João do Rio
Entre ser dândi, flâneur e militante, um carioca chamado João do Rio
Fabiano Ormaneze*
O Brasil ainda era um Império e assim permaneceria por mais uma década, quando, na Rua do Hospício (hoje Rua Buenos Aires, no Centro do Rio de Janeiro), 284, não muito longe da Central do Brasil, nasceu João Paulo Alberto Coelho Barreto, na sexta-feira, 5 de agosto de 1881. A então Capital Federal era uma cidade com cerca de 280 mil habitantes. A Zona Sul, endereço sofisticado e cartão-postal a partir da segunda metade do século 20, ainda era um território de poucas chácaras e raros habitantes. O Rio da época, praticamente, restringia-se à área entre o Largo do Machado e a Praça 11, no Centro Histórico. Havia pouco, tinham sido instaladas linhas de bonde até a Tijuca e, gradualmente, elas ajudavam a aumentar o perímetro urbano. Não havia ainda o Porto. Os navios atracavam no Cais Pharoux (hoje Praça 15). Dos habitantes da cidade, 20% eram escravos e 30% estrangeiros, que, se não descendentes dos que emigraram com a Família Real em 1808, tinham desembarcado no País a partir de 1880, como trabalhadores rurais ou pequenos comerciantes.
Na residência do futuro escritor, viviam o pai, Alfredo Coelho Barreto, e a mãe, Florência. Ele, professor; ela, sua aluna. Conheceram-se num curso em que rapazes com posses dedicavam-se a ensinar meninas pobres. Apaixonaram-se e casaram em 1877. No dia da cerimônia, Alfredo tinha 23 anos e Florência mal atingira os 15. Assim como boa parte dos dados biográficos de João, a narrativa sobre o casamento dos pais também só é possível em razão de pistas que ele mesmo dá em várias de suas crônicas. Sobre o pai, lembra que “era um pobre professor de matemática”, que “viu-se, aos 13 anos, ao cursar o primeiro ano da Escola Central, na miséria, porque o pai morreu de congestão em véspera de certa combinação na Bolsa”[1]. Florência era a segunda de uma família de quatro filhas, de mãe mulata casada com um médico.
O Rio de Janeiro estava agitado naquele início de década. Um jovem, José do Patrocínio (1853-1905), inflava seus discursos em comícios pela Campanha Abolicionista e a família Barreto se envolvia na causa. Dona Gabriela, mãe de Florência, juntava economias e as entregava a negros para que comprassem sua alforria, como mostram documentos hoje na Biblioteca Nacional. Num deles, por exemplo, consta que o próprio Patrocínio assinou recibo de 400 mil réis de uma doação, destinada a dar alforria a uma mulher.
O menino Paulo Barreto estudou no Colégio do Mosteiro de São Bento e, por lá, ingressou no mundo das letras, num jornal de estudantes, chamado O Ensaio. “O mais idiota dos rapazolas colegas fizera-se redator-chefe. Um outro (…), tesoureiro. E esse bando de pirralhos, apesar de não ter aprendido português, doutrinava, soneteava, cantava. (…) Eu, grande jogador de pelota basca, imaginando frontões a cada parede, ria daquele dogmatismo, e, de uma feita, também quis escrever, por despeito. Escrevi.”[2]. Paulo tinha, à época, 12 anos. A escravidão acabara havia pouco e o Brasil era uma República recém-nascida.
Aos 15 anos, ingressou no Ginásio Nacional para estudar Letras. O pai, no entanto, desejava que ele e o irmão caçula, Bernard, seguissem carreira na Marinha. Ambos tinham, no entanto, “saúde frágil e não possuíam porte adequado” (RODRIGUES, 1996, p. 28). Bernard morreu logo depois, em 1898. Herdando os cuidados extremos da família, Paulo chegou à idade adulta com uma série de divergências com o pai, principalmente em relação aos preceitos católicos e positivas, defendidos a todo custo pelo progenitor.
O interesse pelo mundo literário foi acompanhado da convivência com já grandes nomes da literatura nacional. “Eu era um menino de primeiras letras e já conhecia Bilac”, relata em texto incluído na coletânea Ramo do Loiro, de 1921. Em 1897, Paulo descobriu o teatro. Conseguiu, por influência de um amigo da família, assistir, da coxia, à peça A Capital Federal, escrita por Artur Azevedo (1855-1908), considerado por ele “o homem que (…) queria ser aos 11 anos” e de quem “sabia pedaços de suas comédias” (RODRIGUES, 1996).
As poucas posses deram aos Barreto muitos endereços, habitando casas em conhecidas ruas do Rio de Janeiro. O mundo formal do trabalho chegou para Paulo próximo a completar 18 anos, em 1° de junho de 1899, pelo jornalismo, caminho conhecido por outros membros da família, como o tio, Ernesto, redator do Jornal do Comércio. O primeiro texto de Paulo, fora dos folhetos escolares, foi uma crítica da peça Casa de Boneca, de Ibsen, em cartaz no teatro Santana, publicada no jornal A Tribuna. Pouco tempo depois, Paulo começou a colaborar regularmente para o jornal A Cidade do Rio, de propriedade de José do Patrocínio e importante órgão da campanha abolicionista. Era também o começo de uma vida boêmia, típica dos frequentadores das redações no período e que permaneceria no imaginário da profissão século 20 afora. O jornal “nada mais é do que uma simples gazeta de boêmios que se faz (…) entre copos de cerveja e cálices de conhaque” (EDMUNDO, [1938] 2003, p. 1009).
Em A Cidade do Rio, seus textos falavam principalmente de literatura e entravam em discussões literárias importantes para o período. Criticava os escritores românticos e, principalmente, os simbolistas. Defendia que o Naturalismo e o Realismo eram os grandes movimentos literários. Assim, também começava seu interesse por textos que, mais tarde, seriam a gênese do que hoje se pode chamar de reportagem literária. Foi nesse período também que, como era comum entre os jornalistas e escritores, começou a adotar pseudônimos. O primeiro de que se tem notícia é Claude, com o qual escrevia críticas de artes plásticas. O nome era o mesmo adotado por outro de seus grandes ídolos, o realista francês Émile Zola (1840-1902). Entre os brasileiros elogiados em suas críticas, além de Azevedo, estava Adolfo Caminha (1867-1897), de quem também recebera influências estilísticas. Barreto e Caminha podem ser considerados como os primeiros autores a dedicarem espaço para homossexuais como protagonistas em toda a literatura ocidental. Caminha lançara, em 1895, o romance O Bom Crioulo, que narra a história de um escravo foragido que, ao conseguir ingressar na Marinha, apaixona-se por um grumete, Aleixo. O livro foi recebido como um escândalo para a crítica conservadora do período. O público, se o leu, fez em silêncio, sem que o assunto fosse tratado nas rodas literárias, nos saraus ou nas conversas à mesa dos cafés (VALENTIN, 2013).
