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Emile G. McAnany

Por Sérgio Mattos¹

Emile G. McAnany: Um Brasilianista em busca do desenvolvimento pela comunicação

O professor, doutor e pesquisador Emile G. McAnany, vem desenvolvendo, desde a segunda metade da década de 60 do século passado, pesquisas sobre os impactos sociais e culturais das diversas tecnologias de comunicação em países da América Latina e em especial no Brasil. Os trabalhos realizados e publicados por ele o transformaram num líder entre os estudiosos na área de Comunicação para o Desenvolvimento, construindo as bases para um novo paradigma, adaptado às tendências do Terceiro Milênio, que complementam o modelo original do uso da Tecnologia da Informação e Comunicação para a mudança social com o Empreendedorismo Social e a Comunicação Participativa.

Desde a década de 1990 que McAnany vem sistematicamente apontando a Comunicação Participativa e o Empreendedorismo Social como partes efetivas de um novo paradigma que pode vir a ser usado para atingir o objetivo final da mudança social e desenvolvimento. O modelo participativo/empreendedorismo enfatiza a comunicação como um processo que tem méritos próprios, concentrando atenção, entre outros, no papel da comunicação na promoção e disseminação de valores, no empoderamento, no acesso à comunicação e na participação dos membros da sociedade como proponentes de propostas/projetos de mudanças, permitindo assim o exercício pleno da cidadania e do empreendedorismo.

No entanto, McAnany (2012) reconhece que o sucesso desse modelo na promoção do desenvolvimento depende ainda: das fontes de financiamento e controle do conhecimento emergente das universidades; da produção de mais pesquisas sobre como definir e medir os parâmetros de sucesso; sobre a mobilização das pessoas, através de necessidades e incentivos, e da análise de como elas se relacionam com as tecnologias.

A participação efetiva de McAnany na elaboração de inúmeros trabalhos de pesquisa na América Latina e em especial no Brasil, além de suas contribuições para a construção teórica da Comunicação para o Desenvolvimento são fatos que justificam sua inclusão no seleto grupo de brasilianistas norte-americanos.

FORMAÇÃO INTELECTUAL
A formação intelectual de McAnany foi moldada e diretamente influenciada pelos pioneiros dos estudos interdisciplinares da comunicação para o desenvolvimento e mudança social, como Daniel Lerner, Everett Rogers e principalmente Wilbur Schramm, cujos nomes estão associados às teorias e paradigma dominante da Comunicação para o Desenvolvimento.

O primeiro deles, Daniel Lerner, publicou, em 1958, o trabalho intitulado "A passagem da sociedade tradicional" (The Passing of Traditional Society), que foi responsável pelas bases da Teoria da Modernização (Modernization Theory). Mais de 57 anos passados o modelo de Lerner, apesar de muito criticado, continua servindo de paradigma no campo dos estudos de modernização. O modelo de transição de Lerner oferece as etapas a serem vencidas, uma trajetória projetada, da passagem da sociedade tradicional para a sociedade moderna, além de um contexto que circunscreve os parâmetros dos processos de mudanças sociais.

O segundo, Everett Rogers, publicou, em 1962, o clássico "Difusão de Inovações" (Diffusion of Innovations) que foi aplicado inicialmente “junto a fazendeiros brasileiros e em muitos outros lugares sem obter bons resultados devido a inúmeros preconceitos e ao viés na abordagem” (MATTOS, 2010, p.303). O modelo teórico de Rogers, que concentra atenção nas políticas de modernização para a difusão de novas ideias, origina-se de várias outras concepções interdisciplinares. Rogers argumenta que a difusão é um processo pelo qual uma inovação é comunicada para indivíduos de um sistema social. Ele propõe que quatro elementos principais influenciam na difusão de uma nova ideia: a própria inovação, os canais de comunicação, o tempo e o sistema social.

O terceiro, Wilbur Schramm publicou, em 1964, outro trabalho clássico - "Comunicação de Massa e Desenvolvimento" (Mass Media and National Development), que só foi traduzido e publicado no Brasil em 1970. Esse trabalho contribuiu e muito para disseminar a ideia de usar a Comunicação de Massa para promover o desenvolvimento nacional. As ideias e o modelo de Schramm foram bem aceitos em países como o Brasil e conseguiu que muitos governos começassem a adotá-los (MATTOS, 2010, p.303).

