Juscelino Kubitschek
Juscelino Kubitschek: o presidente visionário
O menino Nonô e o médico Juscelino
Filho da professora Júlia Kubitschek de Oliveira e do caixeiro viajante João César de Oliveira, e irmão de Naná, Juscelino Kubitschek de Oliveira nasceu no dia 12 de setembro de 1902, em Diamantina, em Minas Gerais. Seu pai faleceu quando tinha penas dois anos de idade. Na época, sua mãe passou por dificuldades financeiras, fazendo com que Nonô, como era chamado pela família, passasse a trabalhar desde os dez anos de idade, como entregador de compras.
Juscelino iniciou os estudos com a mãe, em seguida, foi para o seminário dos padres Lazaristas. Mesmo sem intenção de seguir o sacerdócio, foi no seminário que delineou as ideias e sonhos de ser médico. Como não havia o curso superior em Dimantina, surge a precisão de mudar para Minas Gerais. Suas aspirações, porém, esbarravam na falta de recursos para se manter em outra cidade.
Em 1919, foi aprovado para o concurso de telegrafista dos Correios de Belo Horizonte, atividade que continuou no período noturno e o ajudou nas despesas, após ser aprovado para o curso de Medicina na Universidade de Minas Gerais. A formatura foi no ano de 1927.
Júlio Soares, Dr. Júlio, amigo, companheiro e confidente, aliado em família - pois casou-se com sua irmã - e na medicina, foi quem deu o primeiro suporte para que Nonô iniciasse as atividades como médico. Em 1930, especializou-se em urologia, após sete meses na Europa, em hospitais na França e Alemanha.
Um ano depois, Juscelino Kubitschek passou a oficial médico da Força Pública de Minas Gerais. No mesmo ano casou com Sarah Luiza Gomes de Lemos, filha do então deputado Jaime Gomes de Lemos e da senhora Luísa Negrão, cujo casamento lhe dera as filhas Márcia e Maria Estela (HOMENS À FRENTE DE SEU TEMPO, 2004, p. 11).
Sarah pertencia a um a família importante. Mas diferença econômica entre os dois não se tornou empecilho para que o namoro prosseguisse, até mesmo por conta da profissão que escolhera.
Em plena Revolução Constitucionalista, em 1932, o capitão-médico Juscelino faz parte do primeiro batalhão expedicionário da Força Pública, sendo enviado para a região do Túnel da Mantiqueira, Sul de Minas. Durante esse período, exerceu a medicina em condições precárias. “Improvisou, inventou, tentou fazer mais do que o possível para ajudar todos”. (COUTO, 2011, p. 58).
Como médico, Juscelino ganhou notoriedade junto ao povo, e apesar do destaque e grande envolvimento na profissão, foi na política que ganhou popularidade. Ao longo de sua trajetória, realizou três governos: prefeito de Belo Horizonte, governador de Minas Gerais e presidente da República, além disso, ocupou outros cargos que elevaram sua imagem de político.
Nas palavras de Francisco Viana (2006), JK era inquieto, extrovertido e comunicativo. “O segredo de Kubitschek era saber dosar energia realizadora com sentimento poético. ‘Ninguém suporta homem árido’, dizia” (VIANA, 2006). Sua inquietude o levou a escrever 22 livros, entre eles os volumes onde descreve suas memórias: Meu caminho para a Brasília.
O político mineiro marcou sua história no Brasil de duas formas distintas. Primeiro como homem autêntico, hábil, popular e de artimanhas inimagináveis para construção de grandiosas obras de incentivo à industrialização. Ao mesmo tempo, em que pode ser classificado como mau governante, que onerou os cofres públicos e que fez inacreditáveis alianças partidárias, sendo alvo de críticas e acusações.
Depois de muita história construída no Brasil e como mentor de mudanças substanciais na vida dos brasileiros, JK morre em 22 de agosto de 1976, em acidente de carro no km 165 da Via Dutra, em viagem de São Paulo para o Rio de Janeiro.
