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Décio Pignatari

Por Elza de Oliveira Filha

Ecos de Pignatari (ou) Decio: Livre Pensador; Polêmico e Irreverente

  

Elza A. de Oliveira Filha - Universidade Tecnológica Federal do Paraná

 

Entre os pensadores brasileiros da área da comunicação, Décio Pignatari (1927/2012) é certamente um dos mais múltiplos e que mais atividades desempenharam: ele foi poeta, ensaísta, tradutor, contista, romancista, dramaturgo, crítico, publicitário, colaborador de jornais e revistas, professor – além de advogado formado pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, em 1954, embora jamais tenha exercido a profissão.

Único brasileiro a participar da fundação da Association Internationale de  Sémiotique, ocorrida em Paris em 1969, Pignatari foi eleito vice-presidente para o Brasil, compondo a diretoria da entidade ao lado de nomes como Roman Jakobson (EUA) e  IúriLótman (URSS).

Seu tipo físico também era peculiar: baixo e magro, nariz avantajado, cultivou sempre uma barba rala que no final da vida ficou grisalha. Em todas as ocasiões, se apresentava usando uma boina com aba pequena (tinha uma coleção variada,  de muitas cores e tecidos) e raramente deixava de lado as camisas de algodão de cores suaves, com uma camiseta branca por baixo. Os olhos claros e inquietos eram salientados por óculos tipo “fundo de garrafa” com armações pesadas.

Um livre pensador com personalidade polêmica e irreverente (descrito até mesmo como grosseiro)foi autor do primeiro livro sobre teoria da comunicação escrito no Brasil – Informação, Linguagem, Comunicação, de 1967 – e um dos responsáveis pela introdução das obras de Marshall McLuhan no País ao traduzir, em 1964,Os meios de comunicação como extensões do homem. Traduziu também textos de Dante Alighieri, Goethe, Shakespeare,Ezra Pound, Mallarmé entre outros, e dizia que “traduzir é o melhor modo de ler”.

Ao longo de toda a vida, permaneceu fiel aos dois autores reconhecidos como essenciais na moldagem do seu pensamento comunicacional: o próprio MacLuhan e Charles SandersPeirce. De acordo com Cristiane Wosniak, orientanda de Pignatari no Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Tuiuti do Paraná, ele muitas vezes referia-se ao “soberano Pierce e ao seu reino da semiótica”. Em uma entrevista ao programa Provocações, de Antônio Abujamra, no final da década de 1990, Pignatari citou os dois romances que considerava “maiores de todos”: Ulisses, de James Joyce, e Em busca do tempo perdido, de Marcel Proust.

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Convencida, como estou, que o espaço concedido a este verbete seria insuficiente para abarcar toda a vasta e rica trajetória intelectual de Décio Pignatari, optei, na sequência do texto, por desdobrar duas seções. No primeiro momento, reúno informações sobre sua atuaçãono cenário literário e artístico brasileiro ao longo da segunda metade do século XX e início do século XXI – notadamente seu papel como poeta e articulador do movimento Poesia Concreta. Na segunda seção busco resgatar aspectos emblemáticos do pensamento do autor no segmento da comunicação, efetuando um mergulho em seus escritos, entrevistas, depoimentos e recorrendo a falas de pessoas que conviveram com ele durante os dez anos que viveu em Curitiba.

Nascido em Jundiaí (SP), em 20 de agosto de 1927, Pignatari morou a maior parte da vida na capital paulista, onde protagonizou importantes eventos de vanguarda cultural, montou uma bem sucedida agência de publicidade e trabalhou como professor na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. Na década de 1950 passou dois anos na Europa, para onde retornava periodicamente com objetivo de efetuar estudos, visitar instituições e “olhar de perto” os rumos do continente. Nos anos de 1960 e início dos 70 viveu no Rio de Janeiro, onde lecionou na Escola Superior de Desenho Industrial; e em Brasília, trabalhando no Curso de Jornalismo da UNB[1]. Em 1999, em busca de um lugar de maior sossego, decidiu mudar para Curitiba, onde trabalhou na Universidade Tuiutido Paraná e produziu seus últimos escritos. AnuschkaReichmann Lemos, aluna de Pignatari no PPG da Tuiuti, lembra que ele justificava a opção pela capital paranaense por razões estéticas: “Dizia que Curitiba é uma cidade cuidada nos mínimos detalhes, quando andava pela periferia, numa lojinhaqualquerobservava uma logo, uma marca própria”. Também enaltecia o fato de morar junto a um bosque, o João Paulo II, e poder caminhar pela área respirando ar puro.

Uma outra atração que prendeu Pignatari à cidade foidescoberta por intermédio da própria Anuschka: uma ala de consulta especial, existente na biblioteca central da Universidade Federal do Paraná (UFPR), com milhares de títulos, muitos dos quais raros e originais, de autoria ou versando sobre a obra de SørenAabyeKierkegaard, filósofo eteólogo dinamarquês a cujos textos Pignatari dedicou seus estudos nos últimos anos de vida. O acervo havia sido doado pelo avô da então aluna do mestrado, Ernani Reichmann, professor aposentado da UFPR e um reconhecido especialista no pensamento kierkegardiano. “Uma vez, por volta de 2005, Décio fez uma viagem de estudos para a Dinamarca e voltou desgostoso, dizendo que pouca coisa se encontrava de Kierkegaard nas livrarias e bibliotecas dinamarquesas. Depois de conhecer a ala especial da universidade, passou a dedicar todas as suas tardes de terças-feiras àquelas obras”, lembrou Anuschka.

