Painéis, módulos e jogos. Escolas de Engenharia usam a criatividade para ensinar
10/09/2015 17h55 - última modificação 17/03/2016 11h32
Várias escolas de engenharia estão explorando suas capacidades de magicamente fazer funcionar a máquina de ensino e o interesse dos alunos, enfrentando, assim, a indigência estrutural das aulas em boa parte das universidades. Para se reconciliar com alunos propensos a cochilar na sala ou com jovens tecnodependentes de celulares e redes sociais, a FEI (Fundação Educacional Inaciana) resolveu abolir as aulas tradicionais e colocar os alunos como construtores de conteúdo. A Universidade Metodista adotou o conceito de módulos, por meio dos quais não há disciplinas individuais mas temas trabalhados integrados com vários professores. E a Universidade Federal do ABC identificou no curso de ingresso de Bacharel em Ciência e Tecnologia (BCT) o grande atrativo para que os jovens abracem depois especializações.
As experiências foram mostradas em um dos painéis do COBENGE (Congresso Brasileiro de Educação em Engenharia), que neste ano foi sediado na UFABC. “O aluno não quer mais um professor falando sem parar e colocando matéria na lousa”, proclama o engenheiro civil Kurt André Pereira, da FEI, que resolveu virar a mesa contra a desmotivação de alunos aderindo ao conceito PBL (Aprendizagem Baseada em Problema). Montou seu modelo em apenas seis dias. O resultado é que neste ano, de uma turma de 78 alunos, apenas um foi reprovado.
“Temos que investir em vídeo-aulas, monitores treinados e metodologias com aspectos lúdicos. As competências vão além de conhecimento técnico, por isso temos que propor aos alunos problemas da vida real”, apontou professor Kurt.
Resumidamente, ele reorganiza a sala em grupos de 6 a 8 estudantes. Em vez de aula, apresenta no primeiro contato sua disciplina e escolha do trabalho. Na 2ª aula os alunos investigam o tema. Na 3ª, todos devem apresentar o que pesquisaram (mesmo que despreparados) e o professor faz complementações. Na 4ª e 5ª aulas há as chamadas fundações ativas (num painel integrado, mistura os grupos, de modo a que cada novo grupo tenha um membro dos grupos anteriores. É uma forma de todos se inteirarem do cada um fez em seu grupo original e “pôr a mão na massa”).
Na 6ª aula há as fundações diretas, envolvendo troca de opiniões. Da 7ª à 12ª aula o tema do trabalho é tratado com propostas técnicas e fundamentos, como se os alunos estivessem operando com um projeto no escritório. São as chamadas fundações por estacas. Professor Kurt Pereira tomou como base a Taxonomia de Bloom. No contexto educacional, esse conceito oferece bases para desenvolvimento de instrumentos de avaliação e utilização de estratégias diferenciadas para facilitar, avaliar e estimular o desempenho dos alunos em diferentes níveis de aquisição de conhecimento.
Eixo horizontal
O tema central do COBENGE-2015 foi “Aprendizagem Ativa: Engenheiros Colaborativos para um Mundo Competitivo”. Também participante do Fórum de Dirigentes que debateu “Experiências Diferenciadas nos Currículos de Cursos de Engenharia”, professor Regis Reis falou sobre a estrutura modular da graduação na Metodista. São dois eixos pedagógicos: vertical (que contempla disciplinas convencionais como física, cálculo, matemática) e horizontal (em que certos temas são agregados de forma modular, com conteúdo desenvolvido sob o prisma de disciplinas diferentes).
“Essa integração horizontal permite trabalhar projetos mais complexos de ação profissional, porque um mesmo tema é abordado em diversas disciplinas. Há um ciclo básico para nossas três Engenharias – de Produção, Ambiental e da Computação --, e depois disciplinas como cálculo, geometria, desenho técnico, analítica etc trabalham com temas fixos”, explicou professor Regis.
A vantagem de cada disciplina ser parte de um projeto maior é que a integração do aluno com diversos professores para um mesmo tema facilita a aquisição do conhecimento, segundo explicou. A desvantagem é que a aprovação do aluno se dá por módulo. Se reprovar em um, será preciso refazê-lo no todo. Outro senão é que dificulta a transferência de formandos, já que nem todas as escolas de Engenharia adotam a estrutura horizontal modular.
Aluno define projeto
Nem modular nem disciplinar. A Universidade Federal do ABC optou pelo que chama de sistema integrado em vários eixos de conhecimento, e não por agrupamentos de ensino com base nos fenômenos físicos (mecânica, eletricidade, química, óptica). Como há um bacharelado básico em Ciência e Tecnologia (BCT) de três anos, várias disciplinas tradicionais de um ano em Engenharia (como mecânica de sólidos) são lecionadas em 12 semanas na UFABC. Com menos tempo, o foco é trabalhar a essencialidade do projeto e da disciplina.
“Fazemos isso com material didático novo, pois nada pode estar pré-pronto. Nosso conteúdo de Engenharia é revisto a cada dois anos. E trabalhamos com metodologia ativa, utilizando gamificação (jogos), aulas práticas com material barato como papel e madeira, além de exercícios contextualizados usando o que se aprendeu na teoria”, expôs o engenheiro civil e professor Wesley Góis. Segundo ele, ao repassar apenas conteúdos essenciais, a UFABC estimula o aluno a estudar por sí e a abraçar mais a pesquisa.
Para motivar o estudante e envolvê-lo com o curso, a UFABC permite autonomia para que ele próprio defina o projeto curricular. Dos 190 créditos, 100 são escolhidos pelo aluno. Ao finalizar o bacharelado básico, ele segue sua especialização em Engenharia.
Esta matéria foi publicada no Jornal da Metodista.
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