Na política: secretário, deputado federal, prefeito e governador
A entrada de Juscelino Kubitschek na política foi pelo cargo de secretário da Interventoria de Minas Gerais, equivalente ao atual cargo de secretário de Governo, após convite insistente de Benedito Valadares, à época interventor do Estado de Minas Gerais. JK declara, em suas memórias, as mudanças em sua vida durante o período de transição entre as atividades médicas e políticas:
Uma grande porta havia sido aberta. E, através dela, eu tinha sido quase empurrado. O que encontrei do outro lado não deixou de me surpreender. Até então, estava habituado ao anonimato das salas cirúrgicas [...]. Senti, de repente, ao ingressar na vida política, uma profunda modificação. O que fazia e o que deixava de fazer alcançavam [sic] ressonância. Deveria eu transformar-me, igualmente, para me adaptar àquele universo? No remoto ano de 1933 tudo ainda era tênue. O horizonte ainda estava muito baixo e as perspectivas bem reduzidas. O cargo que eu ocupava era de natureza política, sem que a política me atraísse. (KUBITSCHEK, 2014a, p.223-224)
Inicialmente, tenta conciliar o consultório de médico e a política. Mas, não consegue fugir do caminho que começava a trilhar. “Logo se impõe como executivo dinâmico e hábil articulado e negociado, capaz de se entender com todos” (COUTO, 2011, p. 65).
Após a projeção que tivera como secretário de governo, JK disputou sua primeira eleição em outubro de 1934, sendo eleito o deputado federal mais votado em Minas Gerais. Mas, perdeu o mandato em novembro de 1937, quando o golpe do Estado Novo fecha a Câmara e o Senado. O contexto político do Estado Novo abrigava a truculência do regime policial como também conquistas importantes para o país como a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e o início da modernização do parque industrial brasileiro.
Com a perda do mandato de deputado federal, Juscelino voltou para Belo Horizonte e retomou a atuação como médico, “com tal empenho e sucesso que parecia ter varrido a política de sua vida. Ainda resistiu quando Benedito Valadares lhe ofereceu a prefeitura da capital, em fevereiro de 1940 – mas o governador o nomeou mesmo assim, em 16 de abril” (WERNECK, 2002, p. 23).
O prefeito JK anunciou que não iria governar do gabinete e sim das ruas. Tinha, à época, 37 anos, assumindo o apelido de “prefeito furacão”. Segundo Werneck (2002), Juscelino mudou a cara da cidade, criou e ampliou bairros, e movimentou a área cultural, e construiu, com projeto do arquiteto Oscar Niemeyer, o conjunto arquitetônico da Pampulha.
Segundo Couto (2011, p. 80), foi como prefeito que Juscelino revelou-se como homem de ação e empreendedor público. “Projeta, executa, fiscaliza, avalia, inaugura, divulga. Nova mentalidade, novo modo de governar”.
O próprio Juscelino, em suas memórias, gaba-se do seu jeito inovador de ser e das ideias da modernização de Belo Horizonte, à época com 200 mil habitantes, citando o caso da construção de uma avenida em apenas três dias, após saber da notícia que Getúlio Vagas iria visitar a cidade:
Uma avenida construída em três dias. O fato era incomum no Brasil e principalmente em Minas, onde as obras públicas se arrastavam através de sucessivos governos. Revelo o fato não por vangloria ou autopromoção. Mas para ressaltar esta particularidade do meu temperamento: a capacidade de adaptar-me a qualquer gênero de trabalho[...]. De um momento para outro, porém, tomei um rumo diferente: em vez de médico passei a ser político. Mas o homem que existia em mim não sofreu a menor alteração. Assim, não me senti frustrado em face dessa troca de atividade. Se olhava em torno de mim, constatava que o cenário dentro do qual me movia era igualmente bem diferente. E diferente para melhor. Estaca casado; residia numa bonita casa, construída por mim mesmo. Nunca me assentava à mesa sem que tivesse, como convidado, um dos meus numerosos amigos. (KUBITSCHEK, 2014b, p. 50)
Em 1945, JK funda o Partido Social Democrático (PSD) de Minas Gerais e, no ano seguinte, eleito deputado federal para a Constituinte. “Um olho nas funções de deputado-constituinte, outro nas eleições de outubro de 1950 para o Palácio da Liberdade” (COUTO, 2011, p. 91).