Identificado por vezes como machista, Décio Pignatari fazia questão de comemorar seus aniversários jantando em bons restaurantes com pequenos grupos de amigos. No final da festa, invariavelmente acompanhava a canção “Peixe Vivo”, executada em sua homenagem. O mesmo ocorreu na solenidade de despedida organizada pela Universidade Tuiuti em 2010, quando um coro de centenas de vozes cantou o clássico. Ele morreu em São Paulo, vítima de insuficiência respiratória em consequência do mal de Alzheimer,no dia 2 de dezembro de 2012, aos 85 anos.

 

Poesia, futebol e outras artes

Qualquer busca ao nome de Décio Pignatari conduz, prioritariamente, à sua condição de poeta. Ele gostava de citar que seus primeiros poemas haviam sido escritos aos 14 anos, inspirados por uma colega de escola.Aos 22 foi aceito na prestigiada Revista Brasileira de Poesia. No ano seguinte, 1950, publicou Carrossel, seu primeiro livro de poemas – publicaria outros seis livros de poesia ao longo da vida.A busca de experimentação e movimento levou o jovem poeta a criar em 1952, juntamente com os irmãos Augusto e Haroldo de Campos,o grupo Noigandres, núcleo brasileiro da poesia concreta, que integrava um movimento vanguardista denominado Concretismo, envolvendo expressões artísticas na poesia, músicae nas artes plásticas.

Em 1956, durante a Exposição Nacional de Arte Concreta no Museu de Arte Moderna de São Paulo, o grupo Noigandres lançou oficialmente o movimento de poesia concreta. No mesmo ano foi publicado oPlano-piloto para Poesia Concreta, síntese teórica do trabalho poético dos três amigos, que foi traduzido para diversas línguas. Em 1965, ainda com Haroldo e Augusto de Campos, lançou o livro Teoria da Poesia Concreta.

As relações propiciadas pelo movimento Concretista com artistas de várias áreas favoreceu sua participação em projetos ousados como os happenings, comuns em meados dos anos 60. No livro Contracomunicação ele descreve um evento no qual montou uma “bateria semântica”, com uso de um toca-discos, um urinol, moedas, um livro sobre “lições práticas de democracia”, uma sineta, os versos iniciais de uma poesia infantil de Bilac, uma bomba de flite e um boné.

O happening é um acontecimento semântico-experimental, isto é, uma experimentação de novos significados. É uma típica manifestação de contexto. Os signos que utiliza, deslocados de seu contexto habitual e postos em relação insólita, provocam conflitos de significações. (...) É a própria estética que entra em crise para dar lugar a uma possível “lógica de preferência”, que seria a estética da sociedade de massa ou de consumo de massa (1973, p. 234).

Na busca de um novo gênero de espetáculo narrativo, em janeiro de 70, Pignatari reuniu um grupo de intérpretes e técnicos no Teatro Ruth Escobar, em São Paulo, para a apresentação da audiofotonovelaDesatinos do Destino, cujo script consta do volume Contracomunicação. De acordo com o autor, tratou-se de um show em multimídia, e sua explicação para o espetáculo indica o pioneirismo de suas iniciativas e até da terminologia empregada[2]:

Neste processo de hibridização de media (meios de comunicação),a audiofotonovela é um médium a meio caminho entre a fotonovela e o cinema falado; entre a baixa definição da imagem daquela e a alta definição deste. As fotos, em cores, são de alta definição e estáticas: a trilha sonora modula a dinâmica (...) evitou-se a multiplicação de efeitos de modo que, se a metalinguagem é evidente para as pessoas de alto repertório, o mesmo não se dá para pessoas de médio ou baixo repertório, que podem absorvê-la como normalidade verossímil. Trata-se, pois, ao mesmo tempo de uma operação kitsch e de uma operação meta-kitsch ( 1973, p. 76).

Um dos intérpretes de Desatinos do Destino foi o maestro Rogério Duprat, citado de maneira elogiosa por Pignatari em mais de um texto de Contracomunicação. Duprat era um expoentedo movimento Tropicália e as interações entre o poeta concretista e o grupo eram frequentes. Por ocasião da morte de Pignatari, em 2012, Caetano Veloso lembrou que a expressão “geleia geral”, fartamente empregada pelos tropicalistas, foi criada por ele. Ainda segundo Caetano, o poeta “era agressivo”[3]

Para o também poeta Ferreira Gullar: “Décio era um homem muito talentoso, muito inteligente e com espírito inovador e irreverente. Ele introduziu a crítica política na poesia concreta, que por definição era uma poesia não ideológica, não engajada”.O crítico e poeta Eduardo Sterzi, o compositor Tom Zé e o cineasta Ivan Cardoso, se estendem em elogios: “Foi o homem mais inteligente que conheci. Por onde Décio passou, não nasceu mais grama. Sabia de tudo. Com citações em inglês e francês que dava gosto de ouvir. Na última vez que o vi, combinei que faria um filme com ele. Tinha até título: ‘A morte da Poesia - O mundo que não existe mais’. Ele me dizia que eu estava falando de uma gente que não existia mais”, afirmou Cardoso.

