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Metodista inicia projeto para criação de cooperativa com comunidade de ex-moradores de rua

Oficinas com professores e alunos visam à recolocação profissional e social dos acolhidos na Comunidade Padre Pio

11/09/2017 11h40 - última modificação 22/09/2017 16h31

A ressocialização de uma pessoa que já viveu nas ruas não é simples. O preconceito faz com que muitos não encontrem oportunidades de trabalho, os exclui e marginaliza. De acordo com uma pesquisa do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), com base em dados de 2015, atualmente o Brasil tem mais de 100 mil pessoas vivendo nas ruas, a maioria delas, em grandes cidades.

Vendo a realidade de um desses moradores de rua em São Bernardo do Campo, o professor Marco Aurélio Bernardes, da Escola de Gestão e Direito da Universidade Metodista de São Paulo, resolveu criar um projeto que visa auxiliá-los profissionalmente. O “Gente é para Brilhar” oferecerá oficinas que vão desde relações humanas até gestão financeira, para que os ex-moradores de rua que vivem na Comunidade Padre Pio utilizem suas habilidades para abrir uma cooperativa.

“Esse projeto surgiu para criar uma cooperativa só, mas esses conhecimentos servem para todas as áreas. Alguns querem abrir uma confeitaria e outros querem trabalhar com alvenaria, mas todos têm que saber gestão financeira e de pessoas. O que nós queremos aqui é formar multiplicadores”, explica Bernardes aos participantes.

A primeira oficina ensinou os 17 participantes a estruturar um modelo de negócios utilizando a ferramenta Canvas. O grupo foi desafiado a pensar nas potencialidades de seu futuro negócio, assim como formas de atingir o público e de comercializar melhor seus produtos. A professora Fátima Cristina dos Santos também participa do projeto e conta que “é uma oportunidade para nós desenvolver algo como isso e acredito muito na solidariedade, no trabalho e na cooperativa que vão criar”, diz.

oficina_canvas1A coordenadora do curso de Processos Gerenciais, Rosana de Almeida, destaca o caráter de criação de lideranças e compartilhamento de conhecimento. “Hoje a Comunidade Padre Pio abriga moradores que têm muita dificuldade de inserirem-se no mercado de trabalho formal, pois contam com o descrédito da sociedade, falta autoestima, autoconfiança. O projeto tem essa proposta: devolver a autoestima e a autoconfiança para essas pessoas pelo trabalho que será desenvolvido, reinserindo-os na sociedade e no mercado de trabalho pela formação que receberão nas oficinas e também na abertura de campo de trabalho através da cooperativa que se formará”.

Comunidade Padre Pio

Localizada na região do Riacho Grande, em São Bernardo do Campo, a Comunidade Padre Pio acolhe pessoas em situação de rua e oferece oportunidades para que se reintegrem à sociedade, por meio de ações educacionais e culturais, baseados em princípios cristãos. Francisco Moisés dos Anjos é o fundador do projeto, que teve início em 2009, e também participa ativamente das oficinas.

“Eu já trabalhava na pastoral de rua e aí veio essa preocupação de criar um espaço de acolhimento. Conheci algumas instituições que trabalhavam com isso e, então, observei essa ação de reintegrar as pessoas. Lá no sítio fazemos trabalho com artesanato e terapias. Atendemos 80 pessoas hoje e muitas não têm famílias, então moram lá, se consagram e trabalham como voluntários”, relata.

Na Casa de Santa Clara, no Rudge Ramos, é feito o primeiro contato com os moradores de rua. No local é preenchida uma ficha para compreender as necessidades da pessoa acolhida que recebe comida, roupas e abrigo. A psicóloga Sandra Soares Godinho atua desde 2010 na Comunidade, oferecendo apoio aos moradores. De acordo com Sandra, muitos acolhidos são usuários de drogas e alcoólatras, por isso recebem ajuda para abandonar o vício, mas encontram dificuldade de retornar à sociedade.

“Hoje, a discriminação com o morador de rua é muito grande. A gente faz um trabalho bonito lá, ficam um ou dois anos com a gente, mas no momento da ressocialização, não encontram emprego. Quando conseguem trabalho e alguém descobre sobre o passado, são mandados embora. Por isso é importante esse trabalho da cooperativa, porque assim eles terão emprego com a gente e essa é uma forma de acompanhar a vida social deles”, explica.

Experiência profissional e mudança social

oficina_canvas2Para os alunos da Metodista, o projeto “Gente é para Brilhar” é uma oportunidade, pois os estudantes aprendem mais sobre a área de atuação, além de capacidades práticas fundamentais para o dia a dia profissional. Estudantes de diversos cursos da Universidade poderão se inscrever. A princípio, alguns alunos foram convidados e já estão auxiliando nas oficinas e demais atividades em conjunto com professores. A primeira parte dessa trajetória foi uma visita à Comunidade, para conhecer a realidade dos moradores.

“Foi um choque de realidade. São pessoas que passam na rua e para quem a gente não dá a mínima ou tem medo. Fazer essa visita foi muito importante porque consegui vê-los de uma forma totalmente diferente do que via antes”, relata Andréa da Silva Santos, de 21 anos, aluna do 4º período de Gestão de Recursos Humanos.

“Os estudantes são voluntários e vão contribuir para o projeto com os conhecimentos que adquirem no curso que estão matriculados. Por exemplo, o aluno voluntário de Processos Gerenciais contribuirá com conteúdos e na concepção das oficinas nos processos de vendas, compras, entrega de serviços etc. Os de Marketing, Recursos Humanos, Administração e Ciências Contábeis da mesma forma. E, ainda, eles serão apresentados nas empresas em que o projeto abrir frente de trabalho para a cooperativa, para campo de possível estágio”, aponta Rosana.

"Os alunos terão como desafio organizar a comunidade do Riacho Grande numa Cooperativa, formalizando assim o exercício das atividades ali desenvolvidas. Terão que capacitar as pessoas de ferramentas de gestão e habilidades para tocar de forma profissional a Cooperativa. Ao mesmo tempo, o contato com as pessoas em situação de vulnerabilidade social, econômica e psicológica, sob a orientação de docentes que trabalharão neste Projeto, será uma oportunidade ímpar para o crescimento e maturidade pessoal", complementa o professor Luiz Silvério Silva, coordenador da Cátedra Gestão de Cidades.

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