José Marques de Melo, ao se referir ao livro clássico de Wilbur Schramm, traduzido no Brasil por Muniz Sodré e Robert Lent, com prefácio de Alberto Dines, destaca que

A assimilação precoce das teses desenvolvimentistas de Schramm pela elite dirigente do Brasil encontra-se documentada enfaticamente no prefácio de Alberto Dines: “Este livro, apesar de somente agora estar traduzido para o português, já tem uma pequena história na vida brasileira. A primeira pessoa que nele falou foi o Ministro Roberto Campos, em 1964. Logo, as suas conclusões foram traduzidas e publicadas no primeiro número dos Cadernos de Jornalismo e Comunicação editados pelo Jornal do Brasil. Requisitada por ministros, governadores, secretários de Estado e simples administradores, a publicação rapidamente se esgotou, fazendo com que estas conclusões fossem reimpressas na mesma publicação, dois anos depois. Agora, Edições Bloch publicam não apenas as sugestões pragmáticas e objetivas, dignas de um estadista, mas as considerações teóricas que geraram, na certeza de que este venha a ser um livro de cabeceira e de mesa dos homens públicos” (MARQUES DE MELO, 2007, p.17).

Eduardo Bezerra de Menezes, por sua vez, no capítulo intitulado “Fundamentos Sociológicos da Comunicação”, publicado no livro Fundamentos Científicos da Comunicação, organizado por Adísia Sá, em 1973, comenta a excelência do modelo de Schramm da seguinte forma:

O modelo que propõe constitui uma das melhores análises do processo de comunicação; possui a vantagem de aliar à simplicidade o relevo atribuído a certos elementos de processo geralmente esquecidos ou omitidos noutros modelos, como é o caso, por exemplo, de contexto ou sistema sociocultural (que ele chama de “campo de experiência”) em que o fenômeno se dá (MENEZES, 1973, p.167).

Para complementar sua formação intelectual, MacAnany foi um dos últimos orientandos de doutorado de Wilbur Schramm na Universidade de Stanford, mas manteve estreito contato com seu orientador até a morte dele ocorrida em 1987. Ao seu mentor intelectual ele dedicou um artigo, publicado em 2006, no qual resgata as contribuições de Schramm (McANANY, 2006).
McAnany foi “para Stanford para estudar com Schramm e vim com a ideia de que a comunicação era mais que um tema de estudo, antes, era uma força para mudar a sociedade” (McANANY, 2010, p.90). Foi Schramm quem o iniciou nas pesquisas para a educação e nos estudos de modernização e difusão pela comunicação, tendo exercido forte influência sobre ele. Esta influência teórica da Modernização e da Difusão teve um contraponto em suas pesquisas quando começou a trabalhar na América Latina e se sentiu atraído pelas ideias de Andre Gunder Frank, Armand Mattelart, Paulo Freire, entre outros, e pelas teorias da Dependência e da Economia Política, da Cultura e da Comunicação.

Enquanto esteve na Universidade de Stanford os trabalhos de pesquisa de Emile McAnany estavam focados no tema da Comunicação para o Desenvolvimento. No período em que esteve na Universidade do Texas, de 1979 a 1996, sem abandonar o objeto teórico inicial de suas pesquisas, ele passou a se interessar cada vez mais pelos estudos críticos da Comunicação, pela indústria cultural e o papel desempenhado pelas telenovelas nas mudanças sociais e demográficas.
Comentando a estrutura teórica que serviu de base aos seus projetos sobre desenvolvimento na América Latina, Emile McAnany explica que seguiu a teoria da Dependência sem abandonar alguns aspectos da teoria da Difusão:

Então, mudei minha atenção para as indústrias culturais na América Latina e em outros locais, adicionando uma perspectiva cultural, baseada principalmente em estudos realizados por Stuart Hall e colegas, na Briminghan, no final da década de 1970 e início dos anos 1980. Finalmente, acabei usando um pouco de todas estas teorias nos trabalhos que eu desenvolvi, em parceria com colegas brasileiros, sobre o impacto social e cultural das Telenovelas na década de 1990.

[...] Vindo de uma perspectiva mais tradicional e quantitativa aplicada à pesquisa da Comunicação, constatei que as perspectivas crítica, histórica e qualitativa usadas na América Latina eram interessantes, mas nem sempre satisfatórias. Acho que as duas abordagens, a norte-americana e a latino-americana, são apropriadas para diferentes questões e que podem fornecer respostas em diferentes circunstâncias (MATTOS, 2010, p.300-303).

