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Assis Chateaubriand

Por Sônia Caldas Pessoa

Chateaubriand, o controverso dono de um império

 Sônia Caldas Pessoa - Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

 

Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo nasceu em 4 de outubro de 1892, em Umbuzeiro, na Paraíba, e se tornou um magnata da mídia, influenciando a política brasileira entre as décadas de 1930 e 1960. Ocupou diversos cargos públicos, fez-se senador, embaixador do Brasil em Londres, tornou-se membro da Academia Brasileira de Letras e foi um dos fundadores do Museu de Artes de São Paulo (MASP). Aos 32 anos, em 1924, conseguiu comprar O Jornal, o primeiro de muitos que comporiam Os Diários Associados, conglomerado de quase cem jornais, revistas e emissoras de rádio e de televisão. Aliás, foi Chateaubriand quem trouxe a televisão para o Brasil em 1950, com a inauguração da TV Tupi.

Um dos homens mais poderosos e controversos do século XX no país foi descrito pelo jornalista Fernando Morais, autor da biografia Chatô, o rei do Brasil, como uma criança que sofreu por motivos diversos: “A gagueira não tinha sido a única mazela a infernizar a infância de Chateaubriand. Além de ser gago ele era feio, raquítico, amarelo e opilado” (MORAIS, 1994, p.30). Ganhava as ruas como um moleque e foi alfabetizado aos doze anos pouco antes de ser admitido no ginásio da Escola Naval.

Uma breve passagem pelo jornal Estado de Pernambuco foi o suficiente para que o talento e a firmeza de Chateaubriand se revelassem em um tempo em que a polêmica era a estrela do jornalismo. Os artigos contundentes se tornaram fortes aliados do padre Cícero Romão Batista em sua luta armada contra o governo de Dantas Barreto no Ceará. E polêmicas estariam presentes em toda a vida de Chateaubriand. Uma delas, um primeiro lugar em um concurso para professor de Direito, o fez sair às pressas de Pernambuco em direção ao Rio de Janeiro, onde articulou tratativas políticas para garantir a sua posse. Mas ele não chegou a exercer o cargo e, encantado pela então capital federal, mudou-se para o Rio, levando consigo, aos 25 anos, a fama de intelectual e colecionador de vitórias em textos polêmicos contra adversários políticos e a favor dos aliados. Fama a que faria jus até a sua morte.

No Rio de Janeiro, decidiu exercer a advocacia com dois objetivos claros e imediatos: comprar um carro de luxo e um jornal. Mas antes de adquirir o seu próprio jornal, colaborou com outros já estabelecidos, como o Correio da Manhã, por meio do qual teve a oportunidade de viajar por diversos países da Europa para reportagens especiais antes de ser tornar um grande empresário da comunicação.

Chatô colecionava afetos e desafetos na política, na economia e até mesmo entre os seus colaboradores. Nelson Rodrigues, contratado pela mais importante revista brasileira na década de 1940, O Cruzeiro, que fazia parte do império, não se conformava com a maneira como Os Associados trataram a morte do seu irmão, o ilustrador Roberto Rodrigues, assassinado por uma mulher que teve seu divórcio noticiado pelo jornal da família: “E era para esse homem – Assis Chateaubriand - que estava indo trabalhar. Uma coisa o consolava: ele não era o único a não gostar de Chateaubriand” (CASTRO, 1992, p.182).

De outro grande jornalista, Samuel Wainer, era um inimigo implacável. Wainer foi funcionário de Chatô e depois seu concorrente com o jornal Última Hora, aliado do então presidente da república Getúlio Vargas, na década de 1950. “Eu não tinha a menor simpatia por aquele paraibano baixinho, elétrico, que representava uma espécie de versão cabocla do “cidadão Kane” retratado no famoso filme de Orson Welles. O futuro mostraria que Chateaubriand era pior que eu imaginava” (WAINER, 2001, p.101).

Chateaubriand escreveu praticamente sem parar, mesmo sendo o proprietário de uma cadeia de veículos de comunicação que já ruía. Seus textos foram publicados até 1968, quando morreu de um colapso cardíaco. Oito anos antes havia sido acometido por uma trombose que o deixara com sequelas graves. Ainda assim, se esforçava para redigir com o auxílio de uma máquina de escrever, bem diferente dos tempos em que fazia os artigos à mão para ameaçar os adversários, fazer “brotar” dinheiro e comprar mais empresas. Em seu último artigo, publicado em 21 de maio de 1968, quinze dias antes de morrer, Chateaubriand, amante das artes, comemorava a inauguração, em breve, do Museu de Arte de Natal, no Rio Grande do Norte. No texto, saudava os “nossos homens sertanejos”, que teriam pisado nas galerias dos museus de Campina Grande, Olinda e Feira de Santana, como se tivessem desfilado em um “chão de um santuário”: “É a sua atitude, de olhos abertos em respeito e em esperança, traduzindo a alma sensibilizada a essa ternura que lhes vinha das grandes cidades, constitui uma das nossas experiências mais felizes e gratas” (ASSIS CHATEAUBRIAND, 1992, p. 305).

 

REFERÊNCIAS

CASTRO, R. O anjo pornográfico: a vida de Nelson Rodrigues. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.

ASSIS CHATEAUBRIAND, F. O pensamento de Assis Chateaubriand: seleção de artigos e discursos de 1924 a 1968. Brasília: Horizonte, 1992.

MORAIS, F. Chatô, o rei do Brasil, a vida de Assis Chateaubriand. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.

WAINER, S. Minha razão de viver: memórias de um repórter. Rio de Janeiro: Record, 2001. 

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