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Um projeto que Pignatari mencionava com frequência era o Temperamental, CD produzido em 1993 com os músicos LivioTragtemberg e Wilson Sukorski, uma ópera interativa sobre seus poemas e textos, interpretados pelo próprio poeta. O escritor produziu também prosa – que ele definia como “o signo do demônio”, enquanto “a poesia cai do céu”[4]–, como o livro de contos O Rosto da Memória (1986), o romance Panteros (l992), o texto memorialista Errâncias (2000)e a peça de teatroO céu de lona (2004). O último livro, destinado ao público infanto-juvenil, mas de leitura recomendada a adultos, foi Bili com o limão verde na mão (2009), outra obra inovadora, rica em situações nonsense, personagens singulares e que relata uma experiência de crescimento.  Depois de sua morte foi lançada, em 2014, a peça Viagem Magnética, que traz como personagem central a feminista, educadora e escritora Nísia Floresta. Em pelo menos duas entrevistas concedidas no final dos anos 90[5] ele falava a respeito de um projeto de romance – “o grande romance”– cujo personagem central seria o Brasil. Projeto que não chegou a ser completado.

Uma parcela significativa da prosa de Pignatari versa sobre futebol. São textos publicados em jornais como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Correio da Manhã, Última Hora e outros. No livro Contracomunicação estão reproduzidas doze crônicas nas quais o corintiano assumido (e jogador de futebol de várzea em Osasco durante 30 anos)defende seu time, critica os adversários e mescla os comentários de futebol com inúmeras referências artísticas, culturais e políticas. Ao tratar de um hipotético jogo entre as seleções do Brasil e da URSS, na Copa do Mundo de 1966, ele fala das práticas usuais pós-golpe militar:

Imagina se calha de o Brasil vir a ser derrotado pela URSS na Inglaterra – já pensaram que bode que vai dar? Será um tal de IPMs [Inquéritos Policiais Militares] para cima de jogadores, preparadores, massagistas e roupeiros, um tal de futebol ‘altamente comunizante’, um tal de ‘em defesa dos mais altos princípios morais e cristãos da família brasileira’– e um tal de reeleições quivoticontá (1973, p. 193).

Em outro texto ele defende um tema vetado na época: “E agora os salvadores da pátria nos querem fazer crer que exportar é a solução. Ora, a alternativa para a inflação não é a exportação: é a reforma agrária, que permite a formação de um forte mercado interno de consumo” (1973, p.221). Comuns nas crônicas futebolísticas são também os flertes com formas inovadoras de expressão (quase poemas concretos?). Por exemplo, ao tratar do modelo da bola definida pela Fifa para a Copa de 1966 escreveu:

Embora corintiana também, como eu, olho-a com suspeição e desconfiança a rolar enganosamente pelo gramado: bola-não-bola, branca-não-branca, preta-não-preta, branca-ou-preta, preta-ou-branca, branca-e-preta, preta-e-branca, prenca, branta. E cinza, quando em alta rotação. Que diabo de nem-bola é essa, afinal? Caleidoscópica, hipnótica, camuflada, mesmérica– bola-de-tróia? (1973, p. 183).

Em meio às citações artísticas e culturais variadas, as crônicas de futebol não deixam de fora um nome referencial em todos os escritos e falas pignatarianos: Oswald de Andrade é lembrado e enaltecido vezes sem conta[6]:

Quando o guerrilheiro Oswald de Andrade – guerrilheiro da idade industrial – faz um discurso sobre a política cafeeira, pinta um quadro assinado Bostoff, faz “pesquisa alta” em antiliteratura e liga a Paulo Mendes de Almeida, para que este lhe “resuma Proust” ao telefone, pois precisa preparar com urgência uma tese universitária, está procedendo como um homem dos novos tempos, antropófago retribalizado devorando a divisão do trabalho e a especialização. (...) Pecado maior que os literatos atribuem a Oswald: era um homem que “não lia”. Lema de Paul Valéry para uma biblioteca: “Plus élireque lire”[7] (1973, p. 157/158).

Na velhice, Pignatari parece ter seguido os passos do mestre. Em uma entrevista à TV PUC/SP, em 1996, ele cita a frase “genial” de Oswald: “Não li e não gostei”, acrescentando que esta atitude significa não perder tempo, agir com economia: “A teoria da informação fala em redundância. Há obras que eu leio em diagonal. Meu repertório permite. O que me interessa hoje? Passar da tecnologia para a sabedoria”.

 

Pioneiro do pensamento comunicacional        

         Quase vinte anos depois de concluído seu curso de Direito, Pignatari alcançou, em 1973, o título de doutor pela Universidade de São Paulo, no Departamento de Línguas Orientais, defendendo a teseSemiótica e Literatura: O Signo verbal Sob a Influência do Signo Não-Verbal. Em 1979 tornou-se pós-doutor pelo Departamento de Arquitetura e Urbanismo da USP, instituição na qual atuou entre 1974 e 1994, sempre no curso de Arquitetura. Na PUC de São Paulo, entre 1972 e 97, lecionou no Programa de Pós-graduação em Comunicação e Semiótica.  Entre 1999 e 2010 foi professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Linguagens da Universidade Tuiuti do Paraná.

Na área da comunicação, seu livro mais citado, e muitas vezes reeditado[8], é Informação, Linguagem, Comunicação, de 1967, dedicado aos alunos da Escola Superior de Desenho Industrial do Rio de Janeiro. A contracapa da edição mais recente afirma: “Este livro introduziu os estudos de comunicação no Brasil em registro semiótico, informacional e cultural – e não simplesmente em nível de discursividade psicossocial, ressalvando-se que as abordagens desta natureza são sempre requeridas, desde que não descartem do horizonte analítico o estudodos paradigmas estruturantes do meio e da mensagem”.O pioneirismo da obra é reconhecido pelo pesquisador Luiz Mauro de Sá Martino no artigo O que foi teoria da comunicação? Um estudo da bibliografia entre 1967-1986, ao mapear as primeiras publicações de brasileiros na área[9].

