Ibrahim Sued
Ibrahim Sued
Isabel Travancas - Escola de Comunicação - UFRJ
Ibrahim Sued nasceu no dia 23 de junho de 1924, em Botafogo, bairro da zona sul do Rio de Janeiro, filho de imigrantes libaneses. De família pobre e pais separados, quando Ibrahim tinha 8 anos de idade sua mãe falece e ele vai morar com a avó. Estudou em escolas públicas até os 17 anos, quando abandona o ginásio e começa a trabalhar para se sustentar. Trabalhou no comércio como ajudante de sapateiro e jornaleiro.
No final dos 1940, graças ao seu irmão Aberto Sued, começa a se relacionar com jovens ricos da zona Sul da cidade que formavam o chamado “Grupo dos Cafajestes”. Era um Clube sem estatuto ou formalidade, fundado nos anos 40 por rapazes da elite carioca que se reuniam no Bar Alvear, em Copacabana. Eram conhecidos por “cafajestes” por terem atitudes irreverentes, não levando a vida muito a sério. Fizeram parte deste grupo: Mariozinho de Oliveira, Baby Pignatari, entre outros. Aos poucos, Ibrahim se aproxima do jornalismo graças aos amigos jornalistas. Entra na profissão como fotógrafo – sua foto do político baiano, da União Democrática Nacional (UDN) Otávio Mangabeira beijando a mão do general e futuro presidente norte-americano Dwigt Eisenhower, tirada em 1946, foi um “furo”. A foto era a expressão da atitude de subserviência do Brasil em relação aos Estados Unidos e ganhou a primeira página de O Globo.
Sued continuou trabalhando como fotógrafo por algum tempo. Ainda como freelancer do jornal Tribuna da Imprensa começa a escrever notas sobre a vida social da elite carioca que freqüentava, entre outros lugares, o Hotel Copacabana Palace. As notas agradam o público e nasce ali o colunista social.
Em 1952 é convidado pelo jornal A Vanguarda para escrever uma coluna diária que recebeu o título de “Zum Zum”. Em seguida a coluna passa a ser publicada na revista Manchete com o titulo de “Soirée” e com fotos, o que era uma novidade na época. Sued trabalha em a Folha Carioca, em Diretrizes e como free-lancer no Jornal do Brasil. Nesta década colaborou com o Diário Carioca escrevendo uma coluna publicada aos domingos e também com a Gazeta de Notícias e o Diário da Noite.
O jornalista criou um estilo próprio de noticiar o mundo e a elite através de suas notas. Ibrahim ganhou fama e notoriedade dentro e fora da profissão escrevendo suas colunas com muita personalidade, inventando termos, lançando personagens, criando modismos, elogiando e criticando à vontade. No início da década de 50 eram poucos os chamados “colunistas sociais” e mais raro ainda aqueles que não retratavam apenas as “fofocas” e as festas da classe alta. Até então o pioneiro do colunismo social era Jacinto de Thormes, pseudônimo do jornalista Maneco Müller que assinava uma coluna no jornal Correio da Manhã.
A partir de agosto de 1954, a convite do jornalista Roberto Marinho, sua coluna então intitulada Reportagem Social de Ibrahim Sued começa a ocupar diariamente as páginas de O Globo, onde o jornalista irá permanecer até o fim da vida. Nesse início de sua carreira, sua coluna tinha em torno de 20 cm. É com ela que Ibrahim se tornará conhecido na imprensa e pelo público como um dos criadores do colunismo social no Brasil.
Em 1958 o jornalista se casa com Maria da Gloria Drumond Sued com quem teve dois filhos: Isabel e Eduardo.
Em 1963 Ibrahim fez um breve intervalo em sua longa colaboração em O Globo. Neste ano aceita o convite de Assis Chateaubriand para escrever em O Jornal, na revista O Cruzeiro e para atuar na TV Tupi. Em 1965, já um jornalista de prestígio ganha um programa ao vivo na TV Globo, no qual durante nove anos apresenta os assuntos presentes nas suas colunas com seu estilo pessoal.
