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Relação fontes e jornalistas e instantaneidade da notícia são temas da Aula Magna da POSCOM

26/02/2014 15h35 - última modificação 08/04/2014 09h49

Prof. Manoel Carlos Chaparro

Por Roberto Bueno Mendes

Com o tema “Fonte: sujeito jornalístico”,  o professor da ECA/USP,  Manuel Carlos Chaparro, ministrou a Aula Magna do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social (POSCOM). O evento foi ontem, 24 de fevereiro, no auditório do Edifício Capa e contou com a participação de dirigentes, docentes e discentes.

O pesquisador relatou sobre como a evolução das tecnologias contribuíram para mudanças no jornalismo e como estas influenciaram no mundo ao longo dos últimos dois séculos. Neste contexto, ressaltou como a profissionalização das fontes jornalistas está alterando a relação com os jornalistas e com a sociedade nos dias de hoje.

O professor explicou as alterações no jornalismo ocorridas desde a implantação da técnica da pirâmide invertida durante a Guerra de Secessão Estadunidense (1861 - 1865), devido ao uso do telégrafo, passando pelo transistor, microchip e até as atuais tecnologias de comunicação. “O intervalo entre o acontecimento e a notícia não existe mais”, afirmou ele.

Chaparro também mencionou a história da criação das Relações Públicas – nos Estados Unidos, pelo jornalista Ivy Lee ao ser contrato pelo milionário Rockfeller no inicio do século XX – e como este fato deu inicio a profissionalização das fontes que se aprofundou com os anos.

O conflito entre os jornalistas e estas fontes profissionalizadas foi criticado pelo professor. “O jornalismo que rejeita, por exemplo, a existência da fonte como um sujeito que entende o processo jornalístico, é um jornalismo burro”, explicou.

“Então, penso que o jornalismo hoje é prioritariamente duas coisas: um espaço público confiável para os conflitos discursivos. Quando alguém quer fazer alguma coisa, travar alguma batalha, socializar alguma verdade, vai para onde? Vai para o espaço e para o tempo do jornalista. Usando o quê? A linguagem jornalística, que é um bem social, um bem público. E é uma linguagem do espaço público vinculada a valores para o dizer e para o fazer dos sujeitos sociais nos conflitos da atualidade”, esmiuçou Chaparro.

Ao final da palestra, o professor deu uma entrevista para Agência.


Agência: Quais são os principais problemas atualmente no jornalismo brasileiro?

Chaparro: O principal problema do jornalismo brasileiro hoje é o da preservação da linguagem, na sua integridade, na sua confiabilidade, porque a linguagem jornalista tem um uso social, muita gente a usa, ou como produtor de acontecimentos ou como socializador de acontecimento e o avanço ou o arrefecimento da sociedade será sempre o resultado do sucesso dos conflitos e a linguagem jornalística é essencial para que isto aconteça, para isso ela tem que ser preservada.

Agência: O que o senhor acredita que deve ser feito para que a linguagem jornalística seja preservada?Chaparro: Os cursos de jornalismo devem ter uma qualidade cada vez maior, com ou sem a obrigatoriedade do diploma e a comunicação está atrasada em relação à educação das crianças e dos adolescentes. A comunicação deveria ser matéria, é portanto o jornalismo, ensinada nas escolas, principalmente no Ensino Médio, para que o cidadão possa ser um participante do processo, ou como leitor, telespectador, mas crítico.

Agência: Como o senhor acha que o jornalista deve ser preparar para falta de intervalo entre o acontecimento e a divulgação da notícia?

Chaparro: Não vejo nisso nenhum problema. O acontecimento, o grande acontecimento, se você for pesquisar para ver como ele foi organizado, você vai encontrar o profissional da comunicação que delineou detalhes para que este acontecimento tenha os atributos de noticiabilidade, por tanto, o jornalismo está lá na origem, o jornalismo rompeu as fronteiras da redação tradicional, o jornalismo está em todos os espaços do percurso da notícia: desde a origem até a discussão dos fatos. Então, isso aí é uma transformação extraordinária porque altera as relações de poder, quer dizer, o sujeito que produz os fatos, produz as falas, tem hoje um poder novo, só que esse poder novo terá que respeitar a linguagem jornalística para poder usá-la com sucesso, portanto que ter profissionais preparados para o uso da linguagem jornalística desde a concepção do acontecimento, da fala, do conteúdo que será gerado.

Agência: Além da desconfiança dos jornalistas em relação as fontes, qual outro equívoco nesta relação entre os jornalistas e as fontes está sendo cometido pela imprensa?

Chaparro: É quando a ética é sacrificada. Quando não há a ética como razão de ser das ações. Quando se assume que há um razão de ser das ações nas verdades éticas que a sociedade assume como verdades maiores, nós encontramos o caminho correto. É cada vez mais importante nós discutirmos, capacitarmos intelectualmente o profissional de comunicação para que ele seja um soldado da ética, um soldado inteligente da ética, que não é uma coisa inibidora, ao contrário. A ética estimula as escolhas, estimula as ações, fornece sentido as ações. Então, isto deveria ser extraordinariamente valorizada a ética no ensino do jornalismo e na comunicação de um modo em geral, nas diversas carreiras da comunicação.

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