O livro de Pignatari é dividido em duas partes: a primeira constitui um corpo expositivo, teórico-prático, de questões importantes do processo comunicacional. Na segunda parte estão seis ensaios que abordam temáticas tão variadas quanto o processo de transferência de favelados para um conjunto habitacional, passando pela noção de kitsch, pelas artes gráficas, pela música de vanguarda, até encerrar com a proposta de um modelo de organização para os cursos de desenho industrial no País[10].

O primeiro parágrafo do livro estabelece um entendimento que seu autor parece não ter alterado de forma significativa ao longo das décadas seguintes:

A Teoria da Informação é também conhecida por Teoria da Comunicação e Teoria da Informação e da Comunicação. Alguns teóricos e estudiosos chegam mesmo a distinguir entre informação e comunicação, o que nos parece um eco de uma outra distinção bastante arraigada e corrente, mas dificilmente sustentável, qual seja, a distinção entre forma e fundo, entre forma e conteúdo. De outra parte, o termo “comunicação” vem tendo aceitação mais rápida pela massa média do público letrado, não fosse o tema da “incomunicabilidade”entre os homens um dos tópicos clássicos  dos filosofismos do segundo pós-guerra...(2008, p.13).                             

De acordo com Pignatari, comunicação é um fenômeno e uma função social, “significa partilha de elementos ou modo de vida e comportamento, por virtude da existência de um conjunto de normas” (idem, p. 20). Do ponto de vista psicológico, comunicação é uma resposta a um estímulo: “Claro é, no entanto, que comunicação não é apenas a resposta, mas a relação estabelecida pela transmissão de estímulos e pela provocação de respostas. O estudo dos signos, das regras que regem as suas relações com os usuários e intérpretes, forma o cerne do problema da comunicação” (ibdem).

Com isso, fica claro o outro pilar da obra: a semiótica de Charles Pierce, que ele detalha recorrendo a variados autores e estabelecendo conexões a partir de materiais publicitários e de poemas. Os usos da Teoria Matemática da Informação e da estatística são igualmente abordados com exemplos práticos. Possivelmente pensado como um livro didático, Informação, Linguagem, Comunicação traz relatos de experiências e exercícios desenvolvidos em sala de aula, histórias pessoais do autor e uma clara preocupação em esclarecer termos e conceitos, sempre utilizando extensas referências – no índice onomástico estão mais de 170 nomes.  

Ele critica a multiplicação de cursos de comunicação que ocorria no Brasil naquela época, dizendo trata-se, “em sua maioria, de uma mistura degradante e degradada de psicologismos, métodos audiovisuais e relações públicas” (idem, p.14). Em Contracomunicação Pignatari recupera o debate ocorrido na década anterior na Universidade de Brasília em torno da criação de uma Faculdade de Comunicação de Massa – que acabou não sendo aceita pela instituição –e propõe um modelo inovador de curso:

Dois princípios elementares e básicos devem reger a estruturação de uma nova escola de comunicação, um referindo-se a funções e finalidades, outro norteando a operacionalidade – e ambos intimamente interligados. Princípio I (escopo) Integração dos ‘Media’ (integração dos meios e veículos de comunicação, dos códigos e das linguagens). Princípio II (operacionalidade) o aluno também faz parte do corpo docente (o professor também faz parte do corpo discente) (1973, p.40).

O profissional formado em um curso como o proposto seria “o novo profissional da cultura: o especialista geral das linguagens e dos meios de comunicação, vale dizer não apenas o profissional especializado do velho estilo, mas um especialista crítico (...). Foi-se o tempo da divisão, da fragmentação (...). Quem compreender apenas um médium torna-se burocrata servil deste médium. Grandes criadores modernos sempre chegaram com interesse a outros media”(idem, p. 40/41). Depois de mais de 40 anos, e em tempos de convergência midiática generalizada, estas palavras soam como proféticas.

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Em 1998, entrevistado pelo professor Helton de Souza[11], Pignatari reafirma que a Semiótica é elemento central para os estudos de comunicação: “Eu trabalhei exatamente para impedir as abordagens meramente psicologizantes e sociologizantes – é um blá-blá-blá enorme. Procurei ir por um caminho mais científico, o que implica em ter noções da Teoria da Informação, noções de Semiótica e certas noções técnicas sobre a mídia. Conhecer os sistemas de signo que está usando. Sem Teoria da Informação e sem Semiótica ninguém terá compreensão do fenômeno comunicacional”.

Possivelmente esta postura de resistência a muitas linhas de pesquisa na área da comunicação tenha determinado um comportamento do pensador Pignatari: ele se recusava a participar de congressos e eventos acadêmicos. Esta foi uma das condições impostas quando de sua contratação pela Universidade Tuiuti, lembra a professora Kati Caetano, que coordenava o programa de pós-graduação na época. Uma única vez, por insistência dela, Pignatari aceitou comparecer a um encontro do grupo Interprogramas (precursor da atual Compós) e falar em nome da instituição. Sua intervenção - com críticas mordazes a tudo e a todos, sugerindo uma dissidência da Capes, cujos representantes estavam presentes – deixou um rastro de insatisfação. E pior: o professor se ausentou logo em seguida, não aceitando debater com os pares. “Ele empregava muitas frases de efeito, gostava de provocar, não participava ativamente da rotina acadêmica”,diz Kati Caetano[12].