Nos últimos anos de trabalho, na Universidade de Santa Clara, na Califórnia, de 1997 aos dias atuais, ele direcionou seus estudos para a análise do papel da tecnologia da Comunicação e benefício social em vários países, tendo produzido e publicado estudos em parceria com pesquisadores latino-americanos. Atualmente ele ocupa, como Professor Emérito da Universidade de Santa na Clara, a função de Pesquisador Senior.

INTERESSE PELO BRASIL
O interesse de McAnany pelo Brasil começou no ano de 1967 quando, como aluno do doutorado, matriculou-se numa disciplina que tinha como objetivo o estudo e o uso de satélite na Comunicação e na Educação. A partir daí participou do desenvolvimento de um projeto Educacional na Televisão, utilizando a tecnologia do satélite, para ser testado nas áreas rurais do Brasil, Índia e Indonésia. 

Inicialmente, o Brasil não era o objetivo específico da disciplina, mas a presença de três estudantes brasileiros de pós-graduação acabou influenciando na condução do curso. Vale destacar que a conexão do Brasil com a Universidade de Stanford já tinha antecedentes, pois o primeiro engenheiro brasileiro a obter Doutorado em Stanford, no ano de 1964, foi Fernando Mendonça, que se especializou em satélites. E os três estudantes brasileiros que estavam na turma de Emile McAnany, eram estudante/orientandos de Fernando Mendonça, no Brasil, mais precisamente em São José dos Campos, onde ele desenvolvia pesquisas relacionadas ao uso de satélites e sua aplicabilidade em programas educacionais (MATTOS, 2010, p.299-300).

O trabalho de Emile G. McAnany na América Latina teve início no ano de 1968 quando, como pesquisador de campo, participou do projeto de Televisão Educativa em El Salvador até o ano de 1970. O resultado do estudo foi publicado como livro no ano de 1976. Na mesma época, ele realizou estudos de campo no Brasil, México e Guatemala, sobre o impacto do rádio e da televisão na cultura e na educação.

No período de 1971 a 1973, ele se dedicou a um trabalho de campo no México, que consistiu em avaliar a Telesecundaria mexicana. Um ano depois da avaliação, a Telesecundaria obteve o reconhecimento e atingiu o sucesso almejado. Esse programa educacional pela televisão ainda é transmitido no México, na América Central e nos Estados Unidos.

O projeto de uso do satélite para promover educação do qual participou em 1967 na Universidade de Stanford acabou sendo adaptado no Brasil pelo INPE (Instituto Nacional de Estudos Espaciais), em São José dos Campos. A primeira visita que ele fez ao Brasil foi em maio de 1968, quando integrava uma equipe que estava visitando os países latino-americanos “para promover a ideia de usar os satélites para educação, saúde e agricultura; em outras palavras, para a comunicação social e o desenvolvimento” (McANANY, 2010, p.91). Em 1977, Emile McAnany retornou ao Brasil para avaliar o impacto do projeto de simulação do satélite que o INPE implantou em 1973, no Rio Grande do Norte.

Era um projeto de rádio e televisão para escolas rurais que seria semelhante ao que um satélite nacional realizaria, caso o Brasil decidisse pela compra de uma tal tecnologia. O lado técnico do projeto foi dirigido por engenheiros e outras pessoas do INPE e foi bem executado. Os resultados, entretanto, foram insatisfatórios para os estudantes nas salas de aulas rurais. A conclusão a que eu e meu colega brasileiro chegamos foi a de que apenas a tecnologia sozinha não poderia transformar um sistema escolar. Em resumo, a tecnologia, grande ou pequena, não pode ser a resposta para a mudança social significativa (McANANY, OLIVEIRA, 1978). A crítica dos projetos de mídia deste período foi a de que as vidas das pessoas não podem ser modificadas por uma aplicação de cima para baixo da tecnologia, por mais sofisticada que ela possa ser. Mas também é verdade que a mídia podia ter algumas influências muito significativas nas vidas das pessoas, muitas vezes, para o pior, mas ocasionalmente para o melhor, mesmo quando o impacto não foi planejado (McANANY, 2010, p.96).