A posse como governador de Minas Gerais foi em 31 de janeiro de 1951. No Palácio da Liberdade, Milton Campos, seu antecessor, fez um discurso para transmissão do cargo para Juscelino, que contava com a presença da família: esposa Sarah, filhas Márcia e Maria Estela, a mãe Dona Júlia, irmã Naná, cunhado Júlio Soares e as tias Conceição e Emilinha.
O espírito inovador de Juscelino também se destacou no tempo em que esteve no governo de Minas Gerais. O “governador a jato” investiu na criação de escolas, geração e distribuição de energia elétrica, criou a Centrais Elétricas de Minas Gerais (Cemig), e na malha rodoviária, facilitando a industrialização. Com apoio de Getúlio Vargas, viabilizou a implantação do complexo industrial de capital alemão, Companhia Siderúrgica Mannesmann.
JK: o presidente da República
Estar no Governo de Minas Gerais parecia ainda pouco para o tamanho pretensão do mineiro Nonô. Ele aspirou e conseguiu chegar ao Palácio do Catete, sede Presidência da República, no Rio de Janeiro.
Foi em março de 1955 que ele deixou o Governo de Minas para concorrer ao cargo de presidente. A chapa formada por Juscelino, do PSD, e João Goulart, o Jango, do PTB, prometia um ritmo de crescimento acelerado para o país equivalente a 50 anos em apenas cinco de mandato.
Como presidente eleito, aos 53 anos de idade, fez uma longa viagem pela Europa e pelos Estados Unidos, visitou presidentes, chefes de governo e até o papa. Nos primeiros dias de mandato, anuncia a criação do Conselho de Desenvolvimento e lança o arrojado Programa de Metas, com políticas setoriais e investimentos de infraestrutura, elaborado sob sua supervisão e coordenado por Lucas Lopes e Roberto de Oliveira Campos.
O Plano de Metas envolvia áreas como energia elétrica, nuclear, carvão, produção e refino de petróleo; transportes: construção e reequipamento de estradas de ferro, rodagem, marinha, portos, barragens; alimentação; indústrias de base; educação e a construção de Brasília (COUTO, 2011, p. 144).
As propostas de JK tinham voo alto. Para realizá-las, era preciso capital estrangeiro, por meio de linhas de crédito oferecidas a empresários pelo BNDE. A gestão desenvolvimentista teve um preço, ocasionou inflação alta e contas externas para o Brasil.
A administração JK não só se envolveu com as maiores fortunas do país, como também precisou pedir dinheiro aos bancos europeus e japoneses, uma vez que o aporte inicial de capital americano era insuficiente para a execução o Plano de Metas. A abertura de crédito nesses novos mercados gerou sucessivas indisposições entre o Brasil e os Estados Unidos, culminando com a ruptura com o FMI, em junho de 1959. E foi assim que entre mortos e feridos, o governo JK chegou ao final: boa parte das metas fora alcançada; outras até haviam sido superadas (COHEN, 2007, p. 72)
Juscelino era considerado como um presidente feliz, com sorriso largo e de atitudes informais, como sentar na escadaria no baile da sua posse. “JK era um político que transitava entre a intimidade e a exposição pública sem trocar de personagem [...]. Pé-de-valsa como o pai Júlio César, foi o melhor professor de dança com que as filhas Márcia e Maria Estela poderiam sonhar” (WERNECK, 2002, p. 38).
Nas palavras de Werneck (2002), Juscelino era seresteiro, não perdia oportunidade de soltar uma voz, que tinha sempre uma nota de entusiasmo e emoção, sobretudo quando se tratava da música “Peixe Vivo”, o clássico do cancioneiro que acabou virando uma espécie de hino para ele. Juscelino também era sedutor e manteve casos extras conjugais, entre eles, com Maria Lúcia, viúva do deputado José Pedroso, líder do PSD.