Este comportamento pouco convencional se manifestava em outros momentos, como nas bancas de defesa de dissertações quando, muitas vezes, ele não poupava os próprios orientandos. Ou na implicância que manifestava em sala de aula com trabalhos que considerava ruins. “Ele exigia que os alunos tivessem posicionamento crítico; que percebessem o discurso por trás das coisas; que trabalhassem com a forma, mas ligada ao conteúdo e ao discurso. Tinha pouca paciência, mas se entusiasmava com os bons trabalhos”, lembra Anuschka Lemos. Como professor, atribuía apenas duas notas: dez ou sete – e dizia que o mercado de trabalho se encarregaria de dar um jeito nos profissionais que não eram bons. De acordo com a ex-orientandaCristiane Wosniak, ele era “o monstro temido pelos alunos do programa”. No entanto, seus encontros quinzenais de orientação eram ricos momentos de conversas sobre arte. “Décio não me deixava acomodar. Fazia-me observações importantes, contava seus ‘causos’, suas viagens, suas experiências com celebridades do mundo das artes, do cinema e sobretudo da dança e ríamos, mas ríamos muito ao comparar gostos, crenças e filosofias, aliás, quase sempre opostas...”[13].

Para a professora Claudia Quadros, que trabalhou com ele no PPGCom da Tuiuti, o grande referencial teórico e os relatos que Pignatari fazia de suas experiências pessoais com os autores das próprias bibliografias indicadas, motivava e interessava os alunos.

A professora Denize Araújo, coordenadora de um curso de especialização em Cinema na Universidade Tuiuti do Paraná, foi responsável pelos contatos iniciais que levaram Pignatari a integrar o PPGCom da instituição. Ela conta que um amigo comum a ambos, o escritor Valêncio Xavier, a procurou dizendo que Pignatari estava de mudança para Curitiba e iria entrar em contato. Dias depois, o telefonema aconteceu: “‘Aqui é o Décio’, disse ele, e eu respondi ‘aqui é a Cleópatra!’, pensando estar falando com o Valêncio!  Logo percebi ser mesmo o Décio e pedi desculpas, mas por algum tempo ele me chamou de Cleópatra!”.  Por ocasião do falecimento de Pignatari, Denize escreveu: “Por 10 anos, tivemos a honra de ter sua presença irrequieta e irreverente em nossas salas, desafiando os discentes a pesquisar mais e a discutir as teorias sem aceitá-las passivamente. Seu conhecimento profundo de poesia, literatura, cinema e artes foi sempre fonte de admiração em sua disciplina na Pós em Cinema, onde seu nome foi referência”.

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Numa atitude incomum em textos acadêmicos, Pignatari emprega, em diferentes momentos deInformação, Linguagem, Comunicação, o recurso do humor para exemplificar ou fixar conceitos – o que denomina de ‘anedota exemplar’:

O significado é uma relação entre o interpretante do emissor e o interpretante do receptor; é uma função dos respectivos “repertórios”, confrontados na prática efetiva dos signos. A seguinte historieta ilustra o fenômeno: Um garoto recém-alfabetizado costumavapassar, em companhia da irmã, já ginasiana, em frente a um edifício onde se lia “Escola de Arte”. Intrigado, perguntou à irmã: “Escola de arte... que é isso”? E a irmã: “Escola de arte... onde se ensina arte”. E ele: “Puxa!... Deve ser uma bagunça!”. Para ele, “arte” significava “molecagem”, “peraltice”, de acordo com o repertório que lhe forneciam os ralhos da mãe (“Esse menino vive fazendo arte”) (2008, p.37)[14].

Os pensamentos de McLuhan estão presentes neste livro no qual Pignatari desenvolve, especialmente, a máxima “o meio é a mensagem”: “Não importa saber o que a televisão está levando ao ar, se os seus programas são de alto ou baixo nível; é ela própria, enquanto veículo, que altera o comportamento, condicionando a percepção no sentido do envolvimento geral, da participação (‘Estar por dentro’– lema dos jovens de hoje), apesar da resistência das elites de formação literária, que gostariam de levar à televisão o que chama de ‘cultura’, impondo soporíferos programas lineares...” (idem, p.17).

As inovações tecnológicas dos anos 60 – explicadas algumas vezes a partir de McLuhan ou a partir de Norbert Wiener, o fundador da Cibernética – são usadas para pensar a arte daquele período profundamente transformador, sustentando, por exemplo, que “o estudo das relações entre ciência e arte é, em boa parte, o estudo das relações entre as comunicações digitais e as comunicações analógicas”(2008, p.24). Para Pignatari, o grande desenvolvimento das artes gráficas naquela etapa histórica se devia ao fato de ser uma arte de informação – “e informação entendida em termos da Teoria da Informação e da Comunicação, ou seja, basicamente em termos de signos e relações estatísticas entre signos e em termos de poder seletivo de uma fonte de sinais” (idem, p.127).

A dicotomia entre cultura de elite e cultura de massa é outro tema recorrente. Tratando da música, ele defende que “a arte deve ser reintegrada à vida de todos os dias e não relegada a pseudo-santuários musicais onde uns poucos privilegiados vão buscar escape para supostas angústias metafísicas. É a revolta da segunda-feira contra o domingo” (idem, p.139). A existência de distintos níveis de repertório justifica a explosão de um fenômeno como a banda Mamonas Assassinas, citada por Pignatari em um debate sobre o belo, realizado no teatro da PUC/SP, em 1996: “O palpite é que o gosto deve ser respeitado na conversa cotidiana. O mundo das convenções e da cultura não nos permite escapar sempre. Eliminar as grandes desigualdades sócio culturais é uma luta que não vai acabar nunca. Temos que aceitar sermos solidária e humildemente humanos e combater as injustiças”.