Esses estudos resultaram na publicação de três monografias: O papel do rádio no Desenvolvimento: Cinco estratégias de utilização (Radio’s Role in Development: Five Strategies of use, 1973); Meios de Comunicação na Educação para Países de Baixa Renda: Implicações para o Planejamento (Communication Media in Education for Low-Income Countries: Implications for Planning, 1980), em co-autoria com J. Mayo; e O Saci-Exern projeto no Brasil: um estudo de caso analítico (The Saci-Exern Poject in Brazil: An Analytical Case Study, 1980).
Vale destacar que o trabalho sobre o Projeto Saci, desenvolvido juntamente com João Batista Oliveira, foi publicado no Brasil pela Associação Brasileira de Tecnologia Educacional, no nº 8 da série Estudos e Pesquisas, no ano de 1978, com 84 páginas, sob o seguinte título: Projeto Saci: embrião de um satélite educativo.

Depois disso, ele realizou pesquisa, no ano de 1980, sobre a adoção de um satélite nacional com fins educacionais. Em junho de 1982, Emile McAnany promoveu uma Conferência Internacional na Universidade do Texas, quando reuniu vários pesquisadores críticos latino-americanos e norte-americanos. Como resultado final da conferência, ele organizou e publicou o livro intitulado Comunicação e Sociedade na América Latina: Tendências em Pesquisa-Crítica - 1969-1985 (Communication and Latin America Society: Trends in Critical Research - 1960-1985 (ATWOOD e McANANY, 1986). Os brasileiros que participaram dessa conferência foram Carlos Eduardo Lins da Silva, substituindo a José Marques de Melo, que não pode comparecer, e Sérgio Mattos, então estudante de doutorado e que tinha McAnany como seu orientador na Universidade do Texas, em Austin.

O interesse dele pelo Brasil o levou a estudar o impacto das telenovelas sobre a demografia e as mudanças sociais durante o período de 1994 a 1998. Esse projeto de pesquisa, interdisciplinar e bi-nacional, reuniu pesquisadores brasileiros de várias universidades e norte-americanos da Universidade do Texas. Aliás, o próprio McAnany é quem identifica esse projeto/estudo como tendo sido um dos que ele considera como mais emocionantes entre os estudos feitos sobre o Brasil:

A pesquisa mais emocionante que fiz foi o trabalho sobe o impacto social e cultural da telenovela brasileira na década de 90. Nunca, porém, conseguimos publicar um livro com os resultados dessa pesquisa coletiva com cerca de uma dúzia de profissionais do Brasil e dos Estados Unidos. Descobrimos que a telenovela exercia uma forte influência nos públicos estudados: uma favela em São Paulo, uma cidade de porte médio em Minas Gerais e numa pequena cidade do nordeste. Foi um projeto de pesquisa abrangente e tínhamos dados de diferentes fontes, mas nunca fomos capazes de fazer com que todos contribuíssem com a produção de papers, com o objetivo de publicarmos um livro, porque o trabalho se arrastou por muito tempo e todos ficaram ocupados com outras coisas (MATTOS, 2010, p.304).

Além de ter orientado vários estudantes brasileiros de mestrado e de doutorado, Emile McAnany tem participado de inúmeros projetos com pesquisadores brasileiros e como resultado desse trabalho, produziu nove artigos, cinco capítulos de livros, dois Relatórios de Pesquisa e uma monografia com conteúdos específicos sobre o Brasil.

Os temas das disciplinas que costumava ministrar nas universidades por onde passou estão diretamente relacionadas com as áreas de interesse das pesquisas que produziu: Comunicações Internacionais, Globalização, Televisão e Mídia Internacional, Fluxo de Notícias Internacionais, Exportação Cultural, Comunicação de Massa, Teoria da Comunicação Audiência de Mídia e Metodologia qualitativa.

As áreas de pesquisa de seu interesse são: Impactos sociais e culturais das diversas tecnologias de comunicação em países do Terceiro Mundo, especialmente os da América Latina.

HISTÓRIA DE VIDA
Emile G. McAnany nasceu no dia primeiro de março de 1930, em Kansas City, Estados Unidos. Seu bacharelado em Inglês foi concluído em 1951 no Rockhurst College. No ano de 1958 obteve o título de mestrado pela St. Louis University e, continuando sua formação pós-graduada, cursou na mesma universidade outro mestrado, desta feita em Filosofia, concluído no ano de 1960. Em seguida concentrou seus estudos em Teologia até o ano de 1964.