Como ficcionista, Paulo também começou no jornal, caminho tão comum quanto natural para os escritores do período. O texto, escândalo do mesmo tamanho que causara Caminha quatro anos antes, trazia mais uma das características que marcariam a obra do autor, a abordagem de temas ligados à sexualidade. Em A Cidade do Rio, em 1899, publicou Impotência, conto em que narra a história de Gustavo Nogueira, que, aos 70 anos, virgem, relembra sua vida, passada num palacete cor-de-rosa, com flores vermelhas e cortinas de filó. Em suas memórias, o personagem deixa clara sua homossexualidade: “Apaixonara-se repentinamente pelo jardineiro forte e musculoso, mas o pobre homem respondia às intimidades (…) com sorrisos e monossílabos respeitosos” (apud RODRIGUES, 1996, p. 35). Nessa época, Paulo se interessou também pelos textos de Oscar Wilde (1854-1900), de quem traduzirá o romance O Retrato de Doran Gray e a peça Salomé, entre outras obras.
O segundo texto ficcional publicado no mesmo jornal também tem a homossexualidade como tema. Em Ódio, do início de 1900, o narrador é Fábio Aguiar, que conta as lembranças de sua relação infeliz com Felisbrino. A narrativa passa pelo desejo e pelo masoquismo, já que o protagonista não resiste ao “delicioso prazer” de espancar o companheiro. Esses textos de caráter homoerótico e a proximidade entre Paulo e Patrocínio causaram ciúmes na esposa do patrão, o que obrigou o jovem jornalista a se demitir. Antes de chegar à Gazeta de Notícias, onde trabalharia entre 1903 e 1915, ele passaria de forma efêmera por O Paiz, O Dia e Correio Mercantil (SOUSA, 2009).
E, pois, nessa época, surge um dândi. Paulo Barreto, embora sem pertencer a nobreza, passa a frequentar, com amigos literatos, os badalados e charmosos cafés no Centro do Rio. No texto Cafés, de 1907, ele assim narraria: “Como não havia dinheiro e mesmo na boemia passara a moda da embriaguez, as rodas sentavam-se, pediam um café, um copo de água gelada e ficavam ocupando a mesa, às vezes cinco ou seis horas (…). Éramos talvez uns dez traquinas, com ideias de elegância, estudando a maneira fashion de andar, o tom up do date de cumprimentar, com o interesse com que nos atirávamos às capas amarelas das brochuras francesas. A nossa opinião sobre o Brasil fizera-se definitiva: tínhamos decretado que não existia (…). Nós éramos estrangeiros”.
O Rio de Janeiro vivia o período da agitada e luxuosa Belle Époque. A população crescia com a chegada de negros alforriados das fazendas e dos imigrantes. O prefeito Pereira Passos (1836-1913), no governo da cidade entre 1902 e 1906, inspirado no que havia sido feito no centro de Paris 40 anos antes, promoveu uma série de obras, com o alargamento de avenidas, a retirada de cortiços e a construção de cartões-postais, como o Teatro Municipal, inaugurado em 1909, e o teleférico do Pão de Açúcar, em 1912. Surgem também diversos cinemas, na região hoje conhecida como Cinelândia, e, claro, muitos cafés e confeitarias que davam à Capital ares parisienses em meio ao calor tropical.
Na cidade que o prefeito queria, foram construídos edifícios em estilo parisiense, enquanto morros, casebres e cortiços vieram abaixo na região central. As favelas, na barranca dos morros, começaram a aparecer, destino, principalmente, daqueles que tiveram de deixar à força suas moradias. A política higienista e embelezatória de Passos, no entanto, dará a Paulo Barreto, em pouco tempo, portentosa matéria-prima. Em 1904, a cidade tinha cerca de 730 mil habitantes. Literatos, dândis e boêmios reuniam-se em cafés como o Paris e a Confeitaria Colombo, ainda hoje em funcionamento, na Rua Gonçalves Dias. Entre eles, sempre estava Paulo Barreto.
Nesse período, a imprensa carioca era profícua em quantidade de jornais, mas ainda pobre em reportagens. O que haviam eram, na maioria dos casos, textos opinativos, que englobavam todas as tendências políticas, inclusive o anarquismo. A maioria dos jornais ficava na Rua do Ouvidor, a mais movimentada. Dois matutinos seriam responsáveis por mudar a rota do jornalismo praticado naquele momento: o Jornal do Brasil, em circulação desde 1871, com alguns períodos de interrupção forçada, e a Gazeta de Notícias, nas ruas desde 1875. Os dois veículos, aos poucos, inovavam os métodos gráficos e apresentavam o embrião da reportagem.
Na Gazeta, Paulo Barreto consagrar-se-ia como o grande jornalista e cronista das primeiras décadas do século 20. Nesse jornal, onde trabalhou a maior parte de sua vida a partir de 1903, aos 22 anos, deixa de assinar o nome de batismo, tampouco será o Claude das críticas literárias das primeiras frases. Dali para sempre, assina João do Rio, seu pseudônimo mais célebre. Mais uma vez, falava um dândi, um homem da Belle Époque, inspirado nos franceses. Era tal qual Napoléon Adrien Marx (1837-1906) que, ao se dedicar a narrar o que se passava pelas ruas da capital francesa, adotara a alcunha de Jean de Paris. No Sul, em Lorrain, Paul Alexandre Martin Duval (1855-1906) seguiu o mesmo caminho: tornou-se simplesmente Jean de Lorrain.
Para além da inspiração, no início do século 20 era muito comum a adoção de pseudônimos por escritores que, desse modo, podiam publicar livremente, testar e desenvolver estilos e receber críticas, sem que fossem claramente identificados. Às vezes, criticava-se o próprio companheiro de copos na boêmia, sem saber exatamente de quem se tratava. Com os pseudônimos, também se podia mostrar, sem medo, ideias incendiárias ou escandalosas. Foi assim com José do Patrocínio, de quem vários textos foram publicados como Zé do Pato ou Prudhone, com Coelho Neto (1864-1934), que adotou nomes de personagens shakesperianos e com Artur Azevedo, o Juvenal ou Petrônio em boa parte das produções.
Antes de sua primeira grande obra, lida e referência até hoje, As Religiões do Rio, João publicou diversas entrevistas com diplomatas, principalmente sobre as denúncias apuradas pelo Relatório Rossi, quando o governo italiano enviou um relator para analisar a situação dos imigrantes, praticamente tratados como escravos nas fazendas brasileiras. As denúncias fizeram com que o próprio governo da Itália preferisse incentivar a imigração para a Argentina (HUTTER, 1987). Nascia, com essas entrevistas, a faceta de repórter, preocupado com os conflitos. Para muitos, era a origem da reportagem em terras brasileiras (MEDINA,1988; LIMA, 2009; COSTA, 2005).
Em 1898, Le Figaro publicara uma série de reportagens intitulada Les Petites Réligions de Paris, de autoria de Julie Bois (1868-1943). No contexto da Belle Époque, entre um e outro encontro num café ou numa livraria com homens das letras, e, inspirado pela leitura de tais textos, João do Rio, entre fevereiro e março de 1904, publica As Religiões do Rio. É a partir dessa série de reportagens que ele passou a ser conhecido. Suas andanças, com fins investigativos ou não, por puro deleite ou em busca de um novo fato para narrar, faziam nascer um repórter astuto, um refinado flâneur.