Suas colocações sobre o kitsch, no livro Informação, Linguagem, Comunicação, nãosoam de forma pejorativa, “pois a verdade é que a cultura popular é crítica em relação à cultura superior e o kitsché a sua vanguarda de choque” (2008, p. 126). O kitsché encarado como um fenômeno móvel que reflete aspectos da crise do artesanato fase à industrialização e ao mercado de consumo – “que pulveriza as próprias coisas por meio da obsolescência planejada, enquanto que a organização da produção e consumo em massa de processos culturais de alto nível se encontra ainda em estágio bastante rudimentar” (idem, p. 132).

 Ele sustenta, recorrendo a um conceito tantas vezes referido, que o kitsché a redução do repertório estético vigente nas camadas superiores da cultura, já que o que costumamos chamar de ‘belo’ só pode ser caracterizado como tal dentro de padrões estéticos previamente codificados. “... o kitsché resultado da tradução de um código mais amplo para um código mais reduzido – e para um auditório mais largo (a redução do repertório implica a ampliação da audiência, e vice-versa). Segue-se que a visão do kitsch como ‘pseudoarte’ é uma visão das camadas superiores da cultura”(idem, p.122).

Na consolidação da cultura de massa, para Pignatari, as camadas com menor repertório vão impondo sua cultura à intelligentsia – pelo consumo e pela comunicação: “A formação da cultura de massa, através do gradativo desenvolvimento de sua própria capacidade de escolha, corresponde à formação da nova qualidade (nada a ver com durabilidade) dos produtos fabricados em série e em massa. É neste contexto que o designer deve inserir sua problemática mutável e seu trabalho. E não na balela de ‘levar a cultura às massas’” (2008, p. 118). Mesmo porque, para o autor, “quando uma forma ou gênero da cultura de massa entra em declínio, ela tende a se transforma em ‘arte’ nas camadas superiores” (idem, p. 90). E cita que isso ocorreu com a fotografia, depois do aparecimento do cinema e com a história em quadrinhos, depois do advento da televisão.

Um dos últimos textos de Pignatari no âmbito da comunicação foi Interpretante, ideologia, poder, publicado no livro O Olhar à deriva: mídia, significação e cultura (2004),organizado pelos professores Kati Caetano e Eduardo Peñuela. O volume reunia contribuições de docentes da UTP e, durante meses, ficou paralisado à espera do capítulo que deveria ser escrito por Pignatari. “Depois de muita insistência, ele entregou uma curta reflexão, nos obrigando a alterar o planejamento do livro. Creio que, mais para o final da vida, o Décio voltou às raízes: seu negócio era a literatura e a arte, não a academia”, diz Kati Caetano.

Neste texto, aos postulados de Pierce reaparecem de maneira enfática, demonstrando que a fidelidade ao autor se manteve inalterada:

Pierce diz que “montou a teoria de uma concepção”, ou seja, a visada racional de uma palavra ou outra expressão, reside exclusivamente em sua concebível relação com a conduta da vida; dessa forma, já que obviamente nada que não possa resultar da experimentação pode ter qualquer relação direta com a conduta de vida, se se puder definir com precisão todos os fenômenos experimentais possíveis que podem ser afirmados ou negados na implicação de um conceito, ter-se-á a completa definição do conceito – e ai não há absolutamente nada mais do que isso (2004, p.296).

O texto exemplifica a capacidade sempre presente em Pignatari de relacionar autores e correntes de pensamento. Em quatro páginas ele cita Aristóteles, Hegel, Marx, Jakobson, Heidegger, Oswald de Andrade, o pensamento ocidental e o oriental (colocando em relevo as noções de caminho e de tao – para o Ocidente o caminho é o percurso para alcançar a meta; para o Oriente o caminho é por si: ele é a própria meta). E sustenta que “a função poética é o caminho e ponte do verbal para o não verbal, do símbolo para o ícone, onde se exerce a terceira de sua[de Pierce] chamada proposições cotárias (do latim cos-cotis = pedra de amolar), criada por ele, a abdução, o método quase lógico da heurística, vulgarmente chamada intuição (as duas outras proposições cotárias são a indução e a dedução). Isso implica dizer que o mundo da invenção e da descoberta é fontanamente (extraído de fonte este advérbio) icônico. A iconicidadesígnica não é senão o estágio inicial do pensamento abdutivo do processo do pensamento evolutivo”(2004, p. 297).

         Em maio de 2007, Pignatari concedeu entrevista à revista Interin, da Universidade Tuiuti e falou sobre o projeto de pesquisa ‘Cibermídia, cibermassa’, que desenvolvia na ocasião. Fazendo uma alusão à popular Lei de Murphy (segundo a qual o lado negativo tenderá a prevalecer no desfecho de um evento), Pignatari formuloua Primeira Lei de Comunicação Globalizada - a saber: "A uma cibermassa mercadológica corresponde uma cibermidia. E vice-versa: A uma Cibermidia tende a corresponder uma cibermassa. Ou seja: as novas tecnologias surgem e se aproximam para atender e suscitar a expansão do mercado de usuários que, por sua vez, ciberneticamente, suscitam o surgimento e a expansão das novas tecnologias midiáticas” (2007, s/p).