Ibrahim se destacou desde o início de sua carreira como colunista por uma escrita pessoal, franca e agressiva. Seu texto apresentava notas curtas e diretas, mesclando informações sobre a vida mundana com notícias sobre política e economia ou eventos internacionais. Para muitos, ele é considerado o “pai” do colunismo social e criou a chamada “Escola Turco de Jornalismo”, por onde circularam jornalistas como Mário Sérgio Conti, Ricardo Boechat e Élio Gaspari. Segundo Conti (1999:101) Ibrahim ensinou muito a eles. “Ensinou que reescrever notícias de outros jornais, ‘cozinhar’ matérias, era bobagem. Ensinou a ir na notícia, a procurar. Que agenda telefônica é um instrumento de trabalho. A fazer sempre o melhor. Não foi um aprendizado suave.” Isto porque o colunista gostava de ser repórter e sua coluna refletia a transformação pela qual o jornalismo brasileiro estava sofrendo e ele buscava produzir, em suas palavras (1972:15) “informação curta, direta, informativa por excelência, muitas vezes agressiva, quase sempre anti-romântica” .
O jornalismo produzido por Sued foi muito influenciado pelo colunismo norte americano e privilegiava a informação, os fatos políticos ao mesmo tempo em que cobria as festas da alta sociedade com criatividade. Seus textos não eram muito cuidados, os erros eram freqüentes e foi muito criticado por isso. Assim como por suas posições políticas, em especial o seu apoio à ditadura militar.
As quase cinco décadas de colunismo de Sued apresentam um painel do Brasil e do mundo sob o olhar do jornalista. Se em quase todas as décadas, em particular a de 1960, a política é o centro das atenções, a vida “mundana” não nunca é esquecida. Os bailes, as boates, o carnaval os astros, as modas e os comportamentos da alta sociedade ocupam muito espaço em sua coluna.
Ibrahim Sued foi muito criativo. Criou personagens como a “Dama de preto” e gírias e expressões como “bonecas e deslumbradas”, cavalo não desce escada”,”em sociedade tudo se sabe”, “de leve”, “su”, ademã”, “sorry periferia”, “kar” e “padres de passeata”, que foram sua marca e vários permaneceram mesmo depois da sua morte.
O jornalista escreveu seis livros: 000 contra Moscou: viagem ao país do medo (1965), 20 anos de caviar (1972), O segredo do meu su... sucesso (1976), Aprenda a receber- Etiqueta (1977), Nova etiqueta (1978), 30 anos de reportagem (1983) e Vida, sexo, etiqueta e culinária- do rico e do pobre (1986). Todos com bastante sucesso de vendas, vários com edições esgotadas, alguns com tiragem de 100 mil exemplares.
Em 1985 a Escola de Samba Acadêmicos de Santa Cruz decidiu homenageá-lo com o enredo “Ibrahim, de leve eu chego lá.”
Na década de 1990 Sued reconheceu Guilherme, filho do relacionamento com Márcia Lebelson. Casou-se a segunda vez com Simone Rodrigues com quem não teve filhos.
A partir de 1993, sua coluna diária se torna semanal e é publicada aos domingos chegando a ocupar meia página de jornal. Seu crescimento expressa também a influência de seu autor e o alcance de seu sucesso.
Durante os 45 anos de trabalho jornalístico, Sued redigiu mais de 15 mil colunas com temas diversos De festas no Copacabana Palace a acontecimentos políticos nacionais, entrevistas com celebridades internacionais, etiqueta e comportamento e fatos e eventos da cidade do Rio de Janeiro.
Ibrahim Sued morreu em 1° de outubro de 1995, aos 71 anos de idade, de infarto no Rio de Janeiro.
Em 2003 recebeu uma homenagem da cidade do Rio de Janeiro. Uma estátua do jornalista foi colocada em frente ao Hotel Copacabana Palace.
BIBLIOGRAFIA:
CONTI, Mário Sérgio. Notícias do Planalto. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.
SUED, Ibrahim. 20 anos de caviar. Rio de Janeiro: Bloch, 1972.
_____________. 30 anos de reportagem. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1983.
SUED, Isabel. Em sociedade tudo se sabe. Rio de Janeiro: Rocco, 2001.
TRAVANCAS, Isabel. “A coluna do Ibrahim Sued: um gênero jornalístico”. In: Revista Brasileira de Ciências da Comunicação. São Paulo, vol. XXIV, n 1, janeiro/junho de 2001, p. 109-122.