De fato, era um homem obstinado. A construção de Brasília foi um projeto encabeçado por Juscelino. Justificava que não havia qualquer motivação de natureza pessoal e sim um impulso de bandeirismo, tendo como objetivo o deslocamento da fronteira demográfica.
Juscelino descreve sua emoção em ver Brasília, a nova capital do país, sendo inaugurada: “vivi, naquele 21 de abril de 1960, as maiores emoções de minha vida. O caminho, longamente trilhado a serviço do meu país, atingira uma eminência que me permitia ter uma visão de conjunto do que, até então, conseguira realizar”. (KUBITSCHEK, 2014c, p.410). Para ele, o momento era de transição:
Brasília fora o marco que assinalara a fronteira que separava dois Brasis. De um lado, ficara uma Nação de 460 anos, litorânea, rotineira, pessimista, subdesenvolvida; e, de outro, nascida no dia 21 de abril, uma outra audaz, corajosa, confiante, otimista e, sobretudo, atrevida (p.416).
O presidente considerava que o momento era de consolidação da democracia e desmoralização dos golpistas de 1955. Entretanto, descreve que não foi interpretado dessa forma: “se por um lado muito me fortalecia perante a opinião pública, dera origem, por outro, a uma desconfiança, nos círculos oposicionistas, de que eu pretendia aproveitar a circunstância de me encontrar no auge da popularidade para golpear a Constituição”. (KUBITSCHEK, 2014c, p.411).
Senado, exílio e morte
O Governo de JK dura até o ano de 1961. No dia 31 de janeiro passa a faixa presidencial para o seu sucessor, Jânio Quadros, que faz um discurso crítico, transmitido pela rádio e televisão, queixando-se da dívida externa herdada e inflação alta.
Entretanto, com a popularidade em ascensão, após a saída da Presidência, Juscelino é eleito senador por Goiás, nas eleições de 4 de junho de 1961, vencendo o candidato apoiado pelo presidente Jânio Quadros, Wagner Estelita Campos. No Senado, foram quase três anos e, durante esse tempo, já existia uma expedição para o seu retorno ao Palácio do Planalto em 1965. Mas a campanha JK-65 teve que ser abortada.
Ele permanece como senador até 8 de junho de 1964, quando tem seus direitos políticos cassados pelo presidente Castello Branco. E no dia 14 de junho inicia seu exílio político, em Madri, na Espanha, passando também por Paris, Nova York e Lisboa. Antes de embarcar, levado nos ombros do povo, declara:
Deixo o Brasil porque essa é a melhor forma de exprimir o meu protesto contra a violência que fui vítima e, ainda, porque não subsistem neste instante, no país, as condições mínimas que me permitam prosseguir na luta de que jamais desertei, pela preservação das instituições democráticas. (apud COUTO, 2011, p. 195).
Couto (2011) afirma que o exílio trouxe a Juscelino mágoa, tristeza e saudade da família, amigos e da amante Maria Lúcia Pedroso. Nos países por onde passou proferia conferências rentáveis em universidades e centros de estudos europeus e norte-americanos. Permaneceu na situação de exilado até a data de 9 de abril de 1967, quando retorna definitivamente ao Brasil. Antes disso, em junho de 1966, esteve de passagem no país em decorrência à morte de sua irmã Naná devido a um problema pulmonar.
Após a volta ao Brasil, JK funda a Frente Ampla de Oposição, juntamente com Carlos Lacerda e João Goulart. No início dos anos 70, encorajado pelo amigo Adolpho Bloch a dar expediente na redação da revista Manchete, escrevendo resenhas de livros. Juscelino tinha regalias, segundo Cohen (2007, p. 89), almoçava à beira da piscina, tinha motorista e cozinheira à disposição. Recebia jornalistas e visitantes em meio às obras de arte do dono da editora. No ano de 1974, Juscelino foi eleito para a Academia Mineira de Letras.