Após este ciclo de estudos de embasamento teórico ele começou o programa de Doutorado na Universidade de Stanford, na Califórnia, quando, como aluno de Wilbur Schramm, que era o diretor do Programa de Pós-Graduação da Universidade de Stanford, começou a manifestar interesse e curiosidade pelo uso das tecnologias da comunicação de massa e sobre como elas poderiam promover mudanças sociais e desenvolvimento nos países terceiro mundistas. Concluiu o PhD em 1970 e então continuou trabalhando em Stanford com Wilbur Schramm e com Everett Rogers em várias pesquisas na América Latina.

No período de 1970 até 1978 ele exerceu as funções de associado de pesquisa, conferencista e professor assistente do Instituto de Pesquisa de Comunicação da Universidade de Stanford. Desvinculado de Stanford, ele se transferiu para a Universidade do Texas, em Austin, onde, além de docente, concentrou-se na área de Comunicação Internacional como pesquisador. Lecionou na Universidade do Texas, em Austin, por 17 anos consecutivos, no período de 1979 a 1996, no Departamento de Radio, Televisão e Cinema, da Escola de Comunicação. Ele também desenvolveu atividades de ensino e pesquisa no Instituto de Estudos Latino-Americano (ILAS), onde atuou no período de 1987 a 1996.

Emile G. McAnany teve sua trajetória acadêmica como docente e de pesquisador sempre vinculada aos estudos e ao ensino da comunicação com forte concentração na América Latina. Na condição de docente, teve oportunidade também de orientar inúmeras teses e dissertações de alunos provenientes de países como Argentina, Brasil, Colômbia, El Salvador, Peru dentre outros. Sua carreira docente é extensa. Ele é o ex-Walter E. Schmidet S.J. Professor (1997-2009) da Universidade de Santa Clara, em Silicom Valley, Califórnia, Estados Unidos, onde se aposentou no ano de 2013, quando recebeu o título de Professor Emérito. Ele foi presidente do Departamento de Comunicação (1997-2002) e continua como membro associado do Centro de Ciência Tecnológica e Sociedade dessa Universidade desde a sua instalação no ano de 1999.

ROTEIRO BIBLIOGRÁFICO
Ao longo de sua carreira acadêmica, Emile McAnany publicou sete Relatórios de Pesquisas (dois sobre o Brasil); 40 artigos em periódicos (nove deles sobre o Brasil); 26 capítulos de livros (dos quais cinco sobre o Brasil), dez livros, três monografias (sendo uma sobre o Brasil). Ressalte-se que em pelo menos cinco dos livros publicados, que tratam de pesquisas sobre países da América Latina, estão registrados dados e observações sobre a comunicação, o desenvolvimento e a mídia brasileira de modo comparativo com outros países.

O livro mais recente de Emile McAnany é "Salvando o mundo: Uma breve História da Comunicação para o Desenvolvimento e Mudança Social" (Saving the World: A Brief History of Communication for Development and Social Change), publicado pela Editora da Universidade de Illinois, em 2012. Nesse livro, que pode representar o fechamento de um ciclo de estudos, pois o autor retorna às origens de sua formação acadêmica, Emile McAnany apresenta uma profunda análise política para delinear como as tecnologias de comunicação podem afetar a mudança social e melhorar vidas humanas.

Baseando-se nos trabalhos de Daniel Lerner, Everett Rogers, Wilbur Schramm e em suas próprias experiências no campo, Emile McAnany constrói o que se poderia chamar de um novo paradigma para o futuro, tendo em vista que complementa a tecnologia, destacada no paradigma tradicional, com as ferramentas da Comunicação Participativa e do Empreendedorismo Social. Ele traça a história do campo da comunicação para o desenvolvimento e mudança social para os países terceiro mundistas a partir do Plano Marshall, de Truman, até os Objetivos das Nações Unidas para o Desenvolvimento do Milênio.

McAnany acredita que a área de Comunicação pode renovar seu papel no desenvolvimento e ajudar a promover uma transformação autêntica. Ele sugere uma agenda para melhorar e reforçar o trabalho de acadêmicos, políticos e agências de fomento para o desenvolvimento e promoção da mudança social com a ajuda da comunicação. Em síntese, o livro fornece o embasamento e o contexto histórico dos esforços já realizados para usar a comunicação na promoção do desenvolvimento. Trata-se de uma importante contribuição para aqueles que desejam se envolver em pesquisas e projetos de promoção do desenvolvimento contando com o importante papel que as Tecnologias da Informação e a Comunicação podem exercer para que o desenvolvimento seja alcançado.

