Comunicação deve despertar olhar inovador em empresas: startups estão neste caminho
19/11/2014 15h10 - última modificação 17/03/2016 11h34
“Qual o papel da Comunicação nos processos de inovação?” Com esta pergunta teve início o 2º Encontro Aberje – Capítulo ABCD promovido pela Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje), que aconteceu na Universidade Metodista de São Paulo, no mês de novembro.
O questionamento, feito pelo pró-reitor de Pós-graduação e Pesquisa da Metodista, professor Fábio Josgrilberg, foi para provocar uma reflexão em razão do tema do Encontro, “Inovação e Comunicação”.
Já em seu argumento, o professor Fábio enfatizou que a Comunicação é, sim, importante em tais processos. Ele elencou quatro elementos que devem ser observados: percepção, memória, planejamento e a própria comunicação, que engloba estes elementos.
A grande questão da percepção é enxergar o problema, uma oportunidade e trabalhar uma solução. “Já temos muitos dados para serem analisados, muitas metodologias para serem seguidas em trabalhos, projetos e processos. Não significa que isto não deve ser feito, mas o empreendedor precisa estar mais ‘solto’ e não se restringir a tais metodologias. A comunicação deve ter um papel de destravar a percepção na empresa, que não deve ficar na dependência dos mesmos processos sempre”, explicou Josgrilberg.
Pelo fato de a percepção estar relacionada ao sentir, ao feeling, é que o docente também afirma que “não existe fórmula para percepção. É um ato de observar o acontecimento das coisas e poder criar algo, não se prendendo aos procedimentos comuns”.
A memória é algo que está presente em todos os tipos de organizações. No caso das empresas, ela não tem como ser deixada de lado. Ela está sempre presente e é importante para a construção de uma trajetória. “Acontece que muitas vezes, em razão da memória, principalmente sobre algo recente que tenha acontecido ou de um histórico de situações vivenciadas que não tenham trazido bons resultados, trava-se a abertura para algo novo. É neste ponto que a comunicação deve causar a novidade e interpretá-la e o empreendedor deve deixar-se surpreender e, assim, ficar aberto para novas ideias”.
Porém, de acordo com o professor Fábio, não adianta dar abertura para a comunicação nas empresas e o profissional ter percepção, se não houver planejamento. “Mesmo tendo novas ideias, pensando em algo diferente, é necessário planejar. Esta continua sendo a forma de organizar e dar andamento às novidades, pois podemos correr o risco de ficar apenas na ideação e nada ser colocado em prática”.
Cultura de experimentação e inovação: startups
Enfatizando a fala de Josgrilberg, Adriana Garcia, co-fundadora e diretora de Criação da Orbital Lab, acredita que “empatia” também define toda esta percepção da qual foi falada. “Empatia é sentir com o outro, ter envolvimento. Tudo o que se faz nos planejamentos, na elaboração das estratégias é necessário ter este envolvimento de todas as partes, para haver sincronia de pensamentos e construção de ideias”, disse Adriana.
De uma forma mais prática sobre a afirmação, a profissional de comunicação destacou que “toda empresa é de mídia e toda empresa de mídia é de tecnologia. A empresa se comunica com as partes e com o público. Não existe mais o fato de alguém ser dono da informação, deve-se envolver todas as partes, público interno e externo”.
Para traduzir esta afirmação, ela utilizou como exemplo a empresa de mídia Buzzfeed, de Nova Iorque. A organização, que utiliza de um site de mesmo nome na internet, tem crescido em uma escala mundial e reúne notícias e cria conteúdo viral, além de possuir uma linguagem de grande identidade com um público variado, por meio de posts que elencam situações diversas, como “15 avisos que poderiam muito bem estar no elevador do seu prédio”, que geram grande participação e colaboração mútua entre editores e público.
Adriana também expôs as startups como modelo de empresas que adotam novos olhares sobre suas ações e que se valem da percepção, como citado pelo professor Fábio Josgrilberg, como meio de elaborar seu produto e que envolve todas as partes em seu projeto.
“O que define uma sartup é a cultura de experimentação, o fazer rápido e barato e envolver indivíduos no processo de inovação”, explicou a diretora da Orbital Lab. Ela ainda citou Steve Blank para conceituar esta forma de negócio. “Uma startup é uma organização criada para procurar por um modelo de negócios repetível e escalável”.
“A startup procura criar uma base de clientes e adota métodos de desenvolvimento ágil para testar rapidamente suas hipóteses sobre o modelo de negócios a ser perseguido”, completou Adriana.
Dentro de todo este processo ela ainda destacou a importância do uso da cultura inovadora, conceito da School Stanford, que é uma cultura multidisciplinar, de colaboração radical e aplica o “aprender fazendo”.
“Inovação de cultura é recriar algo, reinventar mercados”, explicou. A empresária tem outro exemplo prático, no caso, a startup americana Uber, do setor de transportes, fundada em 2009 e que visa ser um facilitador para motoristas prestadores de serviços e passageiros. A empresa é criadora de um aplicativo de mesmo nome e oferece um serviço semelhante ao táxi tradicional, com a diferença que, para ser um motorista do Uber, basta cadastrar-se. “Motoristas Uber” não cobram diretamente por carona, mas recebem uma remuneração diretamente da empresa, baseada na duração e distância da corrida. Por esse motivo, o modelo é também chamado de carona remunerada.
Mas o que Adriana chamou a atenção para este negócio foi como ele surgiu. Os fundadores Travis Kalanick e Garett Camp andavam pela rua em um dia chuvoso em São Francisco e precisavam de um táxi e não encontravam nenhum. Foi o bastante para pensarem em um serviço colaborativo entre motoristas e que fosse uma opção para pessoas que precisassem de transporte. Atualmente, o serviço está presente em centenas de cidades, em 39 países, incluindo o Brasil, nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo.
A Uber foi uma criação que envolveu justamente a percepção, criatividade e envolvimento de diversas partes. Hoje está avaliada em mais de 1 bilhão de dólares.
“Percepção, empatia e cultura de experimentação são elementos que precisamos aderir mais”, enfatiza Adriana, que também dá uma dica para se chegar a tais elementos. “Busquem encontrar, interagir com pessoas diferentes de você”.
Esta matéria foi publicada no Jornal da Metodista.
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