são reproduzidas em dezenas de emissoras brasileiras, além de participar da programação em ondas curtas da emissora. Em 2001, com a Guerra Fria apenas como recordação, o serviço em português é desativado, o que significa o início da aposentadoria de Luiz Amaral.
O jornalista baiano nasceu na localidade de Rio do Braço, atual município de Ilhéus, em 11 de novembro de 1929, e faleceu no Rio de Janeiro (RJ), em 14 de janeiro de 2015.
Referências
AMARAL, Luiz. Técnica de jornal e periódico. 3.ed. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1982. 262p.
_____. Meio de comunicação suíços: quatro línguas pela unidade. São Paulo: Universidade de São Paulo, 1977.
_____. Jornalismo: matéria de primeira página. 4.ed. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1986. 240p. (Temas de Todo Tempo, 6).
_____. Esses repórteres... Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1994. 198p.
_____. A objetividade jornalística. Porto Alegre: Sagra DC-Luzzatto, 1996. 98p.
FERRARETTO, Luiz Artur. “De Washington, Luiz Amaral”. In: KLÖCKNER, Luciano; PRATA, Nair (Org.). História da mídia sonora: experiências, memórias e afetos de Norte a Sul do Brasil. Porto Alegre: Editora da PUCRS, 2009. p. 282-298. Disponível em: <http://www.pucrs.br/edipucrs/midiasonora.pdf>.
RÁDIO BANDEIRANTES AM. Rádio Livre, Porto Alegre, set. 1994. Programa de rádio.