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Alfonso Gumucio

Por Rodrigo Gabrioti¹ (UMESP)

Alfonso Gumucio: Critico contumaz da panacéia tecnológica

Palavras-chave:
Cinema; Mudança Social; Participação; Bolívia; Paris


Reconhecer nas experiências reais a comunicação como transformação social a partir de diálogo, participação e envolvimento entre os sujeitos. 

É este o pressuposto teórico que ativa o brasilianismo de Alfonso Gumucio, pesquisador boliviano que há décadas transita pelo cinema, literatura, fotografia e jornalismo. Ligado a instituições como UNICEF, UNESCO, Fundação Rockefeller, entre outras, se aproxima das questões sociais por meio de seu trabalho.

Autor de pelo menos 20 livros que versam sobre poesia, narrativa e reflexões literárias. Exilado duas vezes, foi em Paris, que conheceu o cinema. O estudo das técnicas cinematográficas, na França, o fez criticar o militarismo, em seu país natal, com a produção de seu primeiro documentário: "Señores Generales, Señores Coroneles".
Intelectualmente, centraliza seu postulado teórico nas experiências cotidianas do comunitário, envolvendo relação e vínculo dos atores sociais para a mudança social por meio da comunicação.

Alerta que o processo – como materialização da cultura, tradição e conhecimento local da comunidade – prevalece diante dos produtos, pois, o comunicador precede a mensagem. Trabalhar pelos interesses comuns exige das pessoas participação e tomada de decisões sem interferências. Ao diferenciar comunicação de informação, o autor esclarece que informar é processo e comunicar é participar. Assim, categoriza a mídia comercial como informação e a mídia comunitária como comunicação. Faz críticas à formação universitária de jornalistas e comunicadores porque os primeiros seriam treinados para integrar a mídia comercial. Em contrapartida, os comunicadores, que deveriam facilitar o processo nessa perspectiva de mudança, praticamente não são “criados” pelas instituições.

O sucesso da mídia comunitária está na América Latina, segundo Alfonso Gumucio. A experiência chave para esse ponto de partida data de 1947, com a emissora de rádio comunitária dos mineradores bolivianos, gerenciada e sustentada pelos próprios trabalhadores, voltados às necessidades do entorno. Mais uma infinidade de exemplos latino-americanos está em Haciendo Olas: Historias de Comunicación Participativa para el cambio social. Duas experiências brasileiras são reveladas. A primeira é o vídeo "Kayapo", de 1985, da cineasta Mônica Frota, que mostra a identidade cultural e a luta por direitos políticos da comunidade indígena do Pará. Frente a frente, práticas tradicionais da comunidade e as apropriações da cultura moderna. Diante das câmeras, rituais e danças se tornaram a expressão de um registro político de protestos contra o governo brasileiro que experimentava sua redemocratização. A segunda experiência é a TV Maxambomba, em uma comunidade de Nova Iguaçu (RJ), cujo nome remonta ao trabalho braçal dos escravos em carregar produtos agrícolas para as embarcações. Situações reais do dia a dia eram dramatizadas e depois debatidas na comunidade. Exemplos que reforçam os dizeres de Gumucio de que a experiência vem antes da teoria. Assim a comunicação usada para a mudança social surge das comunidades e não para as comunidades.

Em meio à panaceia tecnológica contemporânea, seu pressuposto é de que as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC´s) precisam ter usabilidade aplicada aos interesses comuns. Fora essa perspectiva de modelo, o autor é um crítico contumaz e rotula as TIC´s de ilusórias, pois, elas não seriam a solução mágica para tudo. Assim o diferencial se faz nos conteúdos e usos adaptados a cada realidade com a fruição de práticas dialógicas baseadas em princípios de justiça, igualdade e participação. Essas premissas fazem parte de um mapeamento das iniciativas comunicacionais para a mudança social que constam na clássica Antología de Comunicación para el cambio social: lecturas históricas y contemporâneas (2008).

Entre as centenas de autores, brasileiros como José Marques de Melo, Cicilia Peruzzo e Luiz Beltrão na construção de um diálogo acadêmico similar à proposta do preceito central do autor. Essa interação com nossos compatriotas que pesquisam a comunicação comunitária e as manifestações populares propõe uma mudança: fazer de Alfredo Gumucio um brasilianista de fato e de direito.

Referências
GUMUCIO DAGRON, Alfonso; TUFTE, Thomas. Antología de Comunicación para el cambio social: lecturas históricas y contemporâneas. Plural Editores: La Paz, Bolívia, 2008.
GUMUCIO DAGRON, Alfonso. Haciendo Olas: Historias de Comunicación Participativa para el cambio social. Plural Editores: La Paz, Bolívia, 2001.
GUMUCIO DAGRON, Alfonso; TUFTE, Thomas. Raíces y importancia Introducción a la Antología de Comunicación para el cambio social. In: GUMUCIO DAGRON, Alfonso; TUFTE, Thomas. Antología de Comunicación para el cambio social: lecturas históricas y contemporâneas. Plural Editores: La Paz, Bolívia, 2008.
GUMUCIO DRAGON, Alfonso. Toma cinco: um puñado de condiciones esenciales para las TIC en el desarollo. In: GUMUCIO DAGRON, Alfonso; TUFTE, Thomas. Antología de Comunicación para el cambio social: lecturas históricas y contemporâneas. Plural Editores: La Paz, Bolívia, 2008.
GUMUCIO DRAGON, Alfonso. Interview with AlfonsoGumucioDagron. WavesofChange: The ManyVoicesofthe Global Village. 24 nov. 2010. Online. Entrevista.

¹ Doutorando em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). E-mail:

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