À semelhança da obra que o inspirou, as reportagens de João do Rio abordam um mundo religioso à margem, nos primeiros anos de liberdade de culto no Brasil, já que, até a Proclamação da República, em 1891, apenas o Catolicismo era permitido. João do Rio visitou templos religiosos que, como nos textos de Bois, eram desconhecidos pela maior parte das pessoas. Maronitas, presbiterianos, satanistas, metodistas, espíritas, religiosos de origem africana, cartomantes e a história de um frei exorcista no Morro do Castelo tiveram espaço. O pioneirismo dessa obra também está no fato de que, pela primeira vez, há um trabalho sistematizado de pesquisa sobre as religiões africanas. Também passavam a ser registrados termos e conceitos que até então eram exclusivamente da tradição oral, como ebó, orixás, eguns e exus, próprios da tradição afrobrasileira. Cinco reportagens da série abordam essa temática.
As observações e, depois, os textos de João do Rio são, quase sempre, marcados por um olhar distanciado, positivista, algumas vezes corrompido por certa estranheza ao acompanhar imolações de animais em cultos de Candomblé. O sucesso fez com que o conjunto de textos fosse, em seguida, publicado em formato de livro e vendesse cerca de 6 mil exemplares em cinco anos. “O Rio, como todas as cidades nestes tempos de irreverência, tem em cada um templo e em cada homem uma crença”, escreve João do Rio logo na abertura do livro, cujos primeiros capítulos ficaram dedicados à mística afrobrasileira.
Faz parte desse período da história de João do Rio certa polêmica a respeito dos bastidores da série e da suspeita de ele ter sido um cabuete. Apesar de os cultos de origem africana serem permitidos, a polícia frequentemente aparecia nos terreiros para reprimi-los. É fato narrado por diversos biógrafos certa desconfiança entre os negros de que o próprio João do Rio estaria denunciando endereços de pais e mães de santo à Polícia. Nada, todavia, ficou comprovado.
De março a maio de 1905, João do Rio ofereceria outra contribuição à história da imprensa brasileira, auxiliando, inclusive, para se pensarem as relações entre literatura e jornalismo. Essa temática, anos antes, esteve, senão declarada, ao menos empiricamente, presente no âmago do movimento realista. Afagada depois, ficará escanteada durante décadas, até voltar à academia e às redações nos anos 1960, por influência do movimento surgido nos Estados Unidos, conhecido como New Journalism.
Sob o nome de O Momento Literário, João do Rio publicou uma série de 28 entrevistas com críticos e escritores do período. Mais tarde, em 1908, elas também seriam reunidas em livro, homônimo, a que foram acrescidas outras nove. A todos os entrevistados, foram feitas as mesmas cinco perguntas, que versavam sobre as influências literárias, os autores prediletos, a situação literária do País e aquela que tornar-se-ia a mais estudada depois: “O jornalismo, especialmente, no Brasil, é um fator bom ou mau para a arte literária?”[3]. Entre os inquiridos, estavam nomes como Graça Aranha (1868-1931), os irmãos Artur e Aluízio Azevedo (1857-1913), Coelho Neto, Olavo Bilac (1865-1918) e um dos grandes nomes da crítica literária no começo do século 20: José Veríssimo (1857-1916).
O lançamento dessa série de entrevistas, para muitos, foi entendida também como uma maneira de João do Rio se aproximar e conhecer com mais detalhe a personalidade e o pensamento daqueles a quem estaria delegada a escolha de novos nomes para compor a Academia Brasileira de Letras (ABL). Dos 28 ouvidos, exatamente a metade já fazia parte da casa criada em 1896 por Machado de Assis (1839-1908).
Em 1905, a imprensa colocou em dúvida a idoneidade da escolha dos imortais da ABL quando o poeta Mário de Alencar (1872-1925), filho do autor de Iracema, foi eleito por 16 votos contra Domingos Olímpio (1851-1906) que, apesar de mais conhecido e cuja obra tinha maior apreciação entre os especialistas, recebera apenas nove votos. Especulou-se à época se o autor de Luzia-Homem teria tido seu nome vetado por razões políticas. A vaga em questão era a de José do Patrocínio.
Naquele mesmo ano, outra cadeira ficou vaga, a de Pedro Rabelo (1868-1905), e João do Rio, então com 25 anos, e apenas com As Religiões do Rio publicado em formato de livro, enviou uma carta a Machado de Assis pedindo para se inscrever na disputa. Luis Edmundo[4], a quem muito se deve para ser possível essa reconstrução biográfica, conta que dona Florência, mãe de João do Rio, visitou Machado para pedir-lhe apoio à candidatura do filho. Queria ela também saber a opinião do mestre em relação ao rebento. Edmundo narra que, mesmo sem que o mestre do Cosme Velho tivesse lido uma só linha de João do Rio, encorajou a mãe: “Oh! Minha senhora, mas, seu filho… É meu mestre”!.
A saúde frágil de João do Rio se agravou com a espera. Com sinais que lembram o hipotiroidismo, ele teria aguardado os seis meses entre a candidatura e o resultado com pioras em sintomas como o rosto inchado, os lábios mais espessos e o excesso de peso. Mas o escolhido da vez foi o tio de Graça Aranha (já na ABL desde a primeira composição, em 1897). Heráclito Graça (1837-1914) recebera 17 votos; João do Rio, oito. Com a derrota, o jornalista decidiu passar seis meses numa estância em Poços de Caldas (MG), de onde enviou para publicação apenas cinco textos para a Gazeta (RODRIGUES, 1996).
Em 1907, candidatou-se novamente à galeria dos imortais. No entanto, ao ver o movimento político de apoio ao Barão de Jaceguai, homem de política, mas de parcos talentos literários, desistiu. A terceira e derradeira tentativa, que lhe deu o direito, enfim, de usar o fardão da ABL, ocorreria três anos mais tarde.
Por esses tempos, João do Rio já era conhecido nas redações cariocas e seus textos não eram publicados apenas na Gazeta. Entre as publicações com que colaborou está a revista Kosmos, lançada em 1904, veículo com claras ligações artístico-literárias e menos jornalísticas. A publicação inovava ao contar com autores como Euclides da Cunha (1866-1909), além de ilustradores e artistas plásticos. Em diversos textos, João do Rio criticou as obras de Pereira Passos. Para ele, as decisões do prefeito descaracterizariam o verdadeiro Rio de Janeiro.
No fundo, ele se dividia. Ora era o dândi dos cafés, tipo de estabelecimento que o Rio prometia ter cada vez mais com as reformas; ora era o flâneur que encontrava na gente e no insólito das ruas o foco de seus textos. Gostava de chegar aos subúrbios (à época nada mais que a região onde hoje é Deodoro), observar o povo que não estava nos círculos mais valorizados. Contar essas histórias. Eis seu intuito: “Flanar! Aí está um verbo universal sem entrada nos dicionários, que não pertence a nenhuma língua! Que significa flanar? Flanar é ser vagabundo e refletir, é ser basbaque e comentar, ter o vírus da observação ligado ao da vadiagem. Flanar é ir por aí, de manhã, de dia, à noite, meter-se nas rodas da populaça, admirar o menino da gaitinha ali da esquina...”, diria ele em conferência da Gazeta, em 28 de outubro de 1905. Esse trecho, depois, iria compor a introdução de seu livro mais conhecido, A Alma Encantadora das Ruas, que chegou a público em 1908, condensando reportagens dos quatro anos anteriores.