No dia da sua morte, domingo, 22 de agosto de 1976, Juscelino tomou café da manhã na Manchete, entrou num carro da Editora Bloch, dirigido pelo motorista Geraldo Ribeiro, e no caminho sofreram um acidente. As mortes até os dias de hoje são questionadas. Dúvidas sobre as causas e suspeitas de homicídio, nunca provadas, são cogitadas.
De fato, a tragédia comoveu o país: o comércio em Brasília fechou as portas, em Belo Horizonte foi decretado luto por três dias, bandeiras foram hasteadas e os brasileiros ficaram abalados. Morria o presidente visionário.
Referências Bibliográficas
COHEN, Marleine. Juscelino Kubitschek.: Um Bandeirante na Trilha da Modernidade. IN: FIGUEREDO, Ney Lima (org.). Políticos ao entardecer: Poder e dinheiro no outono de Vargas, JK, Geisel, Café Filho, Brizola. São Paulo: Editora Cultura, 2007. 320 p. pp-59-99.
COUTO, Ronaldo Costa. Juscelino Kubitschek. Brasília: Câmara dos Deputados, Edições Câmara: Senado Federal, Edições Técnicas, 2011.
HOMENS À FRENTE DE SEU TEMPO: Juscelino Kubitschek. Governo do Distrito Federal, Secretaria de Estado de Cultura, Arquivo Público do Distrito Federal. Série Textual, 2. Brasília: Arquivo Público do Distrito Federal, 2004.
KUBISTSCHEK, Juscelino. Meu caminho para Brasília: A experiência da humildade. V. 201-A. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2014a. 1v.
KUBISTSCHEK, Juscelino. Meu caminho para Brasília: A escalada política. V. 201-B. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2014b. 2v.
KUBISTSCHEK, Juscelino. Meu caminho para Brasília: 50 anos em 5. V. 201-C. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2014c. 3v.
VIANA, Francisco. JK: A saga de um herói brasileiro. São Paulo: Companhia Editora Nacional, Lazuli Editora, 2006.
WERNECK, Humberto. Juscelino Kubistchek: o tocador de sonhos/ texto, Humberto Werneck; edição de fotos Pulo Cesar de Azevedo. – São Paulo: Fundação Odebrecht: Brasília, DF: Fundação Banco do Brasil, 2002.
Anexo - Autobiografia sumária
Tyciane Cronemberger Viana Vaz
A vontade de ser jornalista era um sonho de criança, motivada por trabalhos escolares, em que brincava de ser repórter. Essa aspiração foi alcançada em 2005 quando graduou-se em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal do Piauí, sendo laureada pela instituição.
Logo nos primeiros anos do curso, começou a trabalhar com estagiária em portais de notícias do Piauí. A primeira experiência com o mercado de trabalho foi na editoria de política, durante a cobertura das eleições de 2002. Era uma novidade trabalhar com webjornalismo, já que essa disciplina ainda nem fazia parte da grade curricular do curso. Depois dessa experiência, passou a estagiar no Jornal Meio Norte, onde escreveu para editorias de Cidades, Política e Infantil. E em seguida, atuou como assessora de Comunicação da Prefeitura de Teresina, permanecendo até sua mudança para São Paulo.
Cursar o mestrado não estava nos planos iniciais quando decidiu ser jornalista. A entrada para a vida acadêmica foi um caminho que lhe foi apresentado quando cursou a Pós-Graduação em Telejornalismo, na Universidade Federal do Piauí, e fez um trabalho sobre a inserção dos telejornais no ensino das escolas públicas. À época surgiu o interesse pela pesquisa, aliado a uma desmotivação pelo mercado de trabalho local.
Então veio a escolha pela Universidade Metodista de São Paulo, e a vontade de ser orientada pelo professor José Marques de Melo. Com a aprovação para o curso stricto sensu, surge junto o desafio de estudar os gêneros jornalísticos com o grande mestre e tutor nesta área.
O mestrado, defendido no ano de 2009, resultou na dissertação: Jornalismo de Serviço: o gênero utilitário na imprensa brasileira. Nesta pesquisa, o gênero utilitário foi analisado, por meio de estudo de casos da revista Veja e jornal Folha de São Paulo, os veículos de maior circulação no país.