 

À guisa de fechamento

         Daniel Lacerda, em texto que antecede a entrevista com Pignatari, publicada pela revista acadêmica Interin, manifesta espanto e inconformismo pelo fato de sua obra merecer tão raros estudos, ao contrário dos escritos dos irmãos Haroldo e Augusto de Campos:

Pois, seja em sua poesia, seja em sua prosa de ficção, seja em sua dramaturgia, seja, mesmo, em sua ensaística, a linguagem pignatariana é perpassada pela incessante busca da iconicidade, qual seja, pela quebra da primazia do verbal que, nela, acha-se permanentemente interpenetrada por códigos outros.  E é esta obra-intersemiótica por excelência que está a merecer ser lida. Faz falta, muita falta, um corpo crítico consistente sobre a poética de Décio, a qual, diferentemente das de seus companheiros concretos (...) acha-se ainda encoberta pelo limbo que insiste em lhe impor a crítica mais conservadora (notadamente a acadêmica) (2007, s/p).

         No levantamento feito para o presente texto, nove anos depois, a ausência de estudos sobre Décio Pignatari permanece: localizei apenas um trabalho de conclusão de curso de literatura e postagens em blogs ou sites literários fazendo breves análises ou críticas às obras pignatarianas.

Cidadão brasileiro que enfrentou duas ditaduras – o Estado Novo de Vargas e o período militar de 1964 a 85 –Décio Pignatari não conseguiu concluir o projeto de seu grande livro sobre o Brasil, mas na leitura de seus textos e entrevistas é possível extrair formulações que demonstram sua visão acerca do País. Ele criticava as elites nacionais, por manterem “estruturas medievais”, o conservadorismo da sociedadee garantia que sempre batalhou “por um Brasil internacional”. Em 2007, sustentou que o País ainda não tinha “massa crítica para abordar as questões comunicacionais provocadas pela explosão infracional causada pela globalização – seja nos cursos de comunicação, de sociologia e de filosofia, seja no jornalismo, seja nos setores responsáveis da Esplanada dos Ministérios”. Resta constatar que, certamente, ainda não temos massa crítica hoje, quase uma década depois.

           Apesar de avaliações pessimistas em relação ao Brasil, em especial no aspecto da educação, Pignatari era confiante no potencial da nação. No encerramento do programa Provocações, Abujamra ofereceu o microfone ao entrevistado e pediu que ele o usasse com a liberdade:

Eu não seria sem o Brasil. O Brasil seria sem mim, mas eu não sem o Brasil. No entanto, quero um meta-Brasil, um outro Brasil, um além Brasil, pós-Décio. Um dia, quando guaraná for coca-cola nós teremos as mesmas chances que eles têm. Por enquanto não, não temos. Mas eu digo positivamente: neste país só não resulta o que você não faz (199?).

 

Referências

ARAÚJO, Denize. Depoimento ao blog Dois anos sem Décio. Disponível em http://profdeciopignatari.blogspot.com.br/ Acesso em 13/03/2016.

CAETANO, Kati. Entrevista à autora, realizada em Curitiba em 12/03/2016

LEMOS,AnuschkaReichmann. Entrevista à autora, realizada em Curitiba em 07/03/2016.

MARTINO, Luiz M. de S.O que foi teoria da comunicação?Um estudo da bibliografia entre1967-1986. In: Revista Comunicação Midiática, v.6, n.1, p.118-133, jan./abr. 2011. Disponível em: https://dialnet.unirioja.es/descarga/articulo/3989579.pdf. Acesso em 25/03/2016.

LACERDA, Daniel. A obra-pensamento fanomelopaica de Décio Pignatari. In: Revista Acadêmica Interin, v.3, n.1, 2007. Disponível em http://interin.utp.br/index.php/vol11/article/view/121/107. Acesso em 25/03/2016.

O GLOBO. Morre o escritor Décio Pignatari, aos 85 anos. 03/12/2012. Disponível em: http://oglobo.globo.com/cultura/morre-escritor-decio-pignatari-aos-85-anos-6906429. Acesso em 28/02/2016.

PIGNATARI, Décio. Informação, linguagem, comunicação. 28 ed. Cotia (SP): Ateliê Editorial, 2008.

____________.Contracomunicação. 2 ed. São Paulo, Ed. Perspectiva, 1973.

­____________.Semiótica da Arte e da Literatura. 3 ed. Cotia (SP): Ateliê Editorial, 2004.

____________. Entrevista a SOUZA, Helton Gonçalves. Programa Veredas Literárias. TV Cultura São Paulo. 1998. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=hGK3xRCDKHE. Acesso em 20/02/2016.

____________.Entrevista a ABUJAMRA, Antonio. Programa Provocações. TV Cultura São Paulo, 199(?). Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=mO1sUoaQeUc. Acesso em 20/02/2016.

____________.Participação em debate sobre “O Belo”. Programa Diálogos Impertinentes. TV PUC São Paulo, 1996. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=bAeWI4xHpw4 Acesso em 20/02/2016.

____________. Entrevista à Revista Interin, UTP. v.3 n.1, 2007. Disponível em http://interin.utp.br/index.php/vol11/article/view/134/119. Acesso em 13/03/2015.

____________.Interpretante, ideologia, poder.  In: CAETANO, Kati e PEÑUELA, Eduardo. O Olhar à deriva: mídia, significação e cultura. São Paulo: Annablume, 2004.