O espírito flâneur de João do Rio é motivo de muita controvérsia, boato e preconceito, seja pela realidade que ele expressa sobre os morros – chegando a dizer, por exemplo, que havia lugares no Rio em que o assassinato era natural – ou pelos espaços que ele frequentava para dar vazão a interesses que, no rigor moralista, seriam menos dignos, como as cercanias do Largo do Rocio (hoje Praça Tiradentes), ponto de encontros, à surdina, de homossexuais no período.
Nenhum texto sobre a vida de João do Rio evidencia relacionamentos amorosos às claras. Em vários escritos, alguns tidos como ficcionais, no entanto, há descrição de cenas homoeróticas. Enquanto alguns insinuavam a homossexualidade do autor, outros apenas diziam haver aí uma forma de chamar a atenção para que fosse lido. E foi assim, no meio dessa celeuma, que chegaram a nós textos com o seguinte teor, publicados primeiro como crônicas e depois reunidos no livro Vida Vertiginosa[5], publicado em 1907: “Era no Largo da Carioca. Alguns elegantes nevralgicamente conquistadores passavam para ver os malandros que me olhavam e eu que olhava os malandros num evidente indício de escandalosa simpatia. Acerquei-me” (RIO, 1907, s/p). Ou então, no mesmo livro, mais à frente: “Benedito mudou de casaco e aproveitou a ocasião para mostrar-me quatro ou cinco sinais de facadas e de balaços pelo corpo seco e musculoso. Depois cuspiu (…). Um dos machos que dormiam embrulhados em colchas de chita ergueu-se, e saímos, sem olhar para trás. Era tempo”.
A Alma Encantadora das Ruas é um compêndio que transita entre o autobiográfico, a reportagem e a crônica. Novamente, especula-se a relação desses escritos com outros de origem francesa. Na época em que foi lançado, enquanto alguns consideravam um absurdo um retrato do Rio de Janeiro em que vinham a público personagens como tatuadores, biscates, mulheres mendigas, presidiários, cocheiros, pintores de rua, funcionários de funerárias (chamados por ele de “urubus”) e músicos ambulantes, outros creditam à obra um dos grandes retratos da Capital Federal, ao lado do já clássico no período Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antonio de Almeida (1831-1861), lançado mais de 50 anos antes. De forma incauta, muitos associaram a obra de João do Rio à El Alma Encantadora de Paris, do guatemalês radicado na Europa Enrique Gomez Carillo (1873-1927), de 1902. No entanto, a semelhança se faz apenas pelos títulos. O livro de Carillo é composto por ensaios sobre a arte decadentista. A obra de João do Rio tem, por outro lado, claras inspirações naquele que alguns atribuem como a origem de seu pseudônimo, já que Jean de Paris lançara, em 1888, o livro As Petites Choses de Paris, numa narrativa que enfatiza efemérides e fait-divers das ruas da capital francesa.
Na linha das informações que chocavam, João do Rio conta que, entre todas as profissões estabelecidas nos passeios cariocas, “a mais rara e a mais parisiense é a dos caçadores, que formam o sindicato das goteiras e dos jardins. São os apanhadores de gatos para matar e levar aos restaurantes, já sem pele, onde passam por coelho. Cada gato vale dez tostões no máximo” (RIO, [1908], 2008, p. 57). Aos conhecidos da elite, ele prefere a história de gente como o marinheiro Joaquim, com “um Senhor crucificado [tatuado] no peito e uma cruz negra nas costas. Mandou fazer esse símbolo por esperteza. Quando sofre castigos, os guardiões sentem-se apavorados e sem coragem de sová-lo: 'Parece que estão dando em Jesus!'” (p. 67).
Há ainda na narrativa de João do Rio o espaço para aqueles que a Belle Époque, as reformas de Pereira Passos e a vida nos cafés queriam esconder, como os trabalhadores quase escravizados na Ilha da Conceição, na Baía de Guanabara: “É uma espécie de gente essa que serve às descargas do carvão e do minério (...), seres embutecidos, apanhados a dedo, incapazes de ter ideias” (p. 167). Ele denunciava que aqueles homens viviam “quase nus. No máximo, uma calça em frangalhos e uma camisa de meia. Os seus conhecimentos reduzem-se à marreta, à pá, ao dinheiro; o dinheiro que a pá levanta para o bem-estar dos capitalistas poderosos; o dinheiro que os recurva em esforços desesperados, lavados de suor, para que os patrões tenham carros e bem-estar” (p. 168). Nessa obra, há, sobretudo, a valorização da entrevista como forma de buscar informações, a presença de perfis representando tipos sociais e as denúncias, como a indicação do nome da empresa para a qual os estivadores, personagens de uma das reportagens, trabalhavam.
Na publicação de 1908 e nas edições e reimpressões que se seguiram, os textos vieram sempre entre dois ensaios, nascidos como conferências. O primeiro, A Rua, originalmente publicado em 29 de outubro de 1905, na Gazeta, aborda o sentimento entre o flanar e o ser dândi: “Eu amo a rua. Esse sentimento de natureza toda íntima não nos seria revelado por mim se não julgasse, e razões não tivesse para julgar, que este amor, assim absoluto e assim exagerado, é partilhado por todos vós” (p. 28). No texto que fecha, A Musa das Ruas, publicado originalmente como A Musa Urbana, na Revista Kosmos, em agosto de 1905, tem-se quase um ensaio de como o espaço público urbano tornou-se a referência para a criação poética.
Os textos reunidos em A Alma… são o apogeu da obra de João do Rio. Uma primeira razão para acreditar nisso está nas características da própria imprensa do período, a que a narrativa jornalístico-literária do autor promove uma nova feição. Edmundo ([1938] 2003) reconhece que, no período, “o jornal (…) ainda é a anêmica, clorótica e inexpressiva gazeta da velha monarquia, uma coisa precária, chã, morna, vaga e trivial. Poucas páginas de texto, quatro ou oito apenas (…) Paginação sem movimento ou graça. Colunas frias (…). Desconhecimento das manchetes e de outros processos jornalísticos, que já são, no entanto, conhecidos nas imprensas adiantadas no Norte da Europa” (p. 985). Nessa imprensa, em que imperavam “o soneto na primeira página, dedicado ao diretor ou redator principal da folha” (EDMUNDO, [1938] 2003, p. 986), João do Rio aproveitou o início da decadência do jornalismo meramente de opinião e a caracterização dos jornais como empresas, com novas exigências do público, para desenvolver uma característica básica ao jornalismo moderno: a busca de informações na rua (MEDINA, 1988).
O crítico literário Brito Broca assim referiu-se, em texto de 1956, a essa novidade em termos de jornalismo: “Era um processo desconhecido de buscar e apresentar a informação, um modo ignorado de impressionar e esclarecer o público. As reportagens causaram sensação e foram lidas com avidez; não faltou quem dissesse que aquilo era tudo fantasia, simples invencionice de um cérebro imaginoso” (apud MEDINA, 1988, p. 59). Como uma nova função na imprensa brasileira, é natural que o papel de repórter não tenha sido reconhecido de forma unânime e muitos tenham confundido o ser ficcionista com o ser jornalista. Essa confusão, inclusive, ajudou a conceder a João do Rio, na maioria das análises posteriores, primordialmente o status de um cronista, a quem seria dada a liberdade também para criar fatos e inovar na linguagem.