Além de examinar diacronicamente o tratamento dado pelos periódicos aos serviços demandados pelos leitores, a pesquisadora focalizou de maneira sincrônica os formatos e tipos das mensagens que preenchem as necessidades de consumo e ajudam a tomar decisões na vida cotidiana. Oferece, dessa maneira, suporte metodológico para a reprodução dessa modalidade de pesquisa em outros veículos e em outras situações existenciais. (MARQUES DE MELO, 2012, p. 239).
Pela impossibilidade de esgotamento do tema e por incentivo do professor e orientador José Marques de Melo, prosseguiu o debate no doutorado, realizando o estudo: Jornalismo Utilitário: Teoria e Prática – Fundamentos, História e Modalidades de Serviço na Imprensa Brasileira, durante os anos de 2010 a 2013.
Com o objetivo de compreender as características e formas do gênero utilitário, o estudo qualitativo com jornais de referência ao longo da história da imprensa do país, desde 1808, verificando-se ao final que a evolução do gênero se dá de três formas não excludentes: 1. Publicação dos serviços práticos no início da imprensa no Brasil; 2. A produção dos conselhos úteis, em destaque no século XX; 3. O gênero utilitário como complemento de outros gêneros, prática comum na imprensa do século XXI. A pesquisa contribui, ao final, com uma taxionomia do gênero analisado.
Em verbete sobre a vida acadêmica da autobiografada, Ranielle Moura (2013) retrata: “ao trabalhar o gênero utilitário, reafirma a responsabilidade social e a função de ‘guia’ inerente aos meios de comunicação, com destaque para os veículos impressos”. Também diz que “através de suas reflexões, percebe-se o jornalismo de serviço como um gênero independente e casa vez mais presente na mídia brasileira” (MOURA, 2013, p. 120).
O gênero utilitário foi retratado também em capítulo na obra Gêneros Jornalísticos no Brasil, organizada por José Marques de Melo e Francisco de Assis. O livro é composto por vários artigos sob a supervisão do professor Marques de Melo no âmbito de atividades acadêmicas, no Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Universidade Metodista de São Paulo.
Durante o período em que residiu em São Paulo, por oito anos, além de concluir os cursos de mestrado e doutorado, dedicou-se tanto ao mercado de trabalho como a vida de professora e pesquisadora. Lecionou nos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Universidade Nove de Julho, prestou serviços para cursos de Pós-Graduação à distância no Complexo Educacional FMU, em disciplinas como Planejamento de Marketing Digital e Metodologia da Pesquisa em Redes Sociais., e participou de diversos projetos coordenados pelo professor José Marques de Melo, na Cátedra Unesco de Comunicação e na Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação - Intercom, como por exemplo, o Pensamento Comunicacional Brasileiro e Fortuna Crítica.
Em São Paulo, também trabalhou como frelancer na Editora Abril, escrevendo principalmente para revistas femininas voltadas para o público Classe C, como AnaMaria. E teve experiência prestando serviços à agência Máquina da Notícia, como analista de redes sociais, e como jornalista do quadro funcional da Câmara Municipal de Guarulhos.
Atualmente, mora em Brasília e trabalha no Senado Federal, respondendo pela assessoria de comunicação de um senador. É diretora de Comunicação da Associação Brasileira de Pesquisadores de História da Mídia – ALCAR, edita o jornal ALCAR, e é professora bolsista da Universidade Aberta do Brasil, pelo Centro de Educação Aberta e Distância, no curso de especialização de Gestão Educacional em Rede, da Universidade Federal do Piauí.
Contato: tycianevaz@gmail.com
Referências
MARQUES DE MELO, José. História do Jornalismo: Itinerário crítico, mosaico contextual. São Paulo: Paulus, 2012.
MOURA, Ranielle Leal. Tyciane Cronemberger Viana Vaz. In: MELO, J. M. de; RÊGO, A. R.; TARGINO, M. das G.; CASTELO BRANCO, S. (Org.). Pensa.Com Piauí. Teresina: Edufpi, 2013. 168 p. p. 119-122.