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Danton Jobim

Por José Marques de Melo

Danton Jobim, Brasilólogo Internacional

 

Os estudos sobre os processos de comunicação se desenvolveram, em nosso país, desde meados do século XIX, mas na verdade a noção de “campo” data dos anos 70 do século XX. Até então, as práticas sociais e os respectivos estudos produzidos pela academia eram segmentados pelas disciplinas que compõem o universo das ciências da comunicação. Vários fatores convergem para a nova forma de organização do trabalho e do conhecimento.

O detonador desse movimento de reconhecimento nacional foi o então Presidente ABI, que promove no Rio de Janeiro, em 1971, o I Congresso Nacional de Comunicação. Esse emblemático congresso de 1971 foi concebido, convocado e realizado por iniciativa de Danton Jobim, personagem hoje desconhecida das novas gerações.

Figurando entre as principais lideranças jornalísticas  da sua geração, sua presença no segmento erudito se dá a partir de 1938. Danton publica seu primeiro livro intitulado Problemas do nosso tempo. Nele faz reflexões críticas sobre o jornalismo e a política, distanciando-se do marxismo-leninismo, referencial que marcara sua trajetória política no período 1923-1934.

Lança o segundo livro, denominado A experiência Roosevelt e a revolução brasileira, traduzido para o inglês com o título Two Revolutions. Publica em 1942 novo livro de jornalismo internacional – Para onde vai a Inglaterra ? – resultado de sua atuação como repórter e analista do front europeu durante a Segunda Mundial.

Mas sua adesão ao território universitário somente se daria no fim daquela década, período marcado pelo fim do conflito bélico internacional, pela deposição do ditador Getúlio Vargas e pela retomada da vida democrática no território nacional.

Em 1948, ele participa como docente fundador do Curso de Jornalismo da Universidade do Brasil, hoje UFRJ.  Tinha como assistente seu colaborador no jornal Diário Carioca, o jornalista Pompeu de Souza. A dupla Danton-Pompeu transfere para a universidade o cabedal de conhecimentos acumulados no exercício da profissão, com a intenção de formar uma nova geração de jornalistas.

A conquista do status acadêmico foi responsável, em grande parte, pelo reconhecimento internacional que daria relevo à sua trajetória intelectual. Esse itinerário começa em 1952, quando ele recebe o Prêmio Maria Moors Cabot, atribuído anualmente pela Universidade de Columbia a jornalistas latino-americanos que se destacam na luta em defesa da liberdade de imprensa.

No ano seguinte (1953) Danton Jobim é convidado para atuar como Professor Visitante da Universidade do Texas, onde ministra curso sobre Jornalismo Latino-Americano. Suas aulas despertam grande interesse dos professores e alunos pelo ineditismo da análise que focalizava a natureza mestiça do jornalismo praticado no Brasil. Ele esboça o perfil singular do jornalismo brasileiro, enraizado na tradição francesa do jornalismo opinativo e atualizado pelas influências do jornalismo informativo norte-americano, assimiladas intensivamente no pós-guerra, quando a América Latina se converte em satélite da economia e da cultura dos EUA.

Como resultado dessa experiência bem sucedida na Universidade do Texas, ele se converte no primeiro acadêmico brasileiro a publicar artigo na conceituada revista Journalism Quartely (vol. 31, n. 1, 1954), p. 61-66, sob o título French and US Influence Upon the Latin American Press . Trata-se da síntese de suas preleções,  editada pelo renomado pesquisador Robert Desmond, consultor internacional da UNESCO para o campo da comunicação de massa e responsável pela seção de comunicações estrangeiras do referido periódico científico, patrocinado pela Association for Education in Journalism - AEJ.

Contudo a sua consagração acadêmica iria efetivamente ocorrer em 1957, na cidade de Paris. A convite de Jacques Kayser, o mais importante cientista da comunicação da sua época, também assessor da UNESCO, como Desmond, ele atua como Professor Visitante na Sorbonne. Ali publicou o livro Introduction au Journalisme Contemporain, com prefácio do famoso Kayser. Nesse mesmo ano, participa, na sede da UNESCO, da já mencionada conferência mundial,  reunida com a intenção de  fundar a IAMCR – International Association for Mass Communication Research, sendo eleito para compor a primeira diretoria da entidade. (Marques de Melo, 2007 e 2008)

Ungido pelo reconhecimento internacional, tanto na França quanto nos Estados Unidos, Danton Jobim assumiria papel decisivo na construção do espaço acadêmico que desaguaria na constituição do campo comunicacional brasileiro.