No entanto, no próprio período em que viveu, há provas registradas por críticos de que havia diferenças entre o discurso ficcional e o jornalístico do autor. Afonso Lopes de Almeida, em 1941, em texto publicado em O Estado de S. Paulo, explica: “Como escritor, também a obra de Paulo Barreto não se confunde com a de João do Rio. Do primeiro, são os livros de ficção: teatro, romance, contos; do segundo, os volumes de crônicas, de artigos, obra de observação, direta e palpitante. E foram estes últimos que constituíram seu trabalho melhor”. Nelson Werneck Sodré (1983), em obra clássica sobre a história da imprensa no País, reconhece o pioneirismo: “Jornalista cuja contribuição não foi no terreno da linguagem, mas no uso de métodos que, não sendo novos, foram apurados por ele, aproveitados, praticados com inteligência, a entrevista e o inquérito e a reportagem em particular” (p. 352). Na mesma direção, Cremilda Medina vai lembrar que, “quando o nariz-de-cera precisava de uma operação plástica urgente, João do Rio descobre a força narrativa de fatos reais em suas reportagens” (1988, p. 63). E, mais que isso, “os tipos sociais observados representam a tendência de humanização tão explorada pela reportagem atual” (p. 59).
Enquanto os textos de A Alma… eram gestados, João não abandonou outras empreitas. Em 1907, por exemplo, sob um novo pseudônimo, Joe, ele passou a assinar a coluna Cinematographo, que ocupa quase toda a primeira página de A Gazeta. A partir daquele momento, o jornal inseriu algumas poucas cores, como o amarelo e o azul, na primeira página das edições dominicais. Nesse espaço, ele deu força à crônica, a perfis de políticos e às confissões pessoais, escritas em formato de diário, separados pelos dias da semana como sendo os títulos dos dropes.
Em 1907, logo após retornar do período em Poços, João do Rio também se embrenhou pelo teatro e nasceu um projeto de ator, mas sem sucesso. Começou ainda a escrever peças, mas, nessa função, só fará sucesso anos depois. Como contista, também continuava a falar de temas intocáveis no período, como em A Condessa Brasileira Didi, que pode ser considerado o primeiro texto na literatura brasileira a abordar a transexualidade. Apesar de pouco conhecido atualmente, o conto narra a história de Parazêda, inspirado em Umberto Parâzeda, transexual brasileiro que fazia espetáculos na Alemanha no papel de uma condessa, mas que se suicidou às vésperas do casamento com um barão, antes de seu corpo masculino ser descoberto por trás da identidade feminina que fazia sucesso no palco.
Em 1908, na Gazeta, e depois republicado no livro Dentro da Noite, surge a principal obra ficcional de João do Rio, o conto O Bebê de Tarlatana Rosa. Essa obra faz parte de uma série em que é possível ler relatos sobre o Carnaval no Rio de Janeiro que, à época, migrava dos proibidos entrudos (brincadeiras em que se atirava água e farinha uns nos outros, pelas ruas) aos cordões, em proliferação pelos bairros. Nesse conto, novamente, João do Rio aborda a complexidade dos papéis sexuais. O personagem é Heitor, que conta a amigos suas aventuras durante o Carnaval, quando conhece alguém mascarado de bebê. Interessante a jogada estilístico-discursiva de João do Rio: o/a mascarado/a é referido/a 13 vezes no masculino e 14 no feminino. Por trás da máscara, no entanto, está uma metafórica leprosa, só descoberta quando os dois se afastam dos festejos carnavalescos para um contato mais íntimo. O que queria dizer João do Rio com essa mudança de gênero no substantivo? O que representaria a “leprosa” para o moralismo da época? Perguntas para um precursor que antecipava discussões que ganhariam corpo e militantes só quase um século mais tarde.
Com tantas referências a autores e personagens europeus e como bom dândi que circulava pelos pontos de encontro da elite, João do Rio precisava conhecer a Europa. Em 1908, juntando dinheiro de duas peças encenadas e da publicação de A Alma…, atravessou o oceano pela primeira vez. Desembarcou em Lisboa, onde exercitaria o flâneur por duas semanas, entre casas de fado e teatros, temas de textos que publicaria no retorno ao Brasil. Visitou o Porto, ao Norte de Portugal. Depois, Londres – à qual não relegaria nenhum texto – e chegou a Paris, parte da viagem à que dedicou a maior parte de seus textos. Viu por lá Santos Dumont (1873-1902) e artistas como a dançarina estadunidense Isadora Duncan (1877-1927) e a atriz francesa Sarah Bernhardt (1844-1924), que lhe concedeu uma entrevista. Nos quase três meses que permaneceu na Europa, visitou ainda o Sul da França e a Espanha (RODRIGUES, 1996). Ao retornar ao Rio, o acontecimento mais marcante foi a morte do pai.
Em setembro de 1909, começou a terceira jornada de João do Rio para um lugar na ABL, agora já sem seu fundador, Machado de Assis, falecido no ano anterior. Com a morte de Guimarães Passos (1867-1909), que inclusive fora um de seus entrevistados n´O Momento Literário, candidatou-se à vaga, tendo como adversários dois nomes pouco expressivos: Dantas Barreto (1850-1931) e João Pereira Barreto (1874-1926). Teve o apoio, por razões políticas, do então presidente da Academia, Rui Barbosa[6] (1849-1923). Em 7 de maio de 1910, foi eleito por 23 votos, contra cinco de Pereira Barreto.
A posse ficou marcada para 12 de agosto, não sem uma novidade. João foi o primeiro a tomar posse com o fardão dos imortais, usado até hoje, instituído por sugestão do escritor Medeiros e Albuquerque (1867-1934). Em seu discurso, além de falar do antecessor na cadeira 26, fez menção ao futurismo, movimento artístico de vanguarda, que valorizava as inovações tecnológicas do início do século 20, entre elas o automóvel, os aviões, o cinema e as velozes locomotivas. João tinha 29 anos, o que dá a ele, até hoje, o título de o mais jovem escritor a tomar assento na ABL.
Sua juventude foi o foco enfatizado no discurso de Coelho Neto, que lhe deu as boas-vindas: “A Academia acaba de abrir as portas aos novos; é bom que assim seja (…). Bem é que venha a mocidade ver como aqui se vive e trabalha, e trazer-vos o seu ardor, o sol do espírito que é entusiasmo, o sonho, que é a flor que nos perfuma e alegra a vida árida e triste. E a Mocidade aí está. Alas à Primavera”. Mas a oposição era ferrenha e, pelo menos aos olhares de hoje, preconceituosa, seja pelas razões políticas ou simplesmente por certo recalque causado em outros nomes, qualificados ou não. Conta-se, por exemplo, que Emílio de Meneses (1866-1918), escritor que não deixou grandes marcas nas letras brasileiras, embora eleito para a mesma ABL em 1914, não deixou de escrever um poema satírico sobre o fato: “Na previsão de próximos calores/ A Academia, que idolatra o frio/ Não podendo comprar ventiladores/ Abriu as portas para João do Rio” (apud RODRIGUES, 1996, p. 117).