QUADROS, Cláudia. Entrevista à autora, realizada em Curitiba, em 12/03/2016

WOSNIAK, Cristiane. Depoimento à autora, em 10/03/2016.

 

Nota de apresentação biobibliográfica

Professora do bacharelado em Comunicação Organizacional da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR); jornalista com mais de vinte de atuação na imprensa diária; doutora em Ciência da Comunicação pela Unisinos (2006), ex-coordenadora do GT Jornalismo Impresso da Intercom e atual integrante do Conselho Fiscal da entidade.

 

Resenha auto-crítica

Tive o privilégio de acompanhar uma disciplina ministrada pelos professores Décio Pignatari e Geraldo Nascimento no PPGCom da Universidade Tuiuti do Paraná em 2004, substituindo alguns créditos que eu deveria cumprir no doutorado da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (RS). Foi uma experiência marcante, em especial pelas aulas expositivas de Pignatari. No geral, ele não escrevia mais do que meia dúzia de palavras no quadro e nunca usou qualquer equipamento. Mas ocupava a mesa do professor, invariavelmente, com uma grande quantidade de material visual: eram revistas brasileiras e estrangeiras, livros de arte, prospectos de propaganda etc. A costura que ele conseguia fazer com esta variedade de exemplos era encantadora. Nada estava ali por acaso e tudo se juntava em um raciocínio que esbanjava referências culturais nas áreas de literatura, da música, do design, das artes plásticas – sempre tendendo para artistas e pensadores de vanguarda.

O cenário daquelas aulas representou para mim um desafio. Meu repertório nas artes plásticas era sofrível e fui motivada a buscar conhecimento. Como interiorana nascida em uma minúscula cidade no Norte do Paraná, de uma família de mineiros migrantes do meio rural, meu contato com a pintura e a escultura era restrito. Embora tenha atuado por muitos anos no jornalismo diário, minhas áreas de cobertura sempreforam as chamadas editorias “duras”, de economia e política. Os horizontes descortinados naqueles encontros com Décio Pignatari me levaram a um processo de enriquecimento cultural, de construção de maior repertório – que, de resto, continuo perseguindo.

Coisa semelhante se deu com a semiótica de Charles Pierce. Escritos do próprio e de seus seguidores constituíam a bibliografia da disciplina, na qual me debrucei com vigor, buscando preencher uma lacuna de um curso de comunicação realizado na década de 70, ministrado por professores de escassa formação na área. Se não me tornei umapierciniana convicta, pelo menos consegui (consigo) acompanhar os ricos raciocínios que os semioticistas desenvolvem na tentativa de compreender os signos que nos envolvem e suas relações.  

 


[1] Nas duas instituições, Pignatari foi responsável pela introdução da disciplina Teoria da Informação, organizando o primeiro programa de ensino de teoria da comunicação que se tem notícia no Brasil, segundo relata no livro Informação, Linguagem, Comunicação (2008, p.92).

[2] Multimídia e hibridização foram termos popularizados bem mais adiante no cenário comunicacional. E vale ainda uma referência ao próprio enredo da audiofotonovela, que mesclava uma história romântica com ataque de vampiro, uma festa hippiesca regada a muita droga, relações sexuais violentas etc.

[3] Caetano e os demais artistas citados a seguir foram entrevistados pelo jornal O Globo.

[4] Dito em entrevista ao programa Veredas Literárias da TV Cultura de São Paulo em 1998.

[5] Aos programas Diálogos Impertinentes e Veredas Literárias.

[6] Em Informação, Linguagem e Comunicação Oswald é definido como “o único pensador brasileiro verdadeiramente moderno” (2008, p. 110)

[7] Tradução livre da autora: “Mais eleger do que ler”.

[8] Em 2013 a Ateliê Editorial lançou a 29ª edição da obra, fato surpreendente para uma publicação acadêmica no Brasil.

[9] Considerando este aspecto pioneiro, e também o fato de que a produção do autor no segmento da comunicação é restrita, optei por fazer de Informação, Linguagem, Comunicaçãoa base da presente seção do verbete.

[10] Apresentada em junho de 1965 durante o I Seminário Nacional de Ensino de Desenho Industrial.

[11] No programa Veredas Literárias, exibido pela TV Cultura de São Paulo.

[12]Um outro indício deste desapego à rotina acadêmica é o fato do Currículo Lattes de Pignatari ter sido atualizado pelo última vez em 2006, embora ele tenha permanecido na universidade até 2010, e incluir apenas as orientações realizadas em seu tempo de Tuiuti, sem referências a períodos anteriores.

[13] Em junho de 2007, na abertura do encontro da Compós realizado em Curitiba, Cristiane dançou/performou o poema concretista ‘Araterra’, transformado em ‘clipoema’ pelo viés semiótico e tecnológico de Luiz AntonioZahdi Salgado. “Dancei em meio às imagens dinâmicas de seu poema que era projetado nas paredes do auditório... Foi uma das raras ocasiões em que vi o Décio emocionado e com lágrimas nos olhos”. Em 2014, o grupo de dança dirigido por Cristiane montou um espetáculo baseado em poemas de Pignatari, o “LimoNADA NADA CONCRETA”.

[14] Repertório era um tema insistentemente tratado em suas aulas: “Algumas vezes, ele ficava três encontros falando a mesma coisa, mas era tão interessante que valia a pena a repetição. E sempre empregava referências do futebol para ilustrar suas colocações”, conta Anuschka Lemos.

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