Esse novo ciclo começa em 1958, quando ele participa, em Quito, Equador, da reunião preparatória para a fundação do CIESPAL – Centro Internacional de Estúdios Superiores de Periodismo para América Latina. Jobim chegou a cogitar, em diálogo com as lideranças da UNESCO, a possibilidade desse novo organismo internacional vir a ter sua sede no Rio de Janeiro. Infelizmente, não encontrando muito apoio, desistiu de levar adiante  a iniciativa.

Porém, entusiasmado com a boa repercussão de suas idéias jornalísticas no exterior, Danton anima-se a divulgá-las também no Brasil. Em 1960, publica o livro Espírito do Jornalismo (Rio de Janeiro, Livraria São José), contendo a tradução das suas conferências parisienses e outros ensaios. Reeditado pela EDUSP, em 1992, esse livro integra a coleção “Clássicos do Jornalismo Brasileiro”, tendo recebido excelente introdução escrita por Carlos Eduardo Lins da Silva.

Em 1961 ele publica em Quito, Equador, seu livro Pedagogia Del Periodismo: Métodos de Enseñanza orientados para la Prensa Escrita, resultado do curso ministrado no CIESPAL no ano anterior. Rapidamente esgotada, por se tratar de obra inédita e ousada, a  segunda edição circula em 1964.

Mas a valorização do potencial pedagógico demonstrado internacionalmente por Jobim não produz ecos recompensadores no interior da academia brasileira. Aliás, a própria conjuntura política mostrou-se desfavorável. Com o golpe militar de 1964, as perspectivas de florescimento intelectual no país eram desmotivadoras, quando não assumiam formato nitidamente castrador.

Compreende-se, desta maneira, que o nosso personagem tenha reduzido seu ímpeto acadêmico, buscando compensações no terreno da política, onde viria a ter um papel relevante na resistência democrática ao crescente autoritarismo que se projetou em todo o Cone Sul da América.

São, portanto, episódicos ou burocráticos os registros de sua participação final no mundo acadêmico  Por exemplo, em 1968, ao ser criada a Escola de Comunicação da UFRJ, a partir da estrutura do primitivo Curso de Jornalismo da Universidade do Brasil, ele assume o cargo de Vice-Diretor.

No ano seguinte, afasta-se do cargo de Vice-Diretor da ECO, para assumir seu primeiro mandato de Senador. Danton Jobim permaneceu lecionando na instituição e participando de atividades acadêmicas, na medida do possível, até sua morte em 1978.

Mas tudo indica que quis dar ao seu canto de cisne um sentido público, promovendo o congresso de 1971 para reivindicar do Estado políticas de comunicação capazes de corrigir as distorções remanescentes no sistema nacional.

Pelo menos é isso que transparece no seu discurso de encerramento. Três idéias-chave definiram sua compreensão do evento: juventude, desenvolvimento e democracia. As idéias privilegiadas pelo orador podem ser resumidas da seguinte maneira: 1. Celebrou a maturidade da “juventude” que participou ativamente dos debates; 2. Enfatizou que o “desenvolvimento” só pode ser alcançado com “democracia” e comunicação; 3. Reivindicou uma “política global de comunicação”, para a formulação da qual contribuiriam os teses  endossadas pelo congresso.

Proclamado pelo seu idealizador como um “acontecimento histórico      na vida da ABI” , o I Congresso Nacional de Comunicação realizou-se na cidade do Rio de Janeiro, no período de 11 a 16 de setembro de 1971, reunindo jovens professores e pesquisadores que ocupariam nos anos seguintes papéis decisivos na constituição do campo acadêmico da comunicação no Brasil. A consulta aos Anais do 1º. Congresso Nacional de Comunicação (Rio de Janeiro, ABI, 1971) comprova plenamente essa hipótese.

Contudo, a importância política desse congresso está explícita na epígrafe de discurso de abertura proferido por Danton Jobim – “Por uma política nacional de comunicação no Brasil”. Trata-se de do “desafio do seu tempo”, que a seu ver, a ABI acolhia patrioticamente, argumentando que “deixar a iniciativa a cargo exclusivamente do Governo  é até perigoso, porque conduz inevitavelmente à hipertrofia do Estado, em detrimento da democracia”

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