As questões políticas não se detiveram, evidentemente, à eleição. Usando o prestígio conquistado como “imortal”, João do Rio vai enfatizar discursos relacionados a três temáticas bastante vanguardistas para a época: o direito ao voto feminino, a eleição de mulheres para cargos públicos e o divórcio. “O feminismo é a única ideia revolucionária bonita e sempre na moda (…)”, escreveu em artigo publicado no jornal A Notícia, de 16 de janeiro de 1908 (p. 3). E, mais à frente, no mesmo texto, ele dizia ser um feminista: “Deploro a esposa infeliz, porque quero divórcio, porque faço questão dos direitos da mulher e do amor livre”. João do Rio morreria antes de ver qualquer uma dessas propostas executadas. O direito ao voto não demoraria tanto: foi regulamentado em 1932. Por uma brecha na legislação estadual, em 1927, apenas no Rio Grande do Norte já havia voto feminino e uma potiguar foi também a primeira mulher eleita, como prefeita na cidade de Lajes, em 1929. Para o divórcio, no entanto, uma geração inteira precisaria passar depois de João do Rio para vê-lo regulamentado, apenas em 1977.
Em 1910, foi lançada a coletânea Dentro da Noite, com vários contos que abordam temas polêmicos, como o sadomasoquismo, o (ab)uso de drogas, a compulsão pelos jogos e a cleptomania. Há ainda cinco contos que falam da satisfação sexual de pessoas da elite com outras de classes menos favorecidas. Nesse período, ainda que de modo bastante rápido, João do Rio publicou alguns textos – pelo menos 11 – em São Paulo, no matutino O Comércio de São Paulo. No final daquele ano, João do Rio assinou um contrato com a Casa Garnier, editora franco-brasileira, que publicou quatro títulos de sua autoria: Portugal d´Agora (reportagens), Vida Vertiginosa (crônicas), A Profissão de Jaques Pedreira (romance) e Psicologia Urbana (conferências).
Ainda naquele ano, ele partiu mais uma vez para a Europa, onde permaneceria por cinco meses. Dessa vez, a viagem, além de mais longa, tinha conotações políticas. O Brasil enfrentava um estado de sítio e ele temia represálias, pois havia apoiado os civilistas que não conseguiram eleger o presidente. O Revéillon foi no Atlântico: embarcou no dia 30 de dezembro. Durante essa estada, na qual passou por Portugal, Itália, França e Inglaterra, começou a traduzir O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde. A tradução, considerada uma das melhores para o português, só sairia em 1923, depois da morte de João do Rio.
Apesar do período profícuo de trabalho na Europa e dos bons contatos e trabalhos publicados, o retorno foi tumultuado. Ao chegar, A Gazeta enfrentava uma crise com a saída de Irineu Marinho (1875-1925), até então um de seus subsecretários. Ele saíra e fundara, em 18 de julho de 1911, o primeiro jornal vespertino do Rio de Janeiro: A Noite. A cisão entre os jornalistas d`A Gazeta fez com que João do Rio fosse levado ao cargo de diretor. Nessa condição, encontrou mais liberdade para escrever e publicou diversos folhetins. Um deles é Memórias de um Rato de Hotel, em que, sob o pseudônimo de Dr. Antônio, aborda a superficialidade da alta sociedade.
A relação de João do Rio com a elite é um misto de aproximação, distanciamento, desejo e crítica. Primeiro porque, apesar de várias de suas obras contarem histórias de mendigos, moradores das áreas mais afastadas, marginais e religiões afrobrasileiras, ele também escreveu – ora destacando, ora criticando – sobre a alta sociedade e, como dândi, frequentava espaços destinados aos abonados moradores do Rio. Foi, ainda, um bom anfitrião para muitos famosos que visitavam a Capital, entre eles a dançarina estadunidense Isadora Duncan, com quem estivera em Paris. Em 1916, ela fez uma turnê pela América do Sul, passando também por Buenos Aires e Montevidéu. A despeito de toda a controvérsia a respeito de sua sexualidade, há relatos de que João do Rio e Isadora teriam tido um caso enquanto ele a apresentava a lugares como as praias de Ipanema e Copacabana ou a Floresta da Tijuca.
Entre viagens, contos, folhetins, reportagens e entrevistas com artistas, João do Rio permaneceu n`A Gazeta até 1915. Razões político-ideológicas e também o desejo de fundar seu próprio jornal o fizeram ser despedido. Na sequência, dedicou-se à dramaturgia e, onze dias depois, estreou como colunista no jornal O Paiz.
Embora sem que nenhuma de suas peças tenha chegado a nós como um grande texto, João do Rio ajudou a fundar a Sociedade Brasileira de Autores Teatrais (Sbat), que se mantém em funcionamento. A entidade foi criada em 1917, com o envolvimento de importantes nomes, como a compositora Chiquinha Gonzaga (1847-1935). João foi o primeiro presidente e isso também lhe rendeu algumas inimizades, entre elas com o ator Leopoldo Fróes (1882-1932) e com o empresário teatral Paschoal Segretto (1868-1920). Os dois se empenhavam em criar uma instituição com finalidades semelhantes, a que dariam o nome de Associação dos Autores Dramáticos Brasileiros (AADB), mas que não se consolidou.
Rodrigues (2007, p. 4) lembra que Leopoldo Fróes era um nome popular no Rio de Janeiro, comparando-o ao que seriam, guardadas as proporções, os galãs da TV de hoje. E, na briga com João do Rio, usava o palco. “Todo dia, em seus espetáculos, não deixava de falar mal do jornalista em público”. João, todavia, não deixou por menos e criou um veículo, Rio-Jornal, só para rebater as críticas de Fróes e a tentativa de formação da AADB. Usava para tal o pseudônimo Máscara Negra. A briga só acabou com a desistência do projeto e quando “partidários da causa da Sbat se juntavam para dar risadas nos momentos mais dramáticos dos espetáculos de Fróes, o que resultava em muito atrito e confusão” (RODRIGUES, 2007, p. 4).
Em 1918, João do Rio publicou seu segundo romance, A Correspondência de uma Estação de Cura. No gênero romance, será sua principal obra, já que o primeiro, A Profissão de Jacques Pedreira, não teve grande repercussão. Além do livro, o ano será de poucas produções. Assim como em 1906, a saúde não lhe permitia pôr muitas letras no papel. Viajava constantemente a Poços de Caldas em busca de melhoras, mas passava a maior parte do tempo na cama. Também se envolvia pouco no Rio-Jornal, resumindo-se a dar algumas sugestões à diagramação e à pauta. O jornal logo deixaria de existir, trazendo-lhe, inclusive, prejuízo financeiro.
Entre um cuidado e outro com a saúde, uma olhadela e um distanciamento do jornal, ele acompanhava a construção de duas casas em Ipanema, na atual Avenida Vieira Souto. Uma delas seria ocupada por ele; a outra, por sua mãe. “A minha casa fica numa longa praia, a 13 km da cidade. É por lá o terreno todo areia e as habitações poucas. Nos três mil metros de oceano não tenho vizinhos. Pelas ruas que vem dar à praia e nas outras paralelas, contamos o número de casas”, escreveu no texto Os Cães, publicado postumamente.