Considerando a extensão da bibliografia de Emile McAnany, para que o leitor possa entender e acompanhar a produção intelectual deste brasilianista, listamos a seguir apenas os livros publicados por ele individualmente ou em co-autoria, em ordem cronológica decrescente:

Saving the World: A Brief History of Communication for Development and Social Change. Urbana: University of Illinois Press, 2012.
Free Trade and Mass Media: Cultural Industries in a NAFTA Era. Austin: University of Texas Press, 1996. (Em co-autoria com: K. Wilkinson).
Communication and Latin American Society: Trends in Critical Research 1965-1985. Madison: University of Wisconsin Press, 1986. (Em co-autoria com: R. Atwood).
The Economics of New Educational Media: Costs and Effectiveness. Paris: UNESCO Press, 1982. (Em co-autoria com: J.C.Eicher, D. Hawkridge e F. Orivel).
Communication and Social Structure: Critical Essays in Mass Communication. New York: Praeger, 1981. (Em co-autoria com: J. Schinitman, N. Janus).
Communication in the Rural Third World: The Role of Information in Development. New York: Praeger, 1980.
Radio for Education and Development. Beverly Hills: Sage Publications, 1978. (Em co- autoria com: D. Jamison)
Radio for Education and Development: Case Studies. Washington, D.C.: World Bank. 2 vols., 1977. (Em co-autoria com: P.Spain, D. Jamison).
Educational Reforms with Television: The El Salvador Experience. Stanford University Press, 1976. (Em co-autoria com: J. Mayo, R. Hornik).
The Filmviewer’s Handbook. New York: Paulist Press, 1965. (Em co-autoria com: R. Williams).


REFERÊNCIAS
ATWOOD, Rita e McANANY, Emile (Eds.) Communication and Latin American Society: Trends in Critical Research, 1969-1985. Madison: University of Wisconsin Press, 1986.

LERNER, Daniel. The Passing of Traditional Society. New York: The Free Press, 1958.

MARQUES DE MELO, José. A Recepção das Ideias de Wilbur Schramm no Brasil. Comunicação apresentada à mesa-redonda “O pensamento de Wilbur Schramm: projeção para os estudos da comunicação para o desenvolvimento”, durante o Seminário Schramm: os paradigmas da comunicação para o desenvolvimento, promovido pelo Programa de Pós-Graduação em Extensão Rural e Desenvolvimento Local da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Recife, 21 de maio de 2007.

MATTOS, Sérgio. A pesquisa sobre tecnologia de Comunicação no Brasil e na América Latina. In: Revista Braseira de Ciências da Comunicação. São Paulo, v.33, p.299-308,n.1, jan./jun.2010.

McANANY, Emile, OLIVEIRA, João Batista Araújo. Projeto Saci: embrião de um satélite educativo. Estudos e Pesquisas. Rio de Janeiro: Instituto de Tecnologia Educacional, 1978.

McANANY, Emile. Wilbur Schramm, 1907-1987: Roots of the Past, Seeds of the Present. In: Journal of Communication for Development, FAO, Rome, October 2006.

McANANY, Emile. Algumas ligações dos Estudos de Comunicação dos EUA com o Brasil: Memórias. In: HOHLFELDT, Antonio (Org.). José Marques de Melo: Construtor de Utopias. São Paulo: INTERCOM, 2010, p.89-102. (Coleção memórias, v. 1).

McANANY, Emile. Saving the World: A Brief History of Communication for Development and Social Change. University of Illinois Press, 2012.

MENEZES, Eduardo Bezerra de. Fundamentos Sociológicos da Comunicação. In: SÁ, Adisía. Fundamentos Científicos da Comunicação. Petrópolis: Vozes, 1973.

ROGERS, Everett. Diffusion of Innovations. New York: Free Press, 1983.

SCHRAMM, Wilbur. Comunicação de Massa e Desenvolvimento. Rio de Janeiro: Bloch, 1970.

SCHRAMM, Wilbur. Mass Media in National Development: The Role of Information in Developing Countries. Stanford: Stanford University Press. Paris: UNESCO Press, 1964.

 

¹ Sérgio Mattos é jornalista diplomado pela UFBA, Mestre e Doutor em Comunicação pela Universidade do Texas, onde foi orientando de Emile McAnany. É autor de 49 livros e atualmente está vinculado no quadro docente da UFRB- Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. 

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