Não só o Rio de Janeiro, mas todo o mundo passavam por uma série de interferências e problemas. Havia a epidemia de gripe espanhola e a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Dá-se conta de que cerca de 15 mil pessoas morreram no Rio por causa da doença. Apesar da pouca produção, do contexto nada conveniente e da saúde, João do Rio fez, em 1918, logo após o fim da Guerra, sua terceira e última viagem à Europa. Um novo Revéillon no mar, já que embarcara em 29 de dezembro, mas dessa vez com uma triste notícia: a morte do amigo Olavo Bilac, ocorrida no dia anterior. Na viagem, fez escala em Recife, onde proferiu uma palestra que lhe renderia, na Europa, mais um texto, O Brasil Após a Guerra, com uma crítica contundente à situação do País, considerando egoístas, por exemplo, os pais magnatas que mandavam os filhos estudarem na Europa. Do outro lado do Atlântico, João fez a cobertura de várias conferências de paz.
Em outubro de 1919, de volta, um acontecimento vai distanciá-lo para sempre da ABL. Um de seus desafetos, Humberto de Campos (1886-1934), foi eleito para a cadeira 20. Desde que se conheceram, ainda em 1912, os dois viviam às farpas. João do Rio dera conselhos a Campos para que desistisse da poesia, por falta de talento. Como revanche, o maranhense lançou o jornal O Imparcial e virou um escudeiro de Coelho Neto, o que lhe facilitou o trânsito nos círculos literários. No jornal, durante seis meses, diariamente, manifestava-se em relação a João do Rio usando argumentos racistas, homofóbicos e sociais. De 30 de outubro de 1919 em diante, nunca mais João do Rio frequentaria a ABL, por oposição à eleição do oponente.
O descontentamento só foi amenizado pelo lançamento do livro de contos A Mulher e os Espelhos, com textos antes publicados em jornais como Atlantida, O Paiz, Gazeta e A Notícia. Eram 18 contos. No ano seguinte, foram lançados os três volumes de Na Conferência de Paz, recorte histórico-jornalístico da Europa pós-Guerra, em que constam discursos, análises e entrevistas, entre elas com o papa e monarcas, como a rainha Maria de Romênia. Na sequência, é a vez de chegar às livrarias o livro Adiante!, outra coletânea de discursos.
Como se vê, por toda sua militância e pela necessidade de trabalhar para sobreviver, João do Rio passou a maior parte de seu tempo atuando em jornais. Essa prática era bastante comum – e continua sendo – e, de certa forma, prejudicou sua produção artístico-literária. Muitas de suas obras não puderam passar pela lapidação a que outros literatos, economicamente em situação mais favorável, podiam se dedicar. É sintomática a obra O Momento Literário para entender esse movimento que se coloca como uma contradição na produção de João do Rio.
Em 1920, ele se embrenhou noutro negócio, colocando em funcionamento A Pátria, que logo lançaria nova polêmica. Por um decreto de 1912, passou-se a exigir que metade da tripulação da Marinha fosse de brasileiros natos. O governo criou também a Inspetoria da Pesca e pressionava para a naturalização dos estrangeiros para que pudessem continuar trabalhando. Havia uma ameaça de greve, o que deixaria a Capital sem pescado. João do Rio, mais uma vez ao lado dos menos favorecidos, divulgou o manifesto dos pescadores em 2 de outubro de 1920. A questão acabou numa agressão física ao jornalista, feita pelo capitão Frederico Villar, num restaurante, com apoio de alguns subordinados, que não hesitavam em agredi-lo também verbalmente, usando para tal argumentos homofóbicos. A questão, contudo, era apenas uma das críticas a que João do Rio se dedicava. O governo de Epitácio Pessoa (1919-1922) recebia críticas quase diárias.
Os preconceitos da época, as intrigas políticas e a falta de dinheiro fizeram com que os últimos tempos de João do Rio fossem marcados por grande solidão. Tentou ser embaixador, mas não obteve, sem forças políticas, qualquer sucesso. Sorria pouco, já não frequentava mais os círculos que o fizeram ser tanto dândi, quanto flâneur. “Sua vida ativa de jornal (…) acabou por lhe arruinar o coração. E assim como escondia seus incômodos morais (…) começou a encobrir a implacável doença que o mirava” (EDMUNDO apud RODRIGUES, 1996, p. 248).
João do Rio não chegaria aos 40 anos. Em 23 de junho de 1921, morreu, depois de um ordinário dia na Capital Federal, que, àquela altura, já ultrapassava o primeiro milhão de habitantes, a primeira cidade do Hemisfério Sul a atingir a marca. Pela manhã, fez uma caminhada até o Arpoador. Depois, tomou café com dona Florência e partiu, de táxi, para o Largo da Carioca, onde ficava a redação. Tudo, no entanto, de modo arfante, sentindo-se mais cansado do que nos outros dias. Encontrou-se com Paulo Diniz, um dos poucos amigos, colaborador de A Revista da Semana. O deputado Maurício de Lacerda (1888-1959) também passou na redação para deixar seu artigo. Conversaram sobre política e, mais uma vez, João do Rio demonstrou todo seu descontentamento, dizendo que gostaria de morrer em Lisboa.
Mais tarde, aceitou o convite de Diniz para ir ao teatro assistir a uma montagem de Tristão e Isolda. Tomou um táxi. Algumas ruas antes de chegar, “sentiu no estômago um espasmo de dor aguda. O sangue afluiu ao parietal, latejou como se quisesse rebentar… Não podia mais...” (RODRIGUES, 1996, p. 252). Pediu um copo d'água. Não houve tempo para tomar os comprimidos que levava no bolso. Morreu de um infarto. Foi reconhecido por uma crioula que olhou para dentro do carro, parado no meio da rua: “É o Paulo Barreto”. Eram 22h30. De forma sorrateira, alguém furtou-lhe a pérola que carregava na gravata desde muito tempo antes. “Para dar sorte”, dizia.
Dona Florência não permitiu que o velório fosse feito na ABL e o corpo foi levado para a redação de A Pátria. Vestiram-lhe, no entanto, o fardão de imortal. O enterro foi na tarde do dia seguinte, um domingo, no Cemitério São João Batista, no Botafogo. Havia um claro sol de Inverno para iluminar o cortejo que, estima-se, reuniu cerca de 100 mil pessoas. Paira sobre isso outra controvérsia, a de que muitos teriam sido pagos por portugueses atacadistas, que João defendera tantas vezes no jornal. Para Rodrigues (2007, p. 4), era apenas a última intriga, “a forma derradeira de desmerecer o escritor. O tempo mostrou que seus inimigos estavam errados: eles passaram, João do Rio ficou”.
Nas páginas do último jornal que ele fundou e que continuaria, em outras mãos, a ser publicado até 1940, escreveram: “O povo que aí está, contrito e sofredor, é aquele que, humildes e trabalhadores, ele defendeu, serviu e amou, sem quebrar a graça perpétua de seu estilo e beleza imortal da sua parte (…). Notai bem: não há ninguém do governo. É um brasileiro, notável nos talentos, notável nas letras, que desaparece. O ódio jamais contido dos poderosos dele se aparta. E faz bem. Que onde está o povo não há lugar para aqueles que o oprimem” (A PÁTRIA, 26 jun. 1921, p. 1).
Já na sepultura, com pouca gente no cemitério, ainda houve tempo para uma última manifestação. Um negro, alcoólatra, Vicente Ferreira, conhecido andarilho das ruas do Rio, encontrou confiança para se manifestar. Fazendo um túmulo como palco e púlpito, criticou o governo e a sociedade, como João fizera tantas outras vezes. Acabou sozinho, falando ao silêncio daquelas lápides. Dona Florência, dias depois, tomaria decisão importante para a memória do filho. Doou os quase 4,1 mil livros de sua biblioteca, com obras em português, francês, italiano, inglês, espanhol e latim, para o Real Gabinete Português de Leitura. As relações com a ABL estavam, de fato, muito estremecidas. Ela soube respeitar.
Obras essenciais para saber mais sobre João do Rio:
ANTELO, Raúl. João do Rio: o dândi e a especulação. Rio de Janeiro: Taurus-Timbre, 1989.
GOMES, Renato Cordeiro. João do Rio: vielas do vício, ruas da graça. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1996.
MEDINA, Cremilda. João do Rio ou o início da reportagem. IN: ______. Notícia: um produto à venda. São Paulo: Ática, 1989.
RODRIGUES, João Carlos. João do Rio, uma biografia. Rio de Janeiro: Topbooks, 1996.
______. João do Rio: vida, paixão e obra. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010[7].
RODRIGUES, Antônio Edmilson Martins. João do Rio: a cidade e o poeta. Rio de Janeiro: FGV, 2000.
SOUSA, Patrícia de Castro. João do Rio: o repórter com alma de flâneur conduz a crônica-reportagem na Belle Epoque tropical. Dissertação (Mestrado em Letras). Programa de Pós-Graduação em Letras. Santa Maria: Universidade Federal de Santa Maria (UFMS), 2009. Disponível em: http://cascavel.ufsm.br/tede/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=2654. Acesso em: 10 fev. 2016.
Referências Bibliográficas:
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EDMUNDO, Luiz. O Rio de Janeiro do meu tempo, 2003. Disponível em: http://www2.senado.leg.br/bdsf/item/id/1071. Acesso em: 01 mar. 2016.
HUTTER, Lucy Maffei. Imigração italiana: aspectos gerais do processo imigratório. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros. São Paulo: USP, 1987. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/rieb/article/viewFile/69906/72560. Acesso em: 23 fev. 2016.
LIMA, Edvaldo Pereira. Páginas ampliadas – o livro reportagem como extensão do jornalismo e da literatura. 4 ed. Barueri: Manole, 2009.
MEDINA, Cremilda. Notícia: um produto à venda. São Paulo: Summus, 1988.
RIO, João do. As religiões do rio. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=7617. Acesso em: 14 fev. 2016.
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______. Vida vertiginosa. Disponível em: http://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=download&id=27625. Acesso em: 06 mar. 2016.
RODRIGUES, João Carlos. João do Rio, uma biografia. Rio de Janeiro: Topbooks, 1996.
______. João do Rio: vida, paixão e obra. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.
RODRIGUES, Antonio Edmilson Martins. A alma encantadora de João do Rio. Revista de História. 09 set. 2007. Disponível em: http://www.revistadehistoria.com.br/secao/leituras/a-alma-encantadora-de-joao-do-rio. Acesso em 1 mar. 2016.
SODRÉ, Nelson Werneck. História da imprensa no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1983.
VALENTIN, Leandro Henrique Aparecido. A recepção crítica e a representação da homossexualidade no romance Bom-Crioulo, de Adolfo Caminha. Mafuá, Florianópolis, ano 11, n. 20, outubro 2013. Disponível em: https://www.academia.edu/4887923/A_recep%C3%A7%C3%A3o_cr%C3%ADtica_e_a_representa%C3%A7%C3%A3o_da_homossexualidade_no_romance_Bom-Crioulo_de_Adolfo_Caminha. Acesso em 15 mar. 2016.
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*Doutorando em Linguística pelo Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde fez o mestrado em Divulgação Científica e Cultural, no Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (LabJor). É especialista em Jornalismo Literário pela Academia Brasileira de Jornalismo Literário (ABJL), onde ministrou aulas no curso de pós-graduação, entre 2008 e 2012, em disciplinas como Fundamentos Narrativos e Biografismo: Perfis. Fez graduação em Jornalismo na Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), onde é professor desde 2008, nos cursos de Jornalismo e Relações Públicas, em disciplinas como Jornalismo Literário, Pesquisa em Comunicação, Semiótica e Estética, além de atuar em projetos de extensão com foco em comunicação comunitária e educomunicação. Atuou como jornalista em diversos veículos. Publicou vários artigos e capítulos em revistas, congressos e livros sobre temas como biografia, perfis, análise de discurso, jornalismo literário e educomunicação. Publicou, entre outros, o livro “Do jornalismo literário ao científico: biografia, discurso e representação” (Editora Pontes, 2015) e “Vidas Partidas: Histórias de Luto Materno” (Editora Akademika, 2006).
[1] João do Rio assim escreveu no texto “Coração”, publicado na Gazeta de Notícias, em 21.02.1910. O texto foi incluído posteriormente no volume Dentro da Noite. Uma versão deste livro está disponível em: http://objdigital.bn.br/Acervo_Digital/livros_eletronicos/dentro_da_noite.pdf. Acesso em: 30 mar. 2016.
[2] João do Rio em “Jornal de Crianças”, texto publicado na Gazeta de Notícias, em 28.02.1915.
[3] Entre os trabalhos que retomaram a pesquisa empreendida por João do Rio está “Pena de Aluguel – Escritores Jornalistas no Brasil (1904-2004)”, de Cristiane Costa (Cia. das Letras, 2005). Fruto da tese de doutorado da autora, o livro investiga o momento literário brasileiro no começo do século 21, refazendo a pesquisa de João do Rio com autores contemporâneos.
[4] Luiz Edmundo (1878-1961) foi escritor, teatrólogo e professor. Nascido no Rio de Janeiro, cidade em que passaria a maior parte de sua vida, suas principais obras estão nos gêneros das memórias e dos relatos históricos. Apesar de não haver grande mérito literário em seus escritos, esses materiais são extremamente importantes como retratos da sociedade carioca na passagem do século. Entre seus livros, destacam-se O Rio de Janeiro no Tempo dos Vice-Reis, A Corte de d. João no Rio de Janeiro e o bastante utilizado como fonte de pesquisa para este texto, O Rio de Janeiro de Meu Tempo. Os dois primeiros, publicados, respectivamente, em 1938 e 1940, são frutos de diversas pesquisas históricas desenvolvidas pelo autor, inclusive, em Portugal, onde também trabalhou como correspondente para jornais brasileiros. Também em 1938, lançou O Rio de Janeiro de Meu Tempo, que se constitui numa bela descrição e numa série de memórias a respeito da capital nas primeiras décadas do século 20. Em 1944, Edmundo foi eleito para a ABL.
[5] Uma versão deste livro, cópia da edição de 1907, pode ser consultada em: http://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=download&id=27625. Acesso em: 06 mar. 2016.
[6] Rui Barbosa, à época, estava na campanha civilista, em que disputava a presidência da República com o Marechal Hermes da Fonseca, que foi eleito. Toda a campanha de Barbosa foi baseada na defesa da eleição de um civil. Uma das marcas foi o fato de que, com Rui Barbosa, pela primeira vez, um candidato percorreu o País em busca de votos.
[7] A obra de João Carlos Rodrigues, de 2010, na verdade, é uma revisão daquela publicada em 1996, como o próprio autor reconhece em entrevista disponível em: http://estranhoencontro.blogspot.com.br/2013/07/biografia-entrevista-joao-carlos_7.html. Acesso em 